FEBRE AMARELA
Já estão gravando. Pode começar Clara, diga-nos o que aconteceu. — Eu não consigo. Não precisa ter medo, só queremos entender o que aconteceu. — Eles vieram de repente. Por favor Clara, tente não chorar, todo o país esta te vendo agora. — Meu pai tinha chegado na quarta as seis, estava diferente, queixava-se que sua pele estava ardendo. No outro dia encontramos meu pai na cama, ele não se mexia, sua pele estava amarelada e muito fria, eu sabia que estava morto, não sentia o pulso, então ele levantou da cama, com a orbita dos olhos totalmente amarelos. Mamãe ficou feliz, tentou chamar um médico, ela não viu papai se aproximando, então ele a derrubou e começou a rasgar sua garganta com os dentes. Eu fugi de casa, as ruas estavam desertas, tentei procurar meus vizinhos, mas ninguém respondeu, então ouvi um barulho de tiro, um homem corria em minha direção, parecia ser Zé Nilson, o açougueiro, observei-o correr até próximo de um carro quando uma multidão surgiu, arrastando-se, o perseguindo, notei que eles também tinham a pele amarela. Zé Nilson não aguentou correr por muito tempo e por mais perto que parecia ser de onde estava, não conseguiu chegar até mim, eles o pegaram antes, pareciam zumbis, o devoraram na minha frente, fiquei escondida o dia inteiro até me encontrarem. Clara, sabe que é difícil acreditarmos nisso, zumbis... precisamos da verdade, porque as pessoas da sua cidade desapareceram.