Relatos Sobrenaturais 02 - A Desgraça Me Visitou
O que vou contar agora, aconteceu comigo. Essa estória, que na verdade é um relato, me marcou profundamente e hoje em dia eu não falo mais nenhum palavrão.
Tudo começou quando eu me mudei para São Paulo. Maldita foi a hora que eu resolvi entrar na onda do meu irmão e vir para São Paulo em busca de um emprego melhor. Mas espera, deixa eu me apresentar melhor, meu nome é Juliana e eu sou formada em teatro, estou solteira e tenho 27 anos. Me mudei na ilusão de crescer na carreira e ganhar visibilidade, mas isso não aconteceu não.
Já na primeira semana tudo começou a desandar. O barraco em que morávamos, eu e meu irmão, estava infestado de baratas, além de que não tínhamos dinheiro para as parcelas adiantas do aluguel, pedidas pelo Seu João, proprietário daquela muquifa. Nesta mesma semana eu falei pela primeira vez o nome da bixa, da condenada nos infernos, rainha dos despenados, ela mesma, a desgraça.
Me lembro como se fosse ontem, entrei no banheiro, a torneira estragou comigo e molhou o chão inteiro, eu com uma puta raiva gritei: "Mas que desgraça dessa pia"! O preguiçoso do Marcelo, meu irmão, veio correndo e já me alertou: "Oh Ju, num fala esse nome mais não. Ele é perigoso". A única coisa que eu consegui fazer, foi rir da cara daquele paspalho supersticioso.
No outro dia, acordei na madrugada com uma goteira de água na cara. Estava chovendo e aquela merda de barraco tinha um milhão de furo nas telas. Ah, mas a única coisa que eu fiz foi berrar enfurecidamente: "Que desgraça dessa chuva". E essa foi mais uma das muitas vezes que chamei esse nome. Levantei da cama e fui me arrumar, ia fazer um teste para uma peça e se desse certo, eu teria um emprego.
Naquele mesmo dia o resultado saiu. Eu não passei. Cheguei chorando em casa, o teste não deu certo, o diretor disse que eu era velha demais para esse ramo e eu só consegui dizer para ele que ele era um desgraçado e que pegasse essa desgraça de peça e fosse se foder. Naquela única semana, nessa mesma em que me mudei, eu chamei a penosa mais de 100 vezes. Parecia algo muito natural, como se eu estivesse falando uma palavra qualquer, sabe?
Nessa mesma noite, eu senti uns calafrios, uns ventinhos gelados passando no meio dos meus pés, mas o esquisito era que a janela estava fechada. Xinguei aquele vento e fui dormir com a temida na boca. No meio da noite comecei a sentir um peso em cima da minha barriga, como eu sou muito magra, qualquer coisa que encosta em mim eu consigo sentir com facilidade e aquele peso era irreal, cheguei a pensar que meu irmão tinha subido em cima de mim, mas o que aconteceu de verdade foi bem pior.
Eu estava dormindo e senti esse peso. Quando eu abri os olhos, uma mulher toda desfigurada, manchada de sangue e com um olhar demoníaco sorriu para mim. Ela tremia e da sua boca pingava uma gosma preta! Naquele momento eu sabia que eu estava tendo uma visão do inferno e que minha hora tinha chegado. Meu Santo Espirito Santo, nunca senti tanto medo na minha vida, o bafo de podridão e os dentes pontiagudos fizeram com que a cena fosse pior ainda. Ela olhou para mim e me perguntou: " Oi querida, você me chamou tanto que eu tive que vir! Agora vou fazer da sua vida um inferno".
A única coisa que eu conseguia fazer era chorar. Meu Deus, aquilo começou a me enforcar e assumir uma forma mais perturbadora ainda. Ela tinha pelos em todo corpo e se contorcia, com muita dificuldade eu consegui gritar e com isso meu irmão mais que depressa correu para o meu quarto. Quando ele chegou lá, não tinha mais nada. O viado com os olhos cheio de lágrimas me julgou: "Eu falei para você não chamar esse nome Juliana". A prova de que eu não estava ficando louca eram as marcas das mãos dela no meu pescoço.
Depois desse dia eu nunca mais falei um palavrão, voltei para o Espirito Santo e pedi um padre para me benzer. Hoje eu conto o meu relato para avisar as pessoas que a desgraça existe e que as palavras tem poder, então cuidado, porque a tinhosa pode estar do seu lado.