A ESPERA

- Ele ainda tá lá.

Neuza passou quase correndo, do outro lado da pista. Perto da árvore, o homem continuava parado. As vezes se sentava, as vezes subia na árvore, parecia até uma criança brincando. A diferença é que ele brincava já fazia três dias.

- Coitado... Não tá com sede?

Neuza pediu aos filhos que levassem um pouco de água para o homem. As crianças, com medo, pegaram uma jarra e um copo, e foram devagar atravessar a estrada. Quando chegaram perto do homem, este se assustou, mas logo aceitou a água. As crianças foram embora com a mesma quantidade de informação sobre eles do que quando chegaram: nada.

Neuza começou a ficar preocupada, o homem parecia esperar algo, debaixo da árvore: Uma grande mangueira. Depois do quarto dia, o homem já não brincava mais, só ficava parado, debaixo da grande árvore, fitando os galhos. Os galhos cantavam para ele como uma sereia canta para o marinheiro, mas ele já não tinha mais forças para subir.

Neuza pegou uma cadeira e sentou-se à beira da estrada. Pousou os olhos sobre o homem misterioso. Esse percebeu que estava sendo vigiado, olhou para ela, sorriu, sorriso amarelo, de gente fraca. Sua boca se mexeu, parece que falou algo. Neuza não escutou, confessava que já estava com medo do homem. Depois de trinta minutos, se recolheu para casa. A noite já lançava seu véu negro sobre o céu, a lua estava cheia, coisa linda de se ver. Mas Neuza não prestava atenção nisso, o homem muito menos.

A noite foi estranha. Neuza não conseguiu dormir. Quando já estava noite alta, Neuza escutou gritos e cantarolar vindo da estrada. Pensou no homem, teve medo, foi para junto dos seus filhos. Vencida pelo cansaço, dormiu um sono cheio de pesadelos. Quando acordou, foi direto para estrada.

Um monte de gente do povoado se aglomerava na árvore. Neuza chegou, entrou na multidão, foi empurrando gente, querendo chegar logo na copa. Lá encontrou o homem, morto. O corpo, pendurado pelo pescoço em um dos galhos, formava uma cena mórbida. Neuza agora sabia o que ele tanto esperava. Levaram o corpo, a multidão se dispersou, todos foram para casa. Neuza também. Quando caiu a noite, pôs-se a pensar, calada.

Brenno Lima
Enviado por Brenno Lima em 16/11/2017
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