O MONSTRO DO CEMITÉRIO

O MONSTRO DO CEMITÉRIO

by: Johnathan King

O brilho da lua cheia no céu vazio de estrelas iluminava o antigo cemitério, projetando sombras fantasmagóricas nos túmulos decrépitos. Os galhos das árvores que rodeavam o muro do lugar balançavam de um lado para o outro de uma maneira estranha, levados por um vento frio, formando vultos que lembravam uma procissão de almas penadas por entre as ruas do cemitério.

Lá no fundo do cemitério, próximo do muro que dava para uma imensa floresta do lado de fora, uma criatura saltou para dentro do local, e ficou andando furtivamente por entre os túmulos, farejando o cheiro dos mortos. Na entrada do local e protegido por uma parede de madeira, o vigia do cemitério olhava para aquela criatura infernal, e seus olhos estavam paralisados de horror. Ele estava na entrada do lugar, numa espécie de guarita observando os movimentos do estranho visitante.

Mesmo distante, sua visão daquele monstro era perfeitamente nítida. A coisa estava agaichada perto de uma sepultura cavando a terra, suas mãos eram enormes e esqueléticas, e possuía garras igualmente enormes que lembravam uma foice. Seu corpo era de uma magreza extrema e a tonalidade da pele era de um branco pálido, quase beirando a transparência.

O homem olhava para aquela aberração da natureza sem entender o que de fato era aquilo. Mas de uma coisa ele tinha certeza, não era nesse mundo. O monstro arrancou o cadáver da sepultura e começou a se alimentar do corpo do morto, tirando pedaços consideráveis com sua bocarra cheia de dentes longos e afiados, que mal cabiam naquela boca grotesca. O vigia levou umas das mãos a sua boca e fez menção de vomitar, se agaichando atrás da parede que o mantinha protegido da visão do monstro.

Lá no fundo do cemitério, a criatura continuava seu banquete maldito, arrancando as entranhas do morto e espalhando pelo chão ao seu redor. De repente, ela parou de se alimentar e ficou imóvel, mirando a entrada do cemitério com seus pequenos olhos negros, duas bolas de gude que se moviam de um lado para o outro num ritmo frenético.

O vigia do lugar levou as duas mãos ao coração, temendo ter sido visto pelo bicho e ser o próximo a servir de alimento pro monstro. Ele olhou para dentro da guarita e mirou numa espingarda que se achava em pé ao lado da porta. O homem foi caminhando lentamente para dentro do lugar, quase se arrastando, sempre mantendo os olhos na criatura, vigilante.

A coisa começou a andar também, num ritmo igualmente lento e sempre cheirando o ar, como se tivesse farejando o cheiro da vítima, o cheio do medo. O vigia conseguiu alcançar a arma e voltou sua atenção para onde a criatura se encontrava, mas para sua surpresa e espanto o monstro havia sumido. O pânico tomou conta dele, que não conseguia esconder sua aflição e medo, suas pernas tremiam igual vara verde e os dedos das mãos mal conseguiam segurar a espingarda.

Ele olhava para todas as direções dentro daquele cemitério, mirava em todos os túmulos a procura da fera demoníaca, mas não encontrava a mesma em lugar nenhum. Ao mesmo tempo em que estava sentindo medo, o pobre homem também sentia um grande alívio por ter se livrado daquela coisa maldita. Mas para sua infeliz surpresa, o monstro estava em cima da guarita, agaichado no talhado só observando-o. Quando se deu conta do perigo, já era tarde. A coisa saltou sobre ele como um caçador prestes a abater a presa, rápido e certeiro. A espingarda caiu de suas mãos diante do choque do corpo da criatura contra o seu, e também do susto do ataque surpresa.

O vigia num momento de lucidez resolveu brigar por sua vida, e mesmo não totalmente refeito do susto ele agarrou os dois braços do monstro e os levou para junto do pescoço da besta e começou a apertar com toda sua força, tentando manter a boca recheada de dentes mortais longe de sua carne. A criatura se debatia, tentando alcançar o pescoço do homem, enquanto mordia o ar, trincando os dentes num abrir e fechar de bocas alucinado.

Ao mesmo tempo em que tentava manter o monstro imobilizado com uma das mãos, o vigia tentava com a outra alcançar a espingarda, que estava caída poucos centímetros dele. Seus olhos trabalhavam num ritmo alucinante, mirando o monstro e a arma alternadamente, sempre vigilante. Suas forças já estavam se esvaindo, mas ele permanecia firme, pois sua vida dependia de uma simples braçada, e ele pegou a arma finalmente.

Num lance rápido e preciso, o vigia mirou o cano da espingarda na direção da cabeça do monstro e disparou, mas o tiro não feriu a criatura mortalmente e essa afastou-se de sua vítima, caindo para o lado e soltando um berro horroroso. O vigia levantou-se para desferir mais um tiro contra o monstro, mas esse saiu correndo, saltando o muro e se escondendo na escuridão da floresta que rodeava o cemitério.

O homem apenas ficou olhando o monstro se perdendo na escuridão, incrédulo e impotente. Ele olhou para o céu, a lua continuava lá, grande e majestosa, como única testemunha daquela noite de terror, que ele estava certo de que ninguém acreditaria.

FIM

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 03/12/2017
Código do texto: T6189247
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