JOGO DE AZAR
Moro na rua 6, vigésima avenida de Monte Velho, próximo de um galpão abandonado. Prefiro que não conte isso a ninguém, senão a polícia descobriria e ele com certeza mataria mais um. Não importa se vou começar do princípio, do meio ou do final, contarei apenas o necessário.
Pela quinta vez consecutiva tive de pedir para os vizinhos abaixarem o som, as obras haviam começado a mais de um mês e não podia aguentar aquela baderna um minuto sequer. Como de costume, abri o portão de casa e saí a rua, desci meia calçada na direção da casa ao lado e notei que não haviam trabalhadores na obra, o lugar estava fechado, meu relógio marcara oito horas da noite, e mesmo tendo visto que não havia ninguém na casa, percebi que o barulho continuava, mas não consegui descobrir de onde vinha. Portanto, saltei o muro da casa de nossos vizinhos e bisbilhotei a área, mas nada lá dentro poderia apontar de onde vinha o barulho e a cada som estalante de broca no chão minha cabeça latejava verossimilmente.
Corri até a rua e notei de sobressalto que as luzes do galpão velho estavam acesas, mas como poderia se desde que me mudei aquele lugar estava abandonado. Precavida como sempre, achei melhor verificar se realmente era de lá que vinha o barulho. Arrependo-me de ter acordado naquela noite, arrependo-me do amago da minha alma.
O portão do galpão estava aberto e uma serie de pegadas marcadas a tinta branca decoravam o chão. Sorrateiramente me esgueirei até a porta e pus meus olhos lá dentro, vi então uma marreta no chão ao lado de um ponteiro e quando visualizei os objetos, o som sumiu inesperadamente. Entrei no galpão de supetão, as luzes haviam apagado e também não parecia haver gente ali, convidei-me então a entrar no galpão em busca de resposta, mas antes que o fizesse, alguém fechou o porão, virei-me indiscretamente e havia um velho lacrando o portão com um cadeado, ele tinha um corpo esguio, media quase um metro e vinte centímetros e tinha pouco mais que vinte cabelos grisalhos nas têmporas. Perguntei a ele o motivo de estar fechando o portão, mas não me respondeu, ele pediu que entrasse no galpão, pois seu chefe estava me esperando.
Não sei porque, mas não consegui recusar. E ainda que fosse horrendamente repulsivo entrar naquele lugar, ainda mais com as luzes apagadas, tudo parecia ocorrer normalmente, como se realmente quisesse entrar naquele lugar.
Após entrar no galpão, uma lâmpada ascendeu acima de uma mesa, havia um homem sentado de costas, um homem alto, de palito amarronzado e de óculos escuros. O velho me deixou à frente da mesa e desapareceu na escuridão, como um criado que compadece as ordens de sem questionamentos. O homem alto e irreverente fez-me sentar em uma das cadeiras e sem me perguntar, pediu que jogasse um jogo com ele. Ele não disse do que se tratava, mas pós seis cartas sobre a mesa, e pediu que escolhesse uma, advertiu que não haveria como trocar a carta e que cada uma destas cartas resultaria num destino diferente.
Literalmente deveria estar possuída por algo, porque desde quando entrei naquele galpão alguma coisa parece estar me controlando. Olhei para ele inexpressiva e peguei a quarta carta vinda da esquerda. Virando-a o desenho de uma mão cortada segurando uma taça rachada. O homem alto gargalhou vendo que tinha tirado e tomou a carta da minha mão — Você está marcada, o cálice da sede simboliza prisão e o desespero, mas não a você é claro... esta carta lhe obriga a me obedecer por cento e quarenta e nove anos, e durante este tempo toda sua família, seus descendentes, parentes próximos ou longínquos estarão fadados a sua escolha, e até que seja cumprido sua pena, não poderá deixar este local, senão a morte cobrara uma vida de alguém que ame.
Faz dez anos que vejo meu filho do alto da janela do galpão, ele cresceu sem uma mãe, vejo sua tristeza cada dia que chega em casa. Rezo para que um dia isso acabe...
Pela quinta vez consecutiva tive de pedir para os vizinhos abaixarem o som, as obras haviam começado a mais de um mês e não podia aguentar aquela baderna um minuto sequer. Como de costume, abri o portão de casa e saí a rua, desci meia calçada na direção da casa ao lado e notei que não haviam trabalhadores na obra, o lugar estava fechado, meu relógio marcara oito horas da noite, e mesmo tendo visto que não havia ninguém na casa, percebi que o barulho continuava, mas não consegui descobrir de onde vinha. Portanto, saltei o muro da casa de nossos vizinhos e bisbilhotei a área, mas nada lá dentro poderia apontar de onde vinha o barulho e a cada som estalante de broca no chão minha cabeça latejava verossimilmente.
Corri até a rua e notei de sobressalto que as luzes do galpão velho estavam acesas, mas como poderia se desde que me mudei aquele lugar estava abandonado. Precavida como sempre, achei melhor verificar se realmente era de lá que vinha o barulho. Arrependo-me de ter acordado naquela noite, arrependo-me do amago da minha alma.
O portão do galpão estava aberto e uma serie de pegadas marcadas a tinta branca decoravam o chão. Sorrateiramente me esgueirei até a porta e pus meus olhos lá dentro, vi então uma marreta no chão ao lado de um ponteiro e quando visualizei os objetos, o som sumiu inesperadamente. Entrei no galpão de supetão, as luzes haviam apagado e também não parecia haver gente ali, convidei-me então a entrar no galpão em busca de resposta, mas antes que o fizesse, alguém fechou o porão, virei-me indiscretamente e havia um velho lacrando o portão com um cadeado, ele tinha um corpo esguio, media quase um metro e vinte centímetros e tinha pouco mais que vinte cabelos grisalhos nas têmporas. Perguntei a ele o motivo de estar fechando o portão, mas não me respondeu, ele pediu que entrasse no galpão, pois seu chefe estava me esperando.
Não sei porque, mas não consegui recusar. E ainda que fosse horrendamente repulsivo entrar naquele lugar, ainda mais com as luzes apagadas, tudo parecia ocorrer normalmente, como se realmente quisesse entrar naquele lugar.
Após entrar no galpão, uma lâmpada ascendeu acima de uma mesa, havia um homem sentado de costas, um homem alto, de palito amarronzado e de óculos escuros. O velho me deixou à frente da mesa e desapareceu na escuridão, como um criado que compadece as ordens de sem questionamentos. O homem alto e irreverente fez-me sentar em uma das cadeiras e sem me perguntar, pediu que jogasse um jogo com ele. Ele não disse do que se tratava, mas pós seis cartas sobre a mesa, e pediu que escolhesse uma, advertiu que não haveria como trocar a carta e que cada uma destas cartas resultaria num destino diferente.
Literalmente deveria estar possuída por algo, porque desde quando entrei naquele galpão alguma coisa parece estar me controlando. Olhei para ele inexpressiva e peguei a quarta carta vinda da esquerda. Virando-a o desenho de uma mão cortada segurando uma taça rachada. O homem alto gargalhou vendo que tinha tirado e tomou a carta da minha mão — Você está marcada, o cálice da sede simboliza prisão e o desespero, mas não a você é claro... esta carta lhe obriga a me obedecer por cento e quarenta e nove anos, e durante este tempo toda sua família, seus descendentes, parentes próximos ou longínquos estarão fadados a sua escolha, e até que seja cumprido sua pena, não poderá deixar este local, senão a morte cobrara uma vida de alguém que ame.
Faz dez anos que vejo meu filho do alto da janela do galpão, ele cresceu sem uma mãe, vejo sua tristeza cada dia que chega em casa. Rezo para que um dia isso acabe...