O TREM EXPRESSO - Parte 2

O TREM EXPRESSO

William falou para o grupo que não deveriam avisar o fiscal do trem ou quem quer que fosse sobre a morte de John Hinkley. Pensou que isso traria perguntas e eles precisavam ser discretos. O Irlândes concordou plenamente junto com os demais do grupo.

William explicou que logo cedo, pela manhã, deveriam chegar a alguma estação e que deveriam descer um pouco antes pois poderia haver alguem da polícia ou do FBI os aguardando. Isso na pior das hipóteses mas o mais provável é que não tivesse ninguem. Tompson calculou que o FBI ainda estivesse procurando por eles na floresa e que isso os daria uma vantagem de umas 12 horas e nesse caso poderiam, ao chegar na cidade, se dispersar, roubar um carro e seguir para outros pontos do país cada um seguindo seu caminho.

Jack achou que era a hora de dividir o dinheiro que conseguiram salvar dos 2 sacos, apenas uma parte, mas suficiente para fugirem. Cada um ficou com quase 12000 dólares em notas de cem. Era suficiente para comprarem uma fuga para fora dos EUA.

Tompson entao teve a idéia de fazerem um ultimo jantar no vagão restaurante pois depois dali nunca mais se veriam novamente. William concordou mas recomendou que não exagerassem na bebida e que fossem discretos. Apenas o Irlandes sentiu que não era adequado considerando a morte recente do amigo John Hinkley mas acabou sendo convencido.

Os grupo saiu da cabine e seguiu para o corredor escuro e logo encontraram o vagão restaurante bem iluminado e aquecido mas com apenas umas poucas pessoas e os funcionários. Sentaram-se em uma mesa do canto e o garçom se aproximou ao que pediram o cardápio. O Garçon entao disse que havia apenas um ensopado pois a cozinha estava com poucos suprimentos. O grupo se olhou com surpresa e então pediram a sopa e duas garrafas de vinho tinto.

Fizeram um brinde ao falecido John Hinkley de forma discreta para nao chamar a atenção. Durante a refeição Jack lembrou o incidente na estrada com a menina ensaguentada e disse que nunca tinha visto algo tão estranho. O grupo ficou em silencio. Mas todos haviam visto. William não deixou de notar uma moça muito bonita sentada sozinha no fundo do vagão que chorava. O Irlandes comeu o ensopado e achou delicioso. Alfred e Tompson também elogiaram o prato.

Ao fim da refeição todos se levantaram e voltaram para a cabine mas William notou que a moça o olhava com interesse e um ar de desespero, como se lhe pedisse ajuda. Então disse ao resto do grupo que iria em seguida para a cabine. Ele sentou-se a lado dela que havia parado de chorar e começaram a conversar. A moça disse que estava sentindo muito frio e de fato William notou que a temperatura baixava rapidamente desde que haviam embarcado.

William perguntou se a moça estava sozinha ao que a jovem respondeu que sim e disse que queria ir para a cabine dela pois estava sentindo muito frio. William se ofereceu para acompanha-la e entao seguiram para um corredor na outra ponta do vagão restaurante.

A moça começou novamente a chorar enquanto era seguida por William que tinha um misto de pena e ao mesmo tempo curiosidade pela jovem. Ao chegar a cabine da jovem William se despediu e já se virava para ir embora quando sentiu a mão da moça tocar a sua pedindo que ficasse.

William olhou a moça e viu que era muito bela e, estranhamente, se sentiu profundamente atraído pela moça. Ele perguntou se estava tudo bem ao que a moça pediu a ele que entrasse. Ele então voltou-se e entrou na cabine, mesmo sentindo que não deveria entrar ali. Antes de entrar completamente na cabine William olhou para o fundo do corredor e pareceu ver um jovem que o olhava assustado e fazia sinal de não.

Mas William olhou novamente e não havia nada lá. Então ele sentiu a jovem se aproximar e lhe dizer que estava sentindo muito frio e lhe abraçar com as mãos geladas como a neve. William sentiu o abraço apertado da jovem mas nada se comparava às mãos geladas da jovem sobre seu pescoço.

O instito de sobrevivencia de William agora não lhe deixou dúvidas de que havia algo errado ali. Tanto pelo frio que ele sentia, frio que ele sentia até a alma, quanto pela força com que a jovem o abraçava. Tentou se soltar mas descobriu horrorizado que a jovem tinha uma força sobrenaural e agora tinha um semblante pálido e com a face congelada. Os olhos vazios e sem vida mas que o fitavam friamente.

A jovem então falou novamente que sentia muito frio e que também tinha muita fome. William sentiu o perigo e estando totalmente imobilizado tentou gritar mas a jovem o beijou com rapidez abafando o grito.

William sentiu um frio muito mais intenso agora. Já havia estado em lugares frios na vida, Alaska e norte do Canadá, mas nada igual ao frio que sentia agora. Alem disso sentia o ar sendo drenado. Nao conseguia respirar e entrou em desespero, tentou em vão se soltar mas a jovem o segurava com uma força infinitamente superior.

William sentiu alem do frio e da falta de ar uma dor muito forte primeiro nos pulmões e depois no estomago e sentiu gosto de sangue e fluidos na boca. Percebeu entao desesperado que esta sendo drenado totalmente, seu ar, seu sangue, seus orgãos internos com uma falta de ar profunda, frio intenso e uma dor insuportavel.

Tentou sacar a pistola mas nao tinha mais forças. Sua vida estava sendo apagada rapidamente. A dor agora era mais intensa ainda e o frio congelante. Sentiu o ar no fim e a sua vida também. Olhou para a jovem que o fitava de olhos abertos enquanto a boca aberta o sugava completamente. William num ultimo instante lembrou da velha cigana e viu tudo ficar escuro e perdeu os sentidos.

A jovem o sugou por mais um tempo e entao o soltou e deixou seu corpo sem vida cair no chão como um saco velho. Então soltou uma gargalhada aguda e estridente e com o rosto ensanguentado olhou para o teto e para os lados com uma expressão de alegria e medo.

Enquanto isso o Irlandes e o resto do grupo voltou a cabine e ficaram surpresos ao perceberem que o corpo de John Hinkley havia desaparecido. Olharam então horrorizados que havia mito sangue no chão e nas paredes da cabine.

O Irlandes instintivamente sacou a sua pistola e olhou em volta no corredor que não apresentava nenhum sinal de vida. Mandou os outros entrarem e conversaram sobre o que deveria ter acontecido. Ninguem teve resposta. Nem os federais e nem os funcionarios da companhia ferroviaria teriam feito aquilo. Jack, Tompson e Alfred foram rapidos em concluir que deveriam deixar o trem o mais rapido possivel, nao sabiam o que havia acontecido mas sentiam o perigo que corriam ali. Alem disso, se lembraram do aviso de John antes de morrer, de que deveriam deixar o trem imediatamente.

Alfred que estava sentado na janela então notou que o trem viajava a uma velocidade muito superior a de trens movidos a carvão. Parece um trem bala comentou Tompson e olhando pela janela chamou a atenção dos amigos para o fato e todos notaram também que o trem estava subindo a montanha. O Irlandes entao disse ser melhor esperar o William voltar para decidir o que fazer. Os outros discordaram mas ficaram esperando como o Irlandes havia sugerido.

Esperaram por horas e nada. Por fim o Irlandes se levantou e afirmou para o resto do grupo que havia algo muito errado ali. Jack questionou o que seria ao que o Irlandes respondeu nao saber mas que iria descobrir. Alfred e Tompson já estavam a postos e então decidiram sair para procurar William.

Voltaram ao vagão restaurante. Estava vazio. Ninguem parecia ter estado ali por muito tempo. As mesas vazias e com pouca iluminação e um frio maior se fazia sentir ali naquele local. Tiveram certeza que havia algo errado com o trem.

O Irlandes os dividiu em duas duplas. Ele e Jack iriam procurar por William enquanto Alfred e Tompson deveriam tentar encontrar o corpo de John e descobrir o que aconteceu. Voltariam a se encontrar ali no vagão restaurante em duas horas. Se não conseguissem nada iriam tentar sair do trem de qualquer maneira.

O Irlandes e Jack seguiram para a ponta do vagão por onde William e a jovem havia seguido. Alfred e Tompson ficaram por um tempo ali e depois decidiram voltar pela outra ponta do vagão. Alfred e Tompson decidiram procurar no vagão de carga. Seguiram pelos vagões e por fim encontraram o vagão de carga. Abriram a porta com dificuldade pois parecia congelada. Ao entrarem encontraram apenas malas e bagagem dos passageiros. No chão Alfred encontrou uma biblia com páginas sujas de sangue e sentiu que havia alguma coisa muito errada ali.

Tompson foi mais ao fundo do vagão e voltou muito assustado. Havia várias ossadas mas uma em especial chamou a atenção pois haviam trajes de algum índio ou nativo com uma lança no chão. O ferimento a bala no cranio indicava que o homem foi morto com tiro na cabeça. Saíram dali assustados e seguiram para os demais vagões. Começaram a bater nas cabines pedindo informacao mas não encontravam ninguem e então voltaram ao vagão quando sentiram que deveriam procurar mais naquele vagão. Foram até a cozinha e encontraram várias panelas cozinhando mas nenhum sinal do cozinheiro.

Ao examinar uma das panelas Alfred deu um grito assustado e caiu pra tras. Tompson foi verificar e descobriu restos humanos em uma sopa que estava sendo preparada e então teve uma crise de vômitos enquanto Alfred repetia que eles deviam sair dali que deviam sair dali. Tompson ao se recuperar da crise de vômitos resolver esclarecer de vez o que havia de errado ali e começou a abrir as geladeiras da cozinha. Todas vazias menos uma onde reconheceu horrorizado os restos mortais do amigo John Hinley. Não teve coragem de falar para Alfred que estava em panico e não parava de repetir que deviam sair dali, que deviam sair dali. Ajudou o amigo a se levantar e disse que estivesse pronto para tudo e o ajudou a voltar para o vagão restaurante onde iriam aguardar o retorno do Irlandes e de Jack.

O Irlandes seguiu pelo corredor acompanhando por Jack que estava visivelmente assustado. Não encontraram nenhum sinal de William. Passaram por todos os vagões, um a um e nada. Então voltaram por todos os vagões e verificaram todas as cabines e nada, nenhum sinal, exceto um item que chamou a atenção de Jack. Era um diario de um padre que havia embarcado no trem. O Irlandes pegou o diário e olhou as ultimas paginas que relatavam algo terrivel que havia acontecido com o trem. Aparentemente o trem subiu as montanhas no inicio do inverno e ficou preso devido a uma avançance de neves que cobriu o trem e o prendeu nas montanhas. Muitos passageiros morreram congelados e alguns tentaram sair mas descobriram que o clima era pior do lado de fora. Um tal coronel Hering que caçava na África fazia muitos anos e era sempre acompanhado de um africano amigo seu assumiu o controle do trem e depois que os suprimentos acabaram começou a comer o corpo dos mortos e depois passou a escolher quem vivia e quem morria para ser devorado por ele e pelos que o seguiam. Muitos foram mortos e devorados antes que ele fosse morto pelo Africano com um golpe de lança. O Padre contou que havia sido ferido mortalmente pelo Africano quando tentava proteger seu sobrinho, filho da sua irmã. Suas anotações acabaram alertando que o Africano era um canibal e que fazia sacrificios humanos com suas vitimas antes de devora-las com os outros seguidores do coronel Hering. O padre terminava o diario dizendo que tinha certeza que poucos iriam sobreviver ao inverno e voltar para as montanhas e que somente a fé em deus poderia salva-los daqueles monstros.

O Irlandes terminou de ler e se mostrou tenso enquanto Jack estava apavorado. Continuaram procurando mas encontraram apenas uma cabine vazia com muito sangue fresco no chão. O Irlandes nunca achou o corpo de William mas teve a certeza de que havia encontrado o lugar onde o amigo havia sido morto.

Jack entao recomendou que fugisse e saltassem do trem mas a velocidade do trem impedia qualquer fuga com sucesso. O Irlandes entao teve uma ideia. Pensou em ir até a locomotiva e obrigar o maquinista a parar o trem. Jack achou boa ideia e juntos seguiram pelos vagoes até o ultimo vagão de passageiros.

Ao seguiram para o vagão de combustivel que ficava antes da locomotiva Jack se perguntou qual o combustivel que estava sendo usado para o trem manter aquela velocidade. O Irlandes pulou no vagão de combustivel e deu um grito de horror, quase caindo do vagão que estava cheio de ossos humanos e roupas velhas muito antigas.

Jack olhou para a locomotiva e nao conseguiu ver o maquinista. A locomotiva estava vazia mas a fornalha estava acessa e o cheiro de ossos queimados era forte. O Irlandes sentiu que deveriam voltar dali e que não era seguro continuarem. Assim voltaram ao vagão restaurante.

Ao encontrarem Alfred, visivelmente em panico, e Tompson nao menos assustado, compreenderam que eles haviam encontrado o corpo de John Hinkley e ficaram horrorizados com o que foi relatado, por ambas as duplas.

O Irlandes entao ficou pensando que talvez pudesse desconectar o ultimo vagão do trem e assim poder diminuir a velocidade para pularem do trem. Todos concordaram que era uma ótima ideia.

Quando ouviram o apito do trem e sentiram que a velocidade estava diminuindo, o trem estava parando. Ficaram em alerta e correram para o último vagão, por onde haviam embarcado.

Ao abrirem a porta sentiram o ar congelante mas ficaram animados ao verem uma estação de trem iluminada em meio a escuridão total em volta.

Fim da parte 2

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 09/11/2017
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