Nico Amâncio
Nossa ida a São José da Varginha - à época, chamada só de Varginha - deve ter acontecido em 57 ou 58. Papai, mamãe e os quatro ou cinco que éramos ainda então, diferentemente, como vês, deMaria José Dupré no seu Érmos seis.
Não mais que uma povoação, a Varginha com sua central pracinha, a igrejinha para o céu pontudinha, onde moravam tia Conceição, o marido Debrando, Maria e Zenrique. Singela a casinha, como singelo tudo mais que se via, menos a imponente e corrente bica d´água no quintal, à portinha da cozinha, e até ao pé, quietinha, uma gia, a bica tinha.
O dia nosso todo era de aventuras com o primo Zen, arteiro como ninguém. Falando alto, puxando a turma, levou-nos à torre da igreja para espantarmos os morcegos, que ele achava por demais dorminhocais...E agourentos daquele jeito, não agradavam ao Senhor.
Falava também no amigo Dorinato, no Budega, alvo de bullying de todos e parecia viver de férias permanentes, enquanto a mana Maria é que vivia sempre no batente.
E de aventuras, sobrou até para o papai que, estimulado a mostrar seus dotes de cavaleiro, ao dar uma boa esporeada, viu a vô pela greta quanto sua montaria, em plena pracinha, deu com ele uma empinada que a volta ao normal foi considerada vera graça alcançada. Aventura logo encerrada.
À noite é que a coisa pegava, com a contação de casos. Em volta da lamparina, Debrando , condoído da esteira de má sorte do primo Zé do Nato, falou em feitiçaria. E de seu velho autor, um tal de Nico Amâncio, invejoso e maldoso feito ele só.
E a prova cabal - pra nossa tremeção infernal - fora encontrada justamente no fundo da xícara do café que ele havia tomado: o pó preto residual formava a sua cara. E eu nem ousei dar uma espiada. Cria com fé redobrada.
Agora, quase que imploro por um cafezinho com o a cara do Moro...