Artes e partes com o Capiroto

Ojeriza era pouco para definir o sentimento que Padre Lacir nutria pelos felinos. Tivera o rebanho de cabras e ovelhas praticamente dizimado por uma onça negra que muitos vizinhos de propriedade juravam ter visto em noites de lua cheia, mas que nenhum deles tinha a espingarda carregada no momento certo.

Artes e partes com o demônio, imprecava o já idoso cura do alto de seu púlpito, e silente e temerosa a audiência assentia, juntando-se nos votos para que aquela praga fosse eliminada da face da terra.

E justamente numa noite de Quaresma, à conclusão dos serviços à luz de velas e dos tocheiros, sem o auxílio do enfermiço sacristão - em cuja tosse profunda já chegava a escarrar sangue - na mais absoluta solidão, Padre Lacir foi fechando as portas e janelas de sua igreja.

Qual não foi seu asco ao ouvir um miado agudo, provindo do altar de Santa Maria Madalena, numa lateral da nave central. Vendo chisparem os olhos do felino, Padre Lacir muniu-se de um chicote, que praticamente só largava na elevação da consagração da hóstia santa, e partiu ameaçador para cima do intruso...

Apenas no dia seguinte as madrugadoras beatas depararam-se com o corpo inerte e uma garganta dilacerada...

Padre Lacir é que "havera" de ver aquela cena do capiroto... Mas que é de que ele chegava...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 11/02/2018
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