GRITE


O terror que passei naquele parque abandonado nunca me saíra da memória. O sangue deles sobre os brinquedos, sobre o chão, sobre mim. Aquelas coisas estranhas estavam se arrastando de debaixo da lona atrás do carrossel, eram criaturas medonhas de menos cinquenta centímetros, não tinha olhos, somente uma boca deformada cheia de dentes pontiagudos e um nariz cavo no rosto. Rodrigo achou que fossem brinquedos, ele pegou um deles na mão e aquilo arrancou seu braço. Ainda ouço ele gritando enquanto os outros se amontoavam sobre ele. Deixaram apenas os ossos brancos, sem carne alguma. Vomitei talvez uma centena de vezes vendo aquilo. Aquela cena indescritível.
Tentamos correr para fora do parque, mas havia uma coisa no portão, um homem alto de no mínimo três metros, gordo, usando uma roupa preta. Quando virou-se na nossa direção, vi que seu maxilar havia sido arrancado. Lucas não conseguiu se mover de pânico e foi pego por aquela coisa. O grande portão negro estava fechado a todo circo era rodeado por um muro de seis metros com arames farpados e lanças.
Éramos três até aquele momento, três mulheres morrendo de medo. Voltamos para próximo do carrossel e sem que aquelas coisas nos notassem, chegamos ao pátio principal, as barras de doces estavam acesas, cobertas de sangue e nacos de carne. Haviam cadáveres pendurados em cordas e diversas facas no chão. Tentávamos nos esconder ao entorno das barracas, Tatiane tremia de medo, estava segurando sua mão quando algo começou a puxa-la, ela gritou para não a largar e quando virei o rosto na direção das suas pernas, havia um rosto de um palhaço, não parecia ser um rosto maligno, pelo contrário passou uma sensação boa, mas aquilo a puxava para o escuro e mesmo que tentasse segura-la o mais forte possível, acabei deixando-o a levar para o escuro. Não ouvimos mais seus gritos quando um estalo forte e ruidoso ecoou das sombras.
Karen e eu corremos, corremos o mais rápido que podíamos, sem olharmos para trás. Eu só havia desviado o olhar dela por um segundo e um segundo foi o suficiente para desaparecer. Logo percebi que estava sozinha. E alguma coisa estava vindo em minha direção, algo mais alto que o homem gordo que vimos no portão, extremamente alto, a cada passo um estrondo. Não havia saída, por mais que tentasse fugir, coisas esgueiravam-se da escuridão me cercando e dando caminho a coisa que vinha até mim. Uma mão saiu da escuridão, uma mão vermelha, cheia de rachaduras, com unhas em cor vinho-sangue... não pude parar de gritar, até que aquilo me levasse para o escuro.
Estamos fadados agora, presos eternamente a este lugar, escravos da insanidade do parque. Tento me convencer que ainda estou viva, mas sempre que outros chegam, tenho que faze-los gritar.
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 25/01/2018
Reeditado em 28/01/2018
Código do texto: T6235926
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