O PASTOR

Maldonado era um jovem órfão e pobre na Espanha. Sozinho desde a infância, criado em um orfanato onde cresceu até se tornar maior de idade. Apos deixar o orfanato foi para uma vila que havia sido indicada por pelo diretor do orfanato.

Lá ele vivia como pastor de ovelhas na vila que ficava ao pé das montanhas. Trabalhava para os criadores de ovelhas e recebia um salário que podia pagar por um quarto e 3 refeições na única pensão na vila. Viva uma vida solitária pois não era querido pelas pessoas dali que o excluíam da vida social da vila por ser pobre, sem família e por não ser nascido na vila. Passava os dias no campo cuidando das ovelhas com dedicação. De certa forma, as ovelhas eram sua única família.

Mas Maldonado gostava de ajudar as pessoas, apesar de ser marginalizado por todos. Sempre queria ajudar qualquer pessoa mas, principalmente, uma linda jovem chamada Josefina que sempre ia à feira nas manhãs de sábado. Com o tempo Maldonado passou a frequentar a feira todas as manhãs de sábado para ter uma chance de conversar com a Josefina. Se encontraram algumas vezes na feira e conversavam e se tornaram bons amigos. Porém um dia o pai da moça, que era um rico comerciante da região e pessoa influente na vila, os encontrou durante uma dessas conversas e furioso brigou com o jovem Maldonado, o expulsou e proibiu a jovem de falar com o pastor novamente. Aquela seria a última vez que Maldonado a veria em vida.

Triste Maldonado se refugiou nos campos perto das montanhas onde levava o rebanho sempre. Naquela tarde, o céu estava nublado, anunciando uma terrível tempestade. Maldonado percebeu que já era tarde e que ia anoitecendo rapido e quando começou a chover procurou abrigo nas cavernas da região, embora não tivesse se lembrado que aquela região deveria ser evitada. As ovelhas ficaram desesperadas ao serem conduzidas para perto das cavernas e algumas fugiram. A tempestade apertou e Maldonado pensou em se abrigar e depois ir procura-las pois já era tarde e a noite havia chegado.

Procurou uma das cavernas mais profundas e depois de fazer uma tocha foi entrando cada vez mais para dentro da caverna. Era escura e úmida com um cheiro insuportável. Maldonado encontrou alguns corpos de animais e algumas ossadas. Pensou que os animais tivessem ido morrer ali.

Sentou-se e fez uma pequena fogueira com gravetos que havia colhido mais cedo. Estava se aquecendo quando ouviu um barulho vindo do interior da caverna. Iluminou mas não vi nada embora seu instinto lhe dissesse que corria perigo ali mas lá fora a tempestade era implacável e ele penso que talvez fosse apenas um rato.

Foi quando viu pela primeira vez o vulto de uma figura humana mas que desapareceu rapidamente. Desta vez Maldonado nao teve duvidas e se levantou e perguntou quem estava ali sem obter uma resposta. Maldonado perguntou novamente e não ouviu nada, perguntou a terceira vez e então viu um vulto se aproximar dizendo que não se lembrava mais qual era o nome. Maldonado iluminou melhor e viu uma figura assustadora vestida em trapos pretos e descalsa, era pálido e com olhos negros que o fitavam profundamente e com dentes grandes, muito grandes.

Maldonado caiu sentado e perguntou o que ele queria. A criatura olhava para Maldonado com um misto de pena e curiosidade para entao lhe perguntar, com um sotaque estranho que indicava que não era morador dali, o que ele havia ido fazer ali na caverna, no meio da escuridão.

Maldonado respondeu que estava procurando abrigo contra a tempestade. A criatura entao soltou uma gargalhada alta e estridente que fez gelar os ossos de Maldonado. A criatura se aproximou e disse que ele era um jovem corajoso e pareceu cheirar Maldonado que a observava atento. A criatura disse que estava ali fazia muito tempo e que aquele lugar não era um abrigo e que teria sido melhor para Maldonado ter voltado para a Vila com as ovelhas e voltado no dia seguinte para procurar as que tivessem sobrado. Maldonado disse que não gostava dos relampagos e da chuva por isso procurou a caverna.

A criatura disse então que sabia disso, que sabia sobre ele. Que podia ler sua mente e que o acompanhava a muito tempo. Maldonado ficou em silencio ao que a criatura continuou dizendo que o povo da vila era cruel com ele e que ele nao merecia ser tratado daquela maneira e levar aquela vida.

Maldonado perguntou como ela sabia de tudo aquilo e a criatura respondeu dizendo que sabia de tudo que acontecia ali na vila desde tempos remotos, desde antes dos pais dos pais dos pais do morador mais velho. Maldonado então perguntou se a criatura era Deus ao que a criatura respondeu dizendo que não e emitiu um grito lonto e cheio de ódio dizendo que ela não tinha nada a ver com Deus.

Maldonado então, pela primeira vez, achou melhor deixar aquele lugar e ir para fora. Talvez a tempestade já tivesse diminuido a intensidade. Mas então ao tentar se levantar foi impedido pela mão da criatura que revelou garras com unhas que pareciam punhais. Maldonado sentou-se assustado, sabia agora que nao devia ter entrado ali e implorou que a criatura o deixasse ir. Mas a criatura o olhou com decepção e disse que ele ansiava por uma vida morta entre os que jamais o aceitariam. Entao por que ele deveria continuar servindo a eles que não se importavam com ele e nem o consideravam um igual?

Maldonado ficou em silencio e enfiou a mao em sua bolsa e pegou sua faca. A criatura então abriu um sorriso revelando dentes longos e afiados e falou para Maldonado que aquilo nao o ajudaria mas que um destino melhor o aguardava, melhor do que ser um pastor desprezado pela vila, que a vila agora o trataria com respeito e o temeria como deveria ter sido desde o principio. Entao a criatura saltou sobre Maldonado e o mordeu no pescoço ao que Maldonado apunhalou a criatura varias vezes sem resultado, tentou se soltar mas a criatura era forte demais e Maldonado sentiu sua vida sendo sugada e seu sangue escorrendo pela camisa. Quando já estava quase perdendo os sentidos sentiu algo pingar em sua boca. Era o sangue da criatura que havia cortado seu proprio pulso e agora fazia jorrar o seu sangue para dentro da boca de Maldonado.

A Criatura disse que ele logo iria se recuperar. Maldonado sentiu o sangue da criatura descendo por sua garganta como fogo do proprio inferno. Agora Maldonado sentia dores no corpo todo, convulsoes violentas ao que a criatura se afastou gargalhando satisfeita. Maldonado sentiu as forças voltarem e se levantou cambaleante e se dirigiu para a saida da caverna. Ouviu uma ultima vez a criatura lhe dizer que um futuro glorioso o esperava e que ninguem nunca mais o expulsaria ou humilharia novamente e que ele seria como um Deus entre insetos. Entao a criatura desapareceu na escuridão.

Maldonado saiu da caverna e sentiu dores fortes do pescoço e no torax onde havia sido mordido. Mas estranhamente se sentia forte e respirava diferente agora. Enxergava longe e conseguia ouvir sons muito distantes. Se sentia mais vivo do que nunca mas para seu espanto seu coração já não batia mais. Olhou para o céu que tinha uma lua cheia magnifica e então sentia sede, muita sede e decidiu descer em direção a vila.

Sentia energia em seu corpo e decidiu correr ao que quando percebeu já estava proximo a entrada da vila. Se movia mais rapido que uma flecha pensou. Sentiu o cheiro de alguem que se aproximava. Por puro instinto se escondeu na escuridão de um beco e ficou esperando. Era um morador da vila, um homem de uns 40 anos que estava voltando para casa depois de ter bebido na taberna. Maldonado sentiu muita sde e pulou sobre o homem e rapidamente dilacerou a garganta, fazendo jorrar sangue ao que bebeu, bebeu e bebeu muito se sentindo mais forte e mais vivo do que nunca. Instintivamente pegou o cadaver do homem e, num unico salto, pulou para o telhado de uma das casas da vila onde deixou o corpo do homem proximo a chamine.

Seguiu pulando de telhado em telhado até que avistou uma mulher que deixava a casa da irmã. Seguiu a mulher pulando pelos telhados e percebeu que a mulher assustada apertou o passo e que de vez em quando olhava para tras. Tinha certeza que estava sendo seguida. Quando estava quase chegando em casa a mulher parou para pegar as chaves numa rua escura ao que Maldonado pulou sobre a pobre mulher e a puxou para cima para o telhado. Lá em cima, tapou a boca da mulher e lhe tirou a roupa para depois morder o pescoço da pobre mulher enquanto a possuia violentamente. A mulher num misto de dor e extase morreu ali sendo violada e tendo seu sangue drenado por aquilo que havia se tornado Maldonado.

Maldonado se levantou satisfeito. Olhou o belo corpo nu da mulher abatida como uma ovelha. Somente depois de ter consumado que percebeu que era a pobre Josefina que estava ali morta. Não se importava mais com isso. Então atacou mais três pessoas naquela noite, duas mulheres que tiveram o mesmo fim que a primeira, sendo violadas e sugadas até a ultima gota de sangue e um jovem descuidado que ao deixar a casa da noiva não seguiu direto para sua casa que ficava na mesma rua mas quis ir a taberna beber com os amigos.

Com o raiar do dia Maldonado sentiu que deveria voltar para seu novo lar. Voltou para a caverna. Procurou pela criatura mas não encontrou nada alem de antigas roupas, armas antigas e alguma mobilia muito velha no interior da caverna. Deitou no que parecia ser uma cama ou algo assim. Sentiu-se vivo, forte e feliz.

Lá embaixo na vila os aldeoes começaram a encontrar os corpos aterrorizados. Os mais antigos sabiam que o mal havia voltado, alguns mais velhos dizendo que nunca havia deixado o local mas que estava adormecido, esperando para recomeçar.

Na caverna escura e fria a criatura que outrora fora Maldonado agora dormia profundamente para recomeçar sua sina quando a noite chegasse.

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 27/11/2017
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