01 de Janeiro de 1902
Caro Wilson,
As noites passam calmas, sinuosas, numa decadência de melancolia e medo. Penso e deduzo, que as estrelas aos quais olho a noite e que tenho certeza que me observam, riem de minhas sutis fraquezas terrenas. Choro em frente a sua lapide, envolto de outros mil sepulcros que me rodeiam. Percebo que a vida é leiga. Não acha? Sem proposito, indistinta. Oro, pelo dia em que as luas que nascem na fronteira do mundo, acolham-me de bom grado. Enquanto caminho pelas vastas cidades dos homens, fechadas, inexpressivamente feias e pálidas, tento encontrar uma saída para a luz, mas quando olho para o céu esfumaçado, o que vejo são sombras, deformadas, fantasmas eternos do sol, repelidos por altos paredões de vidro e pedra. Foram os dias, em que a luz brandia o mundo, consolando-o. Mas estes tempos passaram. A dor e a podridão da ignorância e do desprezo corroí os corações dos homens, e embora saibam de sua natura repulsiva, não se incomodam, pelo contrário, multiplicam sua voz desprestigiada, para que alcancem as gerações futuras. Guerras imundas, cheias de ódio e rancor, sitiam a humanidade. O pavor das eras cresce, desde o berço. Enquanto curvado na sua lapide, fustigado pelas lagrimas frias que me acometeram, escorrendo por meu rosto lívido, tento balbuciar verdades indiscretas nesta carta, peço que me desculpe, se estou sendo, um tanto verdadeiro, mas acredito, que tenhais de saber. O horrendo pesadelo ainda continua. Nunca me esquecerei daquela noite, ao qual não consigo me expressar. Não são palavras que aliviaram meus sonhos infortúnios, ou minhas preces infundadas, mas tenho fé, era isso que me pedira, lembra? Assisto de longe, enquanto hasteiam a bandeira do terror. Por hora, acredito que a velha morada, aonde todos descasaremos, está preparada e aguarda nosso retorno. Viemos a este mundo, para sermos a luz e a esperança. Mas, corrompidos, pela lei de outros, submergimos, num oceano de escuridão torrencial. Outrora, quando o vento jazia sobre os campos, e a aurora pairava cintilante sobre os anais da vida e os pastos verdejantes e belos, a história podia ser contada de forma mais agradável. Neste tempo, inominável, ao qual de longe recordamos, o ser humano ainda não existira, nem pensara em nascer. Expresso minhas condolências ao morto, pois, fantástico é o mundo aonde estais, liberto das grotescas correntes das quais estamos presos, mofando na merda do destino, mamando no seio da peste. Vivo por enquanto, mas acredito, que logo estarei contigo, logo... logo...
Caro Wilson,
As noites passam calmas, sinuosas, numa decadência de melancolia e medo. Penso e deduzo, que as estrelas aos quais olho a noite e que tenho certeza que me observam, riem de minhas sutis fraquezas terrenas. Choro em frente a sua lapide, envolto de outros mil sepulcros que me rodeiam. Percebo que a vida é leiga. Não acha? Sem proposito, indistinta. Oro, pelo dia em que as luas que nascem na fronteira do mundo, acolham-me de bom grado. Enquanto caminho pelas vastas cidades dos homens, fechadas, inexpressivamente feias e pálidas, tento encontrar uma saída para a luz, mas quando olho para o céu esfumaçado, o que vejo são sombras, deformadas, fantasmas eternos do sol, repelidos por altos paredões de vidro e pedra. Foram os dias, em que a luz brandia o mundo, consolando-o. Mas estes tempos passaram. A dor e a podridão da ignorância e do desprezo corroí os corações dos homens, e embora saibam de sua natura repulsiva, não se incomodam, pelo contrário, multiplicam sua voz desprestigiada, para que alcancem as gerações futuras. Guerras imundas, cheias de ódio e rancor, sitiam a humanidade. O pavor das eras cresce, desde o berço. Enquanto curvado na sua lapide, fustigado pelas lagrimas frias que me acometeram, escorrendo por meu rosto lívido, tento balbuciar verdades indiscretas nesta carta, peço que me desculpe, se estou sendo, um tanto verdadeiro, mas acredito, que tenhais de saber. O horrendo pesadelo ainda continua. Nunca me esquecerei daquela noite, ao qual não consigo me expressar. Não são palavras que aliviaram meus sonhos infortúnios, ou minhas preces infundadas, mas tenho fé, era isso que me pedira, lembra? Assisto de longe, enquanto hasteiam a bandeira do terror. Por hora, acredito que a velha morada, aonde todos descasaremos, está preparada e aguarda nosso retorno. Viemos a este mundo, para sermos a luz e a esperança. Mas, corrompidos, pela lei de outros, submergimos, num oceano de escuridão torrencial. Outrora, quando o vento jazia sobre os campos, e a aurora pairava cintilante sobre os anais da vida e os pastos verdejantes e belos, a história podia ser contada de forma mais agradável. Neste tempo, inominável, ao qual de longe recordamos, o ser humano ainda não existira, nem pensara em nascer. Expresso minhas condolências ao morto, pois, fantástico é o mundo aonde estais, liberto das grotescas correntes das quais estamos presos, mofando na merda do destino, mamando no seio da peste. Vivo por enquanto, mas acredito, que logo estarei contigo, logo... logo...