Boa noite, Cinderela!
É baile lá no clube em Guapiara, SP.
É noite e as luzes piscam e as moças dançam na pista e os caras com copos de bebidas na mão.
Em um canto do clube, perto de uma coluna, tem uma moça quieta. Uma morena que usa uma gargantilha de renda. Ela está parada. Mas é linda. Mais do que linda, é uma moça sexy. Mas tem olhos tristes.
Está quieta, não dança, não conversa e nem paquera.
O que há com ela?
Triste? Logo no baile? Uma moça linda dessas?
Ela segura um copo de bebida e olha com tristeza para as garotas dançando na pista.
O que pensa?
O que há?
Aproxima-se João Vitor, um cara de 35 anos.
É um cara charmoso e sarado.
Chega com um copo de bebida.
— Beba um gole, gatinha! Garanto que a noite não será mais a mesma para você.
Ela sorri, acha engraçado. Ela repete:
— A noite não será mais a mesma?
— Você vai ver um arco íris dentro desse clube, te juro. E quando o sol raiar lá fora, vão te achar dançando e você não vai querer ir embora. Acredite, gatinha! Essa bebidinha tem mais festa do que um baile inteiro.
— Eu já tenho minha bebida – responde, educadamente, mostrando o copo em sua mão.
— Não sei o que você está bebendo, gatinha; mas, acredite: isso aqui não tem comparação com nada do que você já bebeu. Vai por mim, experimenta!
A moça pega o copo da mão de João Vitor e bebe um gole.
— Hummm, você tem toda a razão – e bebe outro gole.
— Não te disse?
A moça faz uma cara azedinha.
— É um pouquinho forte. Queimou a minha garganta agora.
— Você agüenta – responde João Vitor e pega o copo de volta.
— Por que você também não experimenta da minha? Talvez você goste.
João Vitor bebe um gole da bebida da moça.
— O que seria isso? Martini?
— Sim, eu só bebo Martini. Sou fraca para bebida.
— Tudo bem. Me diz uma coisa, você está sozinha?
— Estou. Eu sou solteira.
— Devo dizer que você é gata mais linda que eu já vi – diz João Vitor.
— Por favor, você vai ter que usar mais do que um xaveco barato se quiser alguma coisa comigo.
Então João Vítor convida-a para dançar dizendo que naquele clube não há melhor dançarino que ele.
E eles dançam e conversam.
João Vitor arranca um beijo da moça.
E se beijam e depois dançam. A bebida sobe e a moça pergunta:
— Estou morando sozinha, não quer vir na minha casa?
Claro que João Vitor aceita e entra no carro da moça.
— Engraçado, parece que estou bêbado – diz o rapaz e desmaia no banco do passageiro.
Após sair da cidade e pegar a rodovia Sebastião Ferraz de Camargo, a moça tira a peruca de cabelos pretos, arranca a gargantilha e pega o celular da bolsa.
— Consegui um homem. Pode ser que o fígado não dê para aproveitar. Ele me parece que é um bom bebedor de uísque. Contudo, ele tem um bom físico e me disse que faz musculação quatro vezes por semana. Estarei em São Paulo daqui três horas. Chame todos.
Três horas depois...
No porão da ala B do edifício de Medicina da USP, os quatro alunos colocam João Vitor, já nu, em cima da mesa de aço inoxidável.
O relógio marca cinco e meia da manhã de um domingo.
A moça sexy olha para os instrumentos e divaga:
— Estive pensando, acho pouco cobrar quinhentos mil reais por um par de rins. Qualquer velho milionário daria toda a sua fortuna para não ter que fazer hemodiálise. Estamos cobrando pouco...
— Ih, acho que ele está acordando – comenta um dos alunos.
— Ai minha cabeça – resmunga João Vitor.
Um dos estudantes espeta uma agulha na veia e empurra o êmbolo da seringa e anestesia o corpo a ser dissecado.