Na Boca da Víbora...
Era terrível.
As portas não abriam. Alguém as trancara por fora lacrando-nos dentro com tábuas de madeira. O mesmo se dava com as janelas.
Meu corpo estava coberto pelo sangue do amigo Júnior que tentei socorrer enquanto golfadas de sangue pulsavam do seu pescoço.
A aflição era sem fim.
O fim de semana tranquilo em uma cabana de pesca do pai do Júnior se tornara puro horror. Matilde e Gilma haviam sido assassinadas.
Somente eu e a menina Vera, filha de oito anos de Gilma estávamos vivos ainda.
- Tio, dizia ela, vamos morrer?
Eu não sabia o que dizer. Que inimigo era aquele que apenas cortava as gargantas e não se mostrava?
A cabana era grande com duas escadarias internas para o andar de cima. Assim, nosso cruel perseguidor subia por uma batendo correntes no chão e um machado na parede. Corríamos, então para o lado contrário. Eu arrastava Vera que gritava.
- Por favor não grite! – Dizia-lhe, pois ela denunciava nossa posição.
Não havia jeito. Vez ou outra passávamos, obrigatoriamente, ou pelo corpo de Júnior, ou pelo de Matilde, que fora morta em um dos corredores. Gilma fora assassinada no banheiro e a poça de sangue escorria para fora.
Os celulares não pegavam ali e não havia nenhuma outra morada próxima. Meu fim e o de Vera seria certo.
Sabe a lenda de que quando um sapo percebe a proximidade da serpente e vê que sua fuga é inútil para de fugir, chora e entra voluntariamente na boca da víbora?
Eu estava a ponto de fazer o mesmo. Transpirando em bicas, não suportava mais aquele esconde-esconde. Sem armas, tendo apenas uma faca na mão, procurava manter-me longe do nosso perseguidor. Vera não parava de chorar. No auge do desespero, percebendo que ele estava na parte de cima, gritei:
- Por favor, pare! Só tem uma criança aqui. Vou subir. Deixe-a sair e pode fazer o que quiser comigo! – Vera gritou:
- Não, tio. Ele vai me matar também...
Nisso ela teria razão. Não havia garantia. – Mas eu precisava tentar algo, mesmo que fosse ganhar tempo.
- Vou subir pela escada da direita! Você desce pela da esquerda e libera a criança!
Postei-me com Vera no início da escada sob uma pálida luminosidade do luar que entrava pelas frestas possíveis das janelas bloqueadas. A sua figura corpulenta, envolta em um sobretudo de lã negra, tendo uma daquelas máscaras de meias na cabeça foi descendo enquanto batia o machado nas janelas arrastando aquela maldita corrente. Gelados, subíamos enquanto ele descia pela outra escada nos encarando. Se quisesse, em um átimo, poderia se lançar sobre nós e acabar com aquilo tudo, mas ele parecia se divertir com nosso sofrimento.
Nisso, ouvimos que um carro se aproximava. Pelas frestas, vi que era o ¨giroflex¨ das luzes de uma viatura. Vera e eu ficamos paralisados. Nosso algoz, como se temesse algo, correu subindo as escadarias. Corri para a porta e comecei a gritar como um louco. Do lado de fora ouvi, logo depois, que alguém tentava tirar as tábuas. Entre o pânico e a esperança, olhava para as escadas sem ver o nosso perseguidor. Vera chorava e soluçava agarrada às minhas pernas.
Assim que as madeiras foram retiradas, abrimos de uma vez a grande porta de folha dupla que rangeu. Ficamos ofuscados pelas luzes que batiam diretamente nos nossos olhos. Vimos a silhueta de um homem com chapéu que adentrou. Em pouco notamos que, apesar do uniforme de policial, também usava uma máscara de meia. Nisso ouvimos nosso perseguidor descer as escadas batendo o machado na parede e arrastando as correntes. Ajoelhei-me soltando a faca, já sem forças, e abracei-me à Vera em choro convulsivo. Não tentei ver nem ouvir mais nada. A única saída possível era sentir pouca dor, torcendo para que o bote da víbora me aniquilasse há um só golpe...
Gostou do Texto?
Leia mais contos como esse em nossos livros:
O Senhor do Medo... (Suspense/Terror)
O Morto Está... Vivo! (Terror/humor Negro!)
A Mulher de Atenas (Humor Negro)
Era terrível.
As portas não abriam. Alguém as trancara por fora lacrando-nos dentro com tábuas de madeira. O mesmo se dava com as janelas.
Meu corpo estava coberto pelo sangue do amigo Júnior que tentei socorrer enquanto golfadas de sangue pulsavam do seu pescoço.
A aflição era sem fim.
O fim de semana tranquilo em uma cabana de pesca do pai do Júnior se tornara puro horror. Matilde e Gilma haviam sido assassinadas.
Somente eu e a menina Vera, filha de oito anos de Gilma estávamos vivos ainda.
- Tio, dizia ela, vamos morrer?
Eu não sabia o que dizer. Que inimigo era aquele que apenas cortava as gargantas e não se mostrava?
A cabana era grande com duas escadarias internas para o andar de cima. Assim, nosso cruel perseguidor subia por uma batendo correntes no chão e um machado na parede. Corríamos, então para o lado contrário. Eu arrastava Vera que gritava.
- Por favor não grite! – Dizia-lhe, pois ela denunciava nossa posição.
Não havia jeito. Vez ou outra passávamos, obrigatoriamente, ou pelo corpo de Júnior, ou pelo de Matilde, que fora morta em um dos corredores. Gilma fora assassinada no banheiro e a poça de sangue escorria para fora.
Os celulares não pegavam ali e não havia nenhuma outra morada próxima. Meu fim e o de Vera seria certo.
Sabe a lenda de que quando um sapo percebe a proximidade da serpente e vê que sua fuga é inútil para de fugir, chora e entra voluntariamente na boca da víbora?
Eu estava a ponto de fazer o mesmo. Transpirando em bicas, não suportava mais aquele esconde-esconde. Sem armas, tendo apenas uma faca na mão, procurava manter-me longe do nosso perseguidor. Vera não parava de chorar. No auge do desespero, percebendo que ele estava na parte de cima, gritei:
- Por favor, pare! Só tem uma criança aqui. Vou subir. Deixe-a sair e pode fazer o que quiser comigo! – Vera gritou:
- Não, tio. Ele vai me matar também...
Nisso ela teria razão. Não havia garantia. – Mas eu precisava tentar algo, mesmo que fosse ganhar tempo.
- Vou subir pela escada da direita! Você desce pela da esquerda e libera a criança!
Postei-me com Vera no início da escada sob uma pálida luminosidade do luar que entrava pelas frestas possíveis das janelas bloqueadas. A sua figura corpulenta, envolta em um sobretudo de lã negra, tendo uma daquelas máscaras de meias na cabeça foi descendo enquanto batia o machado nas janelas arrastando aquela maldita corrente. Gelados, subíamos enquanto ele descia pela outra escada nos encarando. Se quisesse, em um átimo, poderia se lançar sobre nós e acabar com aquilo tudo, mas ele parecia se divertir com nosso sofrimento.
Nisso, ouvimos que um carro se aproximava. Pelas frestas, vi que era o ¨giroflex¨ das luzes de uma viatura. Vera e eu ficamos paralisados. Nosso algoz, como se temesse algo, correu subindo as escadarias. Corri para a porta e comecei a gritar como um louco. Do lado de fora ouvi, logo depois, que alguém tentava tirar as tábuas. Entre o pânico e a esperança, olhava para as escadas sem ver o nosso perseguidor. Vera chorava e soluçava agarrada às minhas pernas.
Assim que as madeiras foram retiradas, abrimos de uma vez a grande porta de folha dupla que rangeu. Ficamos ofuscados pelas luzes que batiam diretamente nos nossos olhos. Vimos a silhueta de um homem com chapéu que adentrou. Em pouco notamos que, apesar do uniforme de policial, também usava uma máscara de meia. Nisso ouvimos nosso perseguidor descer as escadas batendo o machado na parede e arrastando as correntes. Ajoelhei-me soltando a faca, já sem forças, e abracei-me à Vera em choro convulsivo. Não tentei ver nem ouvir mais nada. A única saída possível era sentir pouca dor, torcendo para que o bote da víbora me aniquilasse há um só golpe...
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