O elevador

Jorge Barcelos estava atrasado para o trabalho. Economista-chefe de um tradicional banco brasileiro, mal tinha tempo para tomar seu café da manhã. Estava vendo suas mensagens no celular quando o elevador chegou ao seu andar, o sétimo. Entrou no elevador apressadamente e, antes que ele apertasse o botão do térreo, o elevador começou a cair inexplicavelmente. Em questão de segundos, o ascensor parou. Jorge abriu a porta do elevador e se assustou. Não viu um andar, viu um cemitério a sua frente, o cemitério em que tinha sido enterrado sua estimada mãe. Num primeiro momento, duvidou que fosse verdade o que estava vendo. ― Estou sonhando. ― Pensou o jovem economista, de apenas 27 anos, querendo explicar o inexplicável. Se beliscou para ver se acordava do sonho ou melhor, do pesadelo. Não acordou. Resolveu, então, ir ao túmulo de sua mãe. Após alguns minutos de caminhada, que pareceram uma eternidade, chegou, afinal, à sepultura de dona Florinda. Olhou a lápide de mármore branco e leu o epitáfio: “Aqui jaz uma mulher de valor que lutou pelo que acreditava até o último dia de sua vida.” Jorge Barcelos ficou comovido e foi às lágrimas de saudade. Lembrou-se que o dia mais feliz de sua mãe também foi o seu último: o dia da formatura de Jorge na faculdade de economia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Ela estava radiante, apesar de seu único filho não ter seguido sua carreira no Direito. Juíza de direito, Florinda Barcelos sempre julgava os casos com uma sabedoria salomônica. Gostava muito da frase dita por Jesus Cristo: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Florinda morreu sorrindo, justo no exato momento em que seu filho, Jorge, recebeu o canudo com o diploma. A alegria de Jorge, então, virou uma enorme tristeza, tristeza que o acompanharia durante toda sua vida na forma de uma depressão ioiô, que ia e voltava. Mas de repente, as lembranças se esvaneceram e deram lugar ao agora e o agora era escuro como breu. O economista sentiu-se caindo, caindo e pouco antes de o elevador, onde Jorge estava, colidir com o chão, viu sua mãe, em forma espectral, acenando-lhe com a mão direita e com um sorriso de felicidade, dizendo: “ainda não, meu filho. Ainda não”. Jorge acordou suando frio e com taquicardia, num quarto de hospital. A enfermeira, que tirava sua pressão, tentou acalmá-lo lhe dizendo que estava tudo bem e que, em breve, ele receberia alta. Mas espere. Algo inesperado acontece. O quarto de hospital e a enfermeira dão lugar ao cemitério onde a mãe de Jorge foi enterrada e ele se vê novamente diante do túmulo dela, mas agora ele nota outra sepultura do lado da dela e, por impulso, lê o epitáfio na lápide em mármore negro: “Aqui jaz um economista que não chegou a exercer a profissão, mas foi um homem extremamente íntegro e um grande filho: Jorge Barcelos, vítima de um rompimento de aneurisma tal qual sua mãe, a juíza Florinda Barcelos”.

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 26/12/2017
Código do texto: T6208605
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