Parede de ossos
Ser um investigador paranormal nos dias de hoje é uma piada, as pessoas invadem prédios abandonados para jogar oija, esperam as 3 horas da manhã para o jogo do copo, entram em cemitérios de madrugada para filmar ou fotografar possíveis almas perdidas. As pessoas brincam com o sobrenatural, fazem montagens digitais, rituais que nada sabem, mas o que ninguém diz é que quando eles realmente encontram algo sobrenatural, que geralmente não é pacífico, é a mim que procuram desesperados, a que eles ironicamente chamam de “caça fantasma “. Eu não ando em um carro grande com um desenho de fantasma, não uso roupas chamativas e estranhas, nem tenho armas e aparelhos estranhos para neutralizar espíritos. Eu me comunico com os espíritos, investigo seus passados para descobrir o motivo que os incomodam, e lhes dou a justiça que buscam para descansarem em paz. Geralmente eles querem mandar uma mensagem, esclarecer suas mortes, dizer onde seus corpos estão escondidos, terminar o que começaram em vida. Antes de fazer uma pergunta a um espírito, tenha certeza de que você realmente quer saber a resposta, pois nem sempre estamos preparados para ouvi - las. Minha última investigação foi muito estranha, um médico idoso, muito rico, comprou um hospital desativado que ficou conhecido por tratar pessoas com tuberculose e doentes mentais, sem contar as centenas de mortes estranhas. Hospital esse que é muito usado para pessoas brincarem de rituais. Bryan - o tal médico - trabalhou durante 5 anos naquele hospital, tinha um relacionamento com uma enfermeira muito bonita chamada Naomi, a qual chamava a atenção de todos e boatos a acusavam de manter relações sexuais com médicos e pacientes. Alguns meses antes do hospital ser desativado, Naomi e um paciente - Alex - o qual boatos garantem que se relacionavam, desapareceram. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, o mais plausível é que fugiram juntos deixando tudo para trás. Bryan garante que é assombrado por Alex, o que significa que o paciente não fugiu e sim morreu. Meu trabalho é entender o motivo do paciente assombrar Bryan, e preciso passar a noite no hospital abandonado para isso. Peguei minhas câmeras de vídeo e me dirigi ao hospital, antigo, grande, muitas pichações, vegetação por toda a parte. Bryan me aguardava diante dos portões, me cumprimentou educadamente e nos dirigimos ao prédio. Bryan vestia roupas sociais, poucos cabelos grisalhos, e um sorriso gentil. Adentramos o prédio silencioso, corredores escuros, cadeiras e macas jogadas pelo chão, sentimento de desespero como se pessoas morressem ao meu redor implorando por ajuda. Subimos uma escada e entramos em um lugar estranho, pequeno, sujo, com um círculo estranho desenhado no chão, nos sentamos diante de uma parede.
-É aqui. - disse Bryan.
-Uma parede? - questionei - esse prédio todo cheio de coisa ruim e seu problema é uma parede?
O idoso educado franziu a testa.
-Te paguei para me ajudar, não para me question.
Por mais estranho que pareça, era o que o idoso queria ficar ali sentado olhando para aquela parede. Ficamos em silêncio por horas observando a monotonia branca se estender por aquela parede horrenda. De repente a câmera desligou.
-Você não carregou a bateria, caça fantasma?
-É claro que eu carreguei, acha que sou amadora? - reagi. - é não me chama assim.
-Calma, foi só uma pergunta.
Virei os olhos, peguei a câmera e dei as costas para a parede, ouvi um barulho estranho de carne descolando dos ossos, girei o rosto e um corpo estava no chão encostado na parede.
-Mas que porra é essa? - sussurrei.
-O que? - Bryan gritou desesperado - O que você viu?
O corpo parecia ser de homem, tinha fios de cabelo loiro, rosto deformado como se alguém tivesse batido nele, faltava um dos olhos, sangue pisado, ossos a mostra, não tinha dentes. Senti um frio subir na espinha, o copo levantou a cabeça, seu único olho balançou e se soltou ficando pendurado por um ligamento bem fino, ele levantou o braço direito, pouca carne apodrecida, muito osso sujo, e apontou para Bryan que estava atrás de mim. Girei o rosto para Bryan que estava confuso se movimentando de um lado para o outro.
-Alex? - Sussurrei.
O corpo levantou e correu em minha direção deixando pedaços de carne e sangue pelo chão, me afastei, joguei meu corpo para trás levantando as mãos sobre o rosto. Quando ele estava próximo de mim, girou o corpo em direção de Bryan e desapareceu diante de meus olhos.
-O que você fez pra ele? - gritei.
-Pra quem?
-Alex, o que você fez para ele?
-Eu não sei quem é Alex. - Bryan respondeu claramente mentindo.
-Para de mentir Bryan, ele está com muita raiva de você e eu estou no meio de vocês.
Bryan sacou uma arma calibre 38 e apontou para mim, veio em minha direção e me deu um soco me lançando contra a parede, quando cai no chão ele me agarrou no pescoço e me levantou.
-Eu quero que você fale para ele me deixar em paz.
Duas mãos saíram da parede ao redor do meu pescoço e me agarraram, comecei a me sufocar e tentar tirar as mãos de mim. Outras mãos e rosto saíram da parede e tentaram chegar até ele, mas eu fui a única atingida. Girei o rosto e através da janela vi um antigo cemitério ao lado do hospital, as covas estavam abertas, vi sombras se arrastando por entre as árvores.
-Foi você que matou o Alex, e todas aquelas pessoas que estão enterradas lá fora. - sussurrei.
-O que denunciou? Minha arma na sua cara? Eu sempre fui o melhor médico deste lugar.
Os rostos da parede sussurrava em meu ouvido, Naomi tinha câncer, estava morrendo.
-Eu sou um médico droga, como não consegui salvar ela? - ele gritava em meu rosto - tive que fazer isso, tive que matar aquelas pessoas para salvar ela.
Dê repente uma das mãos me puxou para trás, para dentro da parede, vi uma maca com um corpo em cima, um médico chorava ao lado.
-Eles te mataram, os boatos, te deixaram doente - ele se inclinou até o rosto dela - vou matar todos eles.
Fui lançada para frente e estava novamente na parede diante da arma, finalmente tudo fez sentido.
-Você é louco, Naomi já estava morta quando começou a matar, você queria vingança.
-É? Quem vai acreditar em você? - ele gritou - diga para eles me deixarem em paz, ou eu vou matar a família de todos eles.
Naquele momento os corpos se irritaram, acho que perceberam que agora ele não poderia machucá-los, centenas de corpos saíram da parede e agarram Bryan que atirou contra eles perfurando a parede em diversos lugares, a parte da frente da parede se desfez mostrando os esqueletos lá dentro. Fiquei jogada no chão, com uma bala no peito observando os esqueletos caírem sobre mim, até que tudo escureceu. Acordei no hospital depois de ficar dois meses em coma, tinha um psicólogo do meu lado.
-Finalmente você acordou garota.
-Onde está Bryan? - questionei.
-Quem?
-Bryan, o dono do hospital.
-Você tentou suicídio no hospital abandonado, foi o Bryan que mandou você se matar?
-Não, eu fui ajudar ele.
-Querida não tem nenhum Bryan, você está alucinado.
-Eu posso pelo menos ver a foto da última equipe daquele hospital? Depois disso eu aceito qualquer coisa que você disser. - praticamente implorei.
A psicóloga procurou no celular e me mostrou uma foto, Bryan, Naomi e Alex, que não era paciente, era médico. Apontei para a foto.
-Viu, esse é o Bryan.
-Querida esse médico morreu, se suicidou há 20 anos.
Dê repente me lembrei do círculo no chão, aquilo foi uma tentativa de um ritual, tentaram falar com os mortos e permitiram que eles saíssem do mundo deles para resolverem seus problemas aqui. Acho que eu fui a única investigadora paranormal contratada por um espírito para ajudá-lo com outros espíritos. Depois de passar 5 meses em uma clínica Psiquiátrica por causa da tentativa de suicídio retornei ao hospital com alguns especialistas em rituais e fechamos aquele portal, mandei uma carta anônima para a polícia e dias depois vi no jornal “25 corpos são encontrados na parede do hospital desativado, e mais 180 enterrados ao redor do local. O corpo do médico Bryan, que cometeu suicídio há 20 anos é desenterrado e pendurado próximo a parede dos ossos com uma carta confessando o crime, especialista confirmam caligrafia mas dizem que a carta é recente de mais.” Esse mistério gerou muitas lendas que atraíram muitos investigadores paranormais para o local. Ainda recebo cartas psicografadas me agradecendo por libertar aquelas almas das ruínas daquele hospital, e todas terminam “obrigado caça fantasma “, mas nem os mortos perdem a chance de me gozar.