O TREM EXPRESSO - Parte 1

William olhou no relógio que marcava poucos minutos para as oito da noite. Caminhou pelas ruas frias daquela cidadezinha ao pé das montanhas rochosas e observou o pouco movimento de pessoas andando na rua. Pouco depois de dobrar a esquina chegou ao bar onde havia marcado o encontro com seus amigos.

Era um homem de meia idade procurado pela polícia em alguns estados por roubo a banco, um tipo de crime que aconteceu muito naqueles anos 40. Mas agora era 1948 e William sabia que o tempo estava acabando. Por isso planejou um ultimo assalto para depois ir viver na America do Sul, onde haviam praias maravilhosas e onde o custo de vida era barato.

Ele entrou no bar e deu uma olhada rápida e se sentiu seguro. Apenas poucas pessoas, alem do gerente, das garçonetes e seus amigos. Eram 5 homens de confiança de William que haviam trabalhado com ele em outros assaltos e assassinatos para a máfia, coisa que William havia feito por muitos anos.

No grupo estavam Mccain, conhecido como o Irlandês, Tompson, Jack Lee, Albert Monson e John Hinkley. Eram mais jovens que William, todos na casa dos 30, apenas o irlandês com 42 anos. Mas todos muito experientes e de confiança. Conversaram de forma animada, beberam seus drinques e acertaram os últimos detalhes do assalto ao banco da cidade perdida no pé das montanhas rochosas.

Uma vez por mês o banco da cidade recebia os sacos com dinheiro para o pagamento dos trabalhadores das fabricas de todas as cidades da região. O dinheiro chegava de trem e ficava no banco apenas uma noite para no dia seguinte, seguia via carros forte para cada cidade.

Era uma chance de ouro para ele e o grupo. Principalmente porque William sabia que estava sendo seguido pelo FBI. Um amigo da máfia o alertou antes de sair de Nova Iorque, como reconhecimento pelos anos de serviços prestados à máfia, que havia toda uma operação para prende-lo e que o melhor era que ele saísse do país. Mas William não tinha dinheiro para viver sem trabalhar e por isso planejou seu ultimo assalto. Passou meses de cidade em cidade com documentos falsos e com vários disfarces. Quando sentiu que não estava sendo seguido entrou em contato com o grupo e os chamou para o ultimo assalto.

Ja eram quase 22:30 quando eles se despediram na porta do bar e cada um foi para seu lado. William que era muito amigo do Irlandes foi conversando com o amigo até o hotel onde o amigo se hospedou e de lá William seguiria para o apartamento alugado onde morou nos últimos dois meses a fim de estudar a cidade, rotas de fuga, movimentação da polícia, etc.

Quando estavam quase chegando ao hotel onde o Irlandês se hospedou passaram por um beco escuro onde William sentiu uma mão fria no seu pescoço e uma voz envelhecida que pedia um trocado qualquer. O Irlandês reagiu rápido e empurrou a velha que se caiu assustada no chão pedindo para não ser agredida ao que William o interrompeu e ajudou a velha a ficar de pé. William olhou para o rosto cansado e sofrido da velha e sentiu pena dela. Enfiou a mão no bolso e tirou várias notas e deu a ela que agradeceu muito e depois pegou nas suas mãos e lhe olhou nos olhos com muita pena e disse que ele deveria ter escolher bem o caminho que iria tomar para não sofrer mais do que merecia.

Aquilo deixou William assustado e pensativo. Só então quando a velha se afastou andando com dificuldade pela calçada iluminada foi que William notou que era uma velha cigana. Foi então que William ficou mais assustado ainda ao que o Irlandês lhe perguntou se queria que ele fosse matar a velha ao que William respondeu que não, de jeito nenhum, deixe aquela pobre senhora seguir o seu caminho, respondeu William. No fundo William não era um homem de natureza má ou perversa, mas apenas um produto das ruas onde se criou desde pequeno. Só usava a violência quando era necessário e nunca havia matado crianças, idosos ou pessoas com deficiência. Tinha seu próprio código de ética se é que se pode chamar assim.

Depois de se despedir de seu amigo Irlandês foi para seu apartamento pensando nas palavras da velha cigana. William não conseguiu dormir direito naquela noite.

No dia seguinte, exatamente às 15:00 horas o grupo entrou no banco da cidade. Jack ficou no carro esperando com o motor ligado. Tudo havia sido planejado nos mínimos detalhes. Um avião os esperava em uma pequena fazenda afastada. Entrariam e sairiam em 3 minutos, nem um segundo a mais, como sempre fizeram. William anunciou o assalto e seus homens espalhados no banco renderam os vigias. O irlandês levou o gerente do banco ao cofre e ele abriu e então alguns funcionários colocaram todo o dinheiro em sacos. Realmente havia muito dinheiro ali para garantir uma aposentadoria segura.

Do lado de fora, trabalhadores faziam um obra nos esgotos da cidade e Jack aguardava. Após exatos 3 minutos Tompson, Albert e John Hinkley saíram do banco carregando cada um seu saco de dinheiro nas costas e segurando sua metralhadora, seguidos por William e pelo Irlandês. Foi quando o inferno começou.

John levou um tiro no tórax, na altura do estomago e caiu mas se levantou rapidamente ajudado por Albert. Tompson largou seu saco de dinheiro e abriu fogo junto com William e o Irlandês que também largaram os pesados sacos de dinheiro a abriram fogo com suas armas. Em cima dos telhados vários agentes do FBI abriram fogo e os trabalhadores da obra se revelaram agentes do FBI disfarçados e também atiravam em William e seu grupo. Além disso, diversas viaturas de polícia se aproximavam com vários policiais armados que abriam fogo por todos os lados.

O assalto foi um desastre. Albert levou John para o carro seguido por Tompson e o Irlandês, o último a embarcar no carro foi William que teve a certeza que foram traídos. Alguém do grupo havia denunciado eles. Ma quem?

Jack fez o melhor que pode. Acelerou e empreendeu uma fuga audaciosa por entre as ruas da pequena cidade em direção a fazenda onde o avião os aguardava. O carro era o melhor que poderiam ter, totalmente adaptado para fuga, com motor modificado, suspensão reforçada, cambio automático, um verdadeiro carro de corrida, muito, muito veloz. Se conseguissem pegar o avião conseguiriam uma fuga segura e ainda poderiam pensar em fugir. Não tinham todo o dinheiro que roubaram apenas dois sacos mas ao menos não iriam para a cadeira elétrica na prisão. William calculou que o dinheiro daria apenas para garantir, a cada um do grupo, a compra de uma passagem segura pelo México ou pelo Canadá para fora dos EUA. Mas nem tudo é o que se espera.

Ao se aproximarem na fazenda William percebeu que a bandeira branca não estava no alto do celeiro. Era a senha que havia combinado com o piloto para saber se era seguro se aproximar. William então avisou a Jack que desesperado ainda insistiu em prosseguir no caminho apenas para ouvir o som das viaturas saindo da fazenda em direção a eles. Fez meia volta e acelerou fundo na estrada pelo caminho de volta.

William calculou que agora a chance de escaparem era mínima. John sangrava muito mas se aguentava pois era muito forte e o ferimento não era tão grave assim se fosse tratado logo, talvez até conseguisse sobreviver se conseguissem escapar e encontrar logo um médico.

William sacou um mapa da região e olhou as rotas alternativas. Todas rodovias interestaduais que seguramente teriam bloqueios dos federais. Estava quase perdendo a confiança quando viu uma estrada que seguia em direção às montanhas rochosas e que passava por uma grande floresta onde havia uma linha ferroviária. Pensou que se conseguissem se esconder na floresta até pegarem um trem poderiam escapar. Era a melhor chance que eles tinham.

Mostrou então a Jack o caminho que deveriam seguir. Neste momento se lembrou novamente das palavras da velha cigana mas seguiram pela velha estrada sendo seguidos ao longe pela polícia. A região era coberta de árvores e logo chegaram a floresta e passaram a seguir por uma estrada não pavimentada e escura devido à copa das árvores que cobria a luz do sol. John se aguentava com dores fortes mas aos poucos ia perdendo as forças. O resto do grupo em silencio. Todos pensavam o mesmo. Quem seria o delator?

Já anoitecia quando seguiram pela estrada velha na floresta cada vez mais densa. Haviam conseguido uma boa vantagem em relação aos carros da polícia pois já não ouviam a sirene nem viam as luzes fazia quase uma hora, como se já não estivessem sendo perseguidos.

William começou a tranquilizar o grupo e sentiu que tinham uma boa chance de se esconderem na floresta e pegar um trem na linha ferroviária que cortava aquela mata. Jack era um excelente motorista e manobrava o carro veloz, adaptado para fugas em alta velocidade, com grande habilidade e perícia. Então ao dobrar uma curva Jack pensou ter visto uma menina com um vestido branco ensanguentado olhando para ele fixamente, olhos vazios, como se estivesse morta ao que Jack deu um grito e tentou desviar o carro mas acabou derrapando e perdendo o controle, saindo da estrada e batendo em uma árvore.

Jack ainda estava assustado e gritou aos companheiros do grupo querendo justificar o que houve mas não era necessário pois todos haviam visto a mesma coisa. Acharam estranho demais mas o medo de serem pegos superava qualquer outro acontecimento naquele momento.

Felizmente ninguém se feriu mas o carro ficou inutilizado. Teriam que seguir a pé. William minimizou o fato dizendo que era hora de deixarem o carro e procurarem a linha ferroviária que ficara uns 400 metros ao sul da estrada da floresta.

Eram umas 19:10 quando começaram a descer por uma trilha em busca da linha ferroviária. John agora estava muito fraco e debilitado e pediu para deixarem ele ali na floresta mas nenhum dos companheiros quis atender o pedido. Tompson ajudou John a caminhar pela trilha e prosseguiram. Após uma meia hora aconteceu o que William mais queria. Ouviram um apito de trem o que indicava que a linha ferroviária estava próxima.

O grupo apertou o passo em direção ao som e logo viram o que parecia ser uma antiga estação de trem abandonada no meio da floresta. Já era noite, por volta de umas 20:00 quando chegaram perto de uma clareira e viram a estação bem próxima e o trem parado, um trem movido a carvão, com muita fumaça saindo da chaminé. Então de repente o apito fez sinal novamente e o trem começou lentamente a se mover.

William correu na frente e entrou primeiro para logo em seguida ajudar John, muito debilitado, a subir com dificuldade no vagão de passageiros. Albert, Tompson e o Irlandês subiram em seguida. Olharam para trás e viram a estação no meio do nada desaparecer na escuridão da noite.

Ao entrarem no vagão de passageiros notaram que todos os passageiros estavam dormindo. Todos dormindo profundamente exceto pelo fiscal do trem que de pé os observava com um sorriso no rosto e um olhar penetrante que os fez gelar de medo.

Tompson tratou de ficar na frente de John que vestia o casado de Tompson para esconder o ferimento e era ajudado por William para disfarçar a situação do amigo ferido. Albert que era o mais comunicativo e articulado se adiantou e falou com o fiscal com a educação de um cavalheiro inglês pedindo desculpas pelo fato de ele e seus companheiros terem entrado no trem às pressas sem antes terem comprado as passagens mas que agora gostariam de pagar por todas as 5 passagens e queriam oferecer uma gorjeta pelo inconveniente.

O fiscal ouviu tudo com um sorriso no rosto, sem falar uma só palavra e sem desviar o olhar do grupo para em seguida dizer ao grupo que não havia problema algum e que eram todos bem vindos para a próxima viagem. O olhar penetrante com o sorriso forçado no rosto era assustador.

Albert pagou as passagens com uma nota de 100 dólares e disse para o fiscal ficar com o troco. O fiscal pela primeira vez olhou para Albert e agradeceu pedindo ao grupo que o seguissem.

Seguiram o fiscal pelos corredores sem nenhum sinal de vida. Nenhum passageiro andando pelos vagões. O fiscal foi até o fim do vagão e abriu uma cabine confortável, perguntando em seguida se queriam mais alguma coisa, uma bebida, um lanche, coisas do tipo. William agradeceu mas disse que o grupo estava cansado e que iriam descansar um pouco.

O fiscal respondeu dizendo que o jantar seria servido às 21:00 em ponto, no vagão restaurante para em seguida desaparecer no corredor escuro.

Albert então disse um puta que pariu e falou que poucas vezes tinha sentido medo na vida mas que aquele fiscal fazia ele sentir medo e que o filho da puta parecia o próprio Conde Drácula. Os outros companheiros voltaram a atenção para o John Hinkley que estava muito fraco agora devido aos ferimentos e à perda de sangue. Sentia frio.

John agora já quase não dava sinais de vida. Estava morrendo, havia perdido muito sangue. Falava com uma voz fraca e por um instante pareceu ver coisas na cabine e disse palavras que os outros amigos não entenderam e então apagou por uns minutos para logo em seguida, como que em um último esforço disse aos amigos, chamando-os pelo nome que precisaram sair daquele trem imediatamente. Que deviam sair enquanto ainda podiam. Mas nenhum dos amigos compreendeu o que John quis dizer. Então John agradeceu os amigos e uma ultima vez os mandou sair do trem imediatamente para então fechar os olhos e expirar ali na cabine.

Os companheiros ficaram abatidos com a perda do amigo. William olhou para o Irlandês que devolveu o olhar sério e com ar de preocupado. Desta vez, foi o Irlandês que se lembrou das palavras da velha cigana para William.

Longe dali, na estrada que conduzia a floresta um grupo de policiais aguardava quando chega de helicóptero um delegado do FBI muito nervoso querendo saber porque os policiais e os outros agentes não continuaram a perseguição. Um dos agentes disse que os policiais haviam respondido que iriam até ali e não dariam mas nenhum passo. O Delegado furioso gritou com os agentes querendo saber porque ao que o xerife da cidade perguntou se o delegado conhecia aquela região e sabia o que havia acontecido naquelas matas e principalmente nas montanhas rochosas. O delegado respondeu que não tinha a menor idéia mas que não importava pois a prioridade era capturar o bando de William Colson assaltante de bancos e assassino procurado em 4 estados.

O xerife respondeu que houve coisas terríveis que aconteceram no passado nas montanhas devido a um deslizamento de neve por conta de uma grande tempestade. Disse que durante aquele inverno rigoroso não foi possível enviar equipes de resgate à montanha pois o frio era intenso e as trilhas foram bloqueadas. Somente 2 meses depois depois que o inverno passou e que a neve derreteu que foram contadas pelos poucos sobreviventes que ficaram loucos tudo o que aconteceu naquelas montanhas e por isso muitas pessoas não acreditaram. Entretanto, depois de terem retornado os sobreviventes fugiram de casa para a montanha, passando pela floresta e acabaram morrendo por lá. Desde então todos da cidade e mesmo da região evitavam a floresta e as montanhas por considerarem um lugar maldito.

Enquanto o xerife falava os outros policiais se aproximavam e ouviam com atenção e apreensivos e quando o xerife terminou de relatar a situação daquela região para o delegado todos os policiais locais decidiram que não entrariam na floresta à noite sob nenhuma circunstancia.

O xerife reforçou dizendo ao delegado que já era noite e já não era mais hora para estarem ali, mesmo para aquele grupo armado, pois não era lugar seguro e que ele mesmo estava voltando para a cidade e recomendava que todos os policiais locais fizeram o mesmo naquele momento e que voltassem juntos, que ninguém voltasse sozinho por aquela estrada durante a noite.

O delegado do FBI sentiu que havia algo errado ali e não quis arriscar, seja lá o que fosse. Então mandou mensagem de rádio para os helicópteros de apoio patrulharem a área em torno da floresta e todas as vias de acesso para em seguida ordenar aos agentes que prosseguissem as buscas pela manhã junto com a polícia local.

Fim da parte 1

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 05/11/2017
Reeditado em 05/11/2017
Código do texto: T6162683
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