Segredos do pântano-a saga continua tenebrosa-Parte IV

Vampirella não estava sozinha,a sanguinolenta e sensual personagem das sagas de histórias em quadrinhos de terror,criação de Forrest J. Ackeman, em 1969. o Brasil tinha Mirza, a mulher vampiro, de 1967. O terror nacional nos quadrinhos mostrava que a beleza e a sedução eram armas perigosas e letais,quanto sinistras.

-Eu adoro as suas revistas de quadrinhos de terror...

-Quais?-perguntou-lhe,enquanto fazia a limpeza das armas para o próximo assalto.E,pensava,mau intencionado: " deixarei as suas armas sem as balas,quem sabe numa troca de tiros os seguranças a matem,e poderei ficar com o dinheiro sozinho."Ele lhe respondeu assim,num tom de declaração poética,com a voz embargada revelando profunda admiração pela figura sinistra das macabras revistas de quadrinhos de terror:

-Mirela Zamanova a sétima filha(um número cabalístico) de um nobre polonês amaldiçoado. Sofreu uma tentativa de estupro pelo namorado da irmã.A maldição familiar diabólica a transformou em uma vampira. Passou a se auto dominar-se por Mirza.Viaja pelo mundo. Confronta-se com outros seres sobrenaturais,onde sempre acontecem disputas com sangue e morte. Sendo muito bela,por onde passa torna-se modelo profissional. Tem um criado corcunda,o asqueroso Brooks. Nos conflitos sempre utiliza-se do seu charme,a sua beleza, e o seu poder de sedução para a derrota do inimigo e poder sugar o seu sangue,ou executá-lo.

-Eu me identifico muito com ela,além,é claro das bruxas-as que fazem feitiços e voam em vassouras.

Lembrou-se desse diálogo,em busca de despertar em si,uma fortaleza interior.Estava ficando exausta.Sentindo-se vencida.

-Não posso acreditar que estou livre daquele traste,com mais de quatro malotes empanturrados de dólares,e prestes a morrer por aqui..num pântano asqueroso,inundado de lama e infectado por jacarés famintos.Queria ter um Brooks,comigo para que pudesse me auxiliar.

Assustou-se quando ouviu os arbustos mexerem-se por entre os juncos do pântano,e soar uma voz:

-Boa-noite,madame.Seria uma grande coincidência,ou eu ouvi que pronunciou o meu nome?E precisa de ajuda,poderei ter a solução...

O Brooks,o fiel escudeiro de Vampirela das revistas de quadrinhos de terror,por onde Vampirela desfilou em macabras histórias de terror era corcunda,baixinho.Careca,e tinha uma cabeça de proporções descabidas.Falava pouco,e pouco aparecia.Surgia de repente, quando Vampirela estava em perigo e a socorria golpeando,matando o seu oponente de forma covarde,por trás.Vampirela sempre agradecia:

-Obrigado,Brooks. Sem a sua ajuda não sei o que aconteceria comigo,meu fiel escudeiro...

-Conheço bem o pântano.Poderei guiá-la para fora daqui.

Ela o olhou com uma estoica expressão, de paciência travada revelando- uma postura digna de uma Kalon Kakon(segundo o poeta grego,Hesíoto,do século 7,talvez, 8,os seus trabalhos eram consultados e lidos pelos gregos,como um tratado científico-social e religioso,a mulher Kalon Kakon era uma coisa nitidamente perversa e bela).

-A minha beleza é semelhante a de Helena de Troia.Posso levar um homem para os maiores prazeres do sexo e para a morte.O homem que eu trouxe para o pântano...

-Morreu?

-Sim.

-O matou usando essas armas que leva nas mãos?

-Alguns jacarés o devoraram. -Disse assim se comparando com a filha de Zeus e de Leda.Que foi casada com o rei de Esparta,Menelau.O mesmo que fugiu com Paris desencadeando a Guerra de Troia-que durou mais ou menos 10 anos-com citação no poema épico Ilíada,de Homero.

-Conheço um pouco da Grécia antiga,apesar de ter sido um fanático por histórias em quadrinhos...

-Odeio os "super -bostas" da vida-ela lhe respondeu,de forma seca,desmerecendo-no.Ele deu a sua retórica assim:

-Um homem perfeito,um grego tinha que ter torso bem desenhado.Lábios grossos,queixo proeminente.Braços musculosos...

falava se exibindo.Ela o olhava,com fúria e desprezo.Ele lhe estendia os braços.Mostrava a musculatura.

-Pernas bem torneadas,musculosas.Um abdomêm reto,dividido por músculos-um exemplo para os deuses...Sou um belo Kaloskathos( um grego bonito de se ver,e boa pessoa).Mas,não sou boa pessoa...

Ela não lhe deixou muito espaço,e tudo fez para desmerecê-lo:

-Um ateniense ou um espartano...de pênis pequeno-este era o culto ao homem ideal pelos gregos(rindo).

E completou,assim,rindo,com as mãos nas cinturas,de olhar desafiador:

-As mulheres na antiga Grécia eram perversas... por que eram belas...

e belas por que eram perversas.Na idade média as ruivas eram consideradas bruxas,então optei em ter os cabelos ruivos.

Naquele ponto as águas eram menos profundas,mas não deixavam de serem escuras,barrentas.O largo arvoredo se desenhava,com galhos e troncos que exibiam raízes,de aspecto sinistro.Uma grande cobra desenvolvia um bailhado ritmado por sobre um ponto das águas.Um cadáver desfilou boiando.Ela o olhou,com surpresa.Talvez fosse alguém do seu contato íntimo.Ele a acalmou:

-Seria o seu companheiro? Acho que não foi totalmente devorado pelos jacarés.Talvez,não seja ele.É muito comum de se vê corpos boiando por aqui...Alguns trazem cartuchos no corpo,outros profundos cortes,ou pancadas.Talvez,bêbados,ou os que sofrem uma overdose,após o uso exagerado de drogas..

-Ou devorados pelos jacarés famintos.

Ela lhe respondeu,enquanto acendia um cigarro tirado de uma carteira que trazia num dos bolsos.Acendeu-o com um isqueiro.

-Queria ser uma bruxa.Não deu certo.Em determinado tempo tentei ser professora.Os baixos salários.Então virei uma bandida.E o que acontece?Venho parar na porcaria de um pântano perigoso, onde cadáveres passam boiando na lama ...e....e... perdida com alguns malotes cheios de...de...(em silêncio o olhou,com desconfiança).

-Dinheiro?( ele disse-lhe,em seco,sorrindo).

-É,dinheiro roubado( falou assim lhe apontando as duas pistolas.Tremia).

-Interessante.Pensava até em lhe perguntar se trabalhava numa empresa de câmbio,ou quem sabe num banco e perseguiu os assaltantes e recuperou o dinheiro do rico patrão.Dólares?

-Não sou uma qualquer.Trabalho para mim,mesmo.Os salários nesse país é uma merda.Hoje tudo está mais fácil.O povo anda desarmado,até em casa.O governo nos facilitou o serviço.Podemos roubar e matar sem correr riscos...

-Falando em merda,lembrei-me de sua observação.Não lia os quadrinhos dos "Super-Bostas" da vida.Eu adorava quadrinhos de terror.Eu lia kalafrio,Mestres do Terror,Medo,Assombração...Essas revistas amedrontadoras.O que mais me agradava era, que no final o personagem principal,o herói, sempre se dava mal,morria nas mãos de zumbis,fantasmas,psicopatas-essas coisas...Gosto de finais tristes para os personagens.Odeio os contos de fadas,onde o final é sempre agradável para o personagem principal,com aquela frase ridícula na última página:"viveram felizes para sempre."

Ela nada lhe respondeu.Tragava a fumaça do cigarro,como se buscasse em mais de 3600 substâncias tóxicas, o alívio para uma possível morte desenhada num cenário de croqui imediato,de rápida arte final nas mãos de um artista, de quadrinhos tenebrosos,feito Eugênio Colonnese,ou quem sabe, Leônidas Grego,um autor de contos de horror. Eugênio Colonnese, um artista que soube como ninguém rabiscar a morte,o sombrio e o sensual de forma magistral nas formas de uma mulher,como era descrita com habilidade por entre os gregos na poesia, no teatro de arena,quando o assunto era a beleza,a sedução e a tragédia.

"As mulheres eram perversas por que eram belas,e belas por que eram perversas."

Soava assim, em sua mente,de forma insistente a frase dita por ela,tornando-se num volume considerável em sua psicosfera( o ambiente psíquico invisível, que nos rodeia e é enriquecido,de acordo com as energias dos nossos pensamentos,falas,ações).

LG

(continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 22/12/2017
Reeditado em 03/01/2018
Código do texto: T6205281
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