A CASA DA FLORESTA BLEAK - CLTS I
Em 1986, a poucos quilômetros de onde é hoje a capital Fortress, havia uma floresta imensa, semelhante às de Burkittsville. Era uma região dispersamente habitada por pessoas da fronteira — poucas almas ansiosas que não tinham muitos recursos para morarem na cidade, construíram boas casas unidas à floresta, não era uma vila de pequenas casas, pois ficavam localizadas distante uma da outra. Anos mais tarde, incitadas por algo misterioso de suas próprias naturezas, essas pessoas humildes abandonaram tudo e foram mais longe rumo a oeste, em busca de algo melhor, na verdade, queriam mais conforto e, além disso fugiam da floresta a qual tinha um hálito assombroso, queriam também segurança. A maioria dessas pessoas viviam perto da estrada que dava acesso a Fortress, outras viviam em uma zona tranquila, mas entre todas havia uma que estivera entre os primeiros habitantes do lugar. Vivia sozinho em uma casa feita de madeira, rodeada pela imensa floresta, de cujo hálito assombroso ele parecia fazer parte — já que ninguém nunca o vira distinto daquele ambiente.
Um dia, o homem de nome Mewton, foi encontrado em sua cabana, morto. Não havia polícia para investigar e dizer exatamente a causa da morte, e chegaram à conclusão de que ele morrera de causas naturais. Ele foi enterrado junto à cabana, os outros habitantes mal se lembravam de sua existência. Aqui se acaba o primeiro capítulo desta história verdadeira que pude saber, aparentemente é uma história simples, mas como sou curioso acabei descobrindo algo mais sobre esta história. Nos sermões de domingo descobri através do padre, que a Floresta Bleak, mormente a casa em que habitava Mewton era habitada por espíritos maléficos, visíveis, audíveis e ativos. Muito tempo depois um casal de Fortress, jovens aventureiros que estavam de férias, foram explorar a floresta. O restante da história pode ser relatado pelas palavras de Venina, sobrevivente desmentida por todos que não acreditam no além-mundo. O relato de Venina foi publicado no jornal local, mas ninguém quis acreditar.
"Eu e meu noivo sempre tivemos vontade de explorar uma floresta, quando ficamos de férias vimos uma boa oportunidade e não tardamos em nos preparar para a aventura. Foi uma longa caminhada até chegar em Bleak, estávamos tão animados que nem percebemos os rumores de uma tempestade que se aproximava. Percorremos uma trilha por alguns minutos, a tempestade desabou, era fim de tarde, eram tantos relâmpagos e raios que cheguei a pensar que morreria ali devido uma descarga elétrica. Ainda caminhamos por quase meia hora, a noite já devorava a floresta que se tornou negra como o céu sem estrelas. Avistamos uma casa, em seguida fomos até ela, sob a chuva, batemos na porta sem ter resposta, Doni empurrou e ela abriu. A floresta estava escura, mas nada se comparava com a escuridão dentro da casa, havia também um silêncio horrendo.
"Doni revirou sua mochila em busca de uma lanterna, quando ele acendeu foi um alívio, já estava atordoada com todo aquele cenário ao meu redor. Estávamos com frio, então andamos pela casa atrás de algo que pudéssemos nos aquecer, ouvimos um barulho estranho vindo do lado de fora da casa, um som semelhante a um uivo, mas não era um animal. Não achamos nada na casa, estava vazia, voltamos para a porta da entrada para ouvirmos mais de perto o barulho estranho vindo da floresta, observamos pela frincha da porta, mas quase em toda a casa havia greta, pois era toda erguida com madeira, não vimos nada, a escuridão nos impedia, apenas a luz oriunda dos raios que vez em quando caía sobre a floresta nos permitia em uma fração de segundos distinguir algo diante da casa. O barulho estranho estava mais audível, dessa vez era como um sussurro e vinha do cômodo que deveria ser a cozinha, quando Doni dirigiu o feixe de luz da lanterna em direção a cozinha vimos um vulto semelhante a um homem.
"Enquanto, de pé, olhávamos, pasmos, aquela aparição terrível, fomos em direção a ela e nada avistamos. Naquele instante nós ouvimos um som como um gemido, como algo perdido na floresta de profunda escuridão. Ficamos paralisados. Mais uma vez, e agora mais próximo, o som sobrenatural se repetiu. Estávamos mergulhados na escuridão que não pertencia à casa, mas sim à floresta. Todos os meus sentidos ficaram apurados, tanto minha respiração quanto minha corrente sanguínea parecia ter sustado para não ferir o silêncio aterrorizante que nos envolvia.
"De repente ouvimos pisadas no chão de madeira, senti um calafrio, percebi que Doni também sentira o mesmo que eu, as passadas pareciam vir em nossa direção, depois parecia nos cercar, como se quisesse nos paralisar de uma vez por todas, cutuquei Doni e sussurrei em seu ouvido pedindo que saíssemos dali correndo em cinco segundos, fiz a contagem regressiva.
"Totalmente paralisado de terror, ele não foi capaz de gritar ou mover-se como havia pedido. E assim esperamos na escuridão e no silêncio cortado pelo som das passadas, esperamos e parecia uma eternidade e a coragem não aparecia, minha garganta parecia ter sido entupida, meus pés e braços pareciam terem sido congelados. E então aconteceu algo ainda mais assombroso. Uma força nos empurrou, perdemos o equilíbrio e caímos. Seguiu-se um rumor de gemido, uma total confusão de sons impossível de ser descrito, quando nos levantamos vimos diante de nós uma sombra semelhante a um homem. Nos levantamos prontos para correr, Doni agarrou a maçaneta e não conseguiu abri-la, corremos para a porta que dava acesso ao que seria o quintal da casa, meu noivo conseguiu abri-la e eu saí antes dele correndo.
"Enquanto corria notei que Doni não estava atrás de mim, parei de correr e fiquei atrás de uma árvore, os relâmpagos permitiam que eu enxergasse a casa ao longe, era uma cena de terror, mas não pude deixá-lo lá, voltei até a casa, há um momento deveras em que o terror confunde-se com a loucura, talvez eu estivesse louca, a coragem dominava-me e pude abrir a porta. No momento que abri a porta o corpo de Doni caiu sobre mim, tentei erguer-me, mas o corpo pesado sobre mim não deixava. Senti algo o puxando para dentro da casa, levantei e corri novamente na mesma direção de antes, dessa vez notei que um vulto seguia-me, era tão veloz, corri o mais rápido que pude, corria olhando também para trás para saber se aquela criatura do além-mundo estava perto de alcançar-me, quando virei o rosto para frente vi diante de mim, no lado direito, a mesma criatura que havia visto antes e depois só lembro de ter esbarrado no tronco de uma das árvores.
"Não lembro de mais nada: dois meses depois restabeleci a consciência em uma pousada de Route, para onde fora levada por estranhos caçadores no amanhecer. Disseram ter encontrado-me jogada na estrada a vários metros de distância da casa da Floresta Bleak. Jamais soube como chegara tão longe da casa. O médico que cuidou de mim já havia dado alta e permitido-me relatar tudo o que aconteceu durante o pouco tempo que eu e meu noivo ficamos na floresta. Perguntei desesperadamente pelo Doni e eles — as pessoas que estavam ao meu redor na pousada — tentaram confortar-me. Entreguei-me ao choro e relatei tudo.
"Ninguém acreditou em minhas palavras, não da forma que realmente aconteceu. Atrelou-se a hipótese de que teria sido um psicopata que quis brincar comigo e matar meu marido. Tudo o que aconteceu eu relatei, mas tacharam-me de louca, apenas. Dias depois voltei para Fortress e relatei tudo a todos que pude e a reação foi a mesma. Ninguém era capaz de acreditar em mim. Quando comecei a ver a mesma sombra que vi na casa da floresta e ouvir os passos rodeando-me e o mesmo som semelhante a um gemido, relatei imediatamente aos meus entes, principalmente minha mãe, resolveram internar-me em um manicômio."
Venina suicidou-se no hospício, no dia 13 de junho do ano de 1986. Deixou uns desenhos sombrios sobre sua escrivaninha e uma folha com palavras escritas com sangue dizendo: "Ele não iria me deixar em paz".
obre sua escrivaninha e uma folha com palavras escritas com sangue dizendo: "Ele não iria deixar-me em paz".