DEBAIXO DA CAMA
 

   O que posso dizer... que meu relato é uma mentira ou encenação, que estou aqui contigo neste consultório austero para lhe impressionar com palavras abstratas. Não. Houve realmente um assassinato. A causa do obito pode ter sido por suicídio, mas meu irmão não se suicidou. Eu fico triste e muito abalado por não ter acreditado nele antes que ocorresse. Agora que compreendo, sinto aquilo em todos os cômodos da casa, como uma mancha mórbida, e principalmente debaixo da cama é como sentir uma aranha andando por cima da sua pele. Ele me observa enquanto estou dormindo, da mesma forma que fazia com meu irmão.

   As primeiras atividades incomuns surgiram em meados de fevereiro, quando nos mudamos. Logo na primeira noite aquilo começou a atordoa-lo, encontrei ele acordado a noite, arranhando a parede com os dedos, dizia que aquilo queria que entrasse na parede, que outras coisas estavam chegando. Achei a princípio que fosse um pesadelo. Eduardo nunca tinha manifestado um sonambulismo antes, e eu também não estava preparado para lidar com aquilo. Após leva-lo para seu quarto, notei uma marca estranha esgueirando-se para debaixo da cama, um risco uniforme, como se algo afiado houvesse feito aquilo.

   Duas semanas se passaram e Eduardo estava estranho, suas olheiras haviam escurecido a ponto de ficarem horrivelmente cavas. Tentei leva-lo a um médico, mas ele se recusou, e com mais uma semana passou a conversar sozinho com algo que dizia ser a coisa baixo de sua cama. Tendo passado cerca de um mês na casa comecei a perceber vultos estranhos, coisas que desapareciam e reapareciam em outros lugares, desenhos diabólicos nas paredes e sempre que chegava em casa Eduardo estava conversando com aquilo, numa língua que não conseguia entender e temo que não seja deste mundo. A coisa que ele conversava tomava uma forma grotesca, um ser esguio e deformado que se escondia na sua sombra. No dia seguinte, Eduardo me procurou dizendo que aquilo precisava de um sacrifico, e não era de hoje que ele estava com várias marcas nos braços, como arranhões e cortes profundos. Dois dias depois ele apareceu morto, mas ele não se matou, tenho certeza disso, foi aquilo. Sei que ele está me perseguido agora e mesmo que não volte para casa, aquilo está me perseguindo.
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 18/01/2018
Reeditado em 23/01/2018
Código do texto: T6229465
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