Bruno e os comercias de TV
Quarta-feira comum, Bruno, sentado em um sofá, assistia televisão.
Assistia novela quando passou um comercial de celular.
Bruno viu o comercial do celular e mesmo tendo um celular ele decidiu comprar um novo celular porque o ator bonito de novela que fez o comercial do celular disse, com essas palavras:
QUER SER ESPECIAL? ENTÃO VOCÊ PRECISA DESSE CELULAR.
O dia nem amanheceu e Bruno já esperava na porta da lojinha de celulares.
Quando a simpática mocinha abriu a loja e apresentou os novos modelos para Bruno, o rapaz decidiu comprar todos os celulares da loja.
— Pra que comprar todos os celulares?
— Se um celular pode me fazer especial, imagine todos da loja!
Mas a mocinha simpática argumentou que ele só precisava de um celular e que levar todos os celulares da loja custaria uma fortuna, pois apenas um modelo tinha o valor de 1.500 reais.
Bruno estrangulou a mocinha simpática.
Pegou todos os celulares da loja e voltou para a casa.
Esperou sentado.
Esperou acordado a noite inteira.
O dia amanheceu e nada de sentir-se especial.
— Talvez eu não tenha o suficiente.
Foi para a rua.
Foi para as Casas Bahia, Pernambucanas, Ricardo Eletro, Americanas, Havan, Ponto Frio, Extra, e foi pegando tudo que era celular e parecido com celular.
E matava todos que lhe diziam que ele só precisava de um celular.
A casa ficou pequena com tantos celulares e o pior é que ele ainda não se sentia especial.
Como pegou todos os celulares de todas as lojas, Bruno decidiu pegar os celulares das pessoas. E como as pessoas não queriam dar-lhe de bom grado seus celulares, era preciso estrangulá-las.
Estrangulava e pegava o celular.
Estrangulava e pegava o celular.
O dia inteiro.
Estava com todos os celulares da cidade e ainda assim não se sentia especial.
Tinha celulares de todos os modelos e tamanhos. De todas as marcas, de todos os países, de todas as gerações. Com android e sem android. Com 2 chips e 4 chips. Com TV e sem TV. Com rádio, internet, wifi, gravador de voz e tocador de músicas. Tinha até um Nokia tijolão e um que abria e fechava como um canivete.
E Bruno não estava nem perto de se sentir especial.
Frustrado, o rapaz jogou todos os celulares pela janela, e os celulares caíram em cima dos cadáveres.
Bruno sentou-se no sofá.
Assistia novela quando passou o lindo comercial da Coca-Cola e o locutor disse:
“Mate a sua sede”
E Bruno sentiu sede e tomou uma Coca-cola.
A sede não passou.
Tomou outra.
E mais outra.
E tomou todas as Coca-Cola que tinha na geladeira e saiu para pegar nos supermercados e depósitos e mercearias e botecos porque ainda tinha sede.
Tomava toda Coca-Cola que a mão alcançava: lata, 600 ml, 1 litro, 2 litros, 2,5 litros, de vidro, plástico, alumínio, com tampinha verde, amarela ou vermelha, quente, gelada, com gás ou sem gás, e todo dia, Bruno bebendo Coca-cola e a sede não passava e ele continuava tomando Coca-Cola e mais a sede aumentava até que...
Morreu de sede.