Memórias de Um Crime em Família

Memórias de um Crime em Família

Havia quase um mês que a pequena cidadezinha do interior de São Paulo estava chocada pelo misterioso desaparecimento da menina Yohanna,  de apenas nove anos de idade.

Yohanna era uma garotinha aparentemente alegre e vivia com uma tia e seus avos numa das melhores casas da cidade.

Os avós eram senhores distintos, ambos aposentados com ótimos salários, passavam seus dias apenas se dedicando ao tricô , bordado, croché ou a assistir velhas novelas mexicanas na belíssima televisão te tela fina que fora deixada de propósito no canto mais iluminado da sala.

Os pais da menina eram dois adolescentes na época que a pequena nasceu. O rapaz, com apenas 17 anos tinha o sonho de ser vocalista numa banda de Rock. Mandava muito bem no inglês , mas isto na era suficiente ... A mãe de Yohanna mal acabara de completar 15 anos e,num ato de desespero, deixou a pequena com sua irmã, que era 18 anos mais velha que ela, e daquele dia em diante nunca mais foi vista.

No fundo, Marília, a tia da criança, era revoltada com a vida que levava. Odiava crianças e , na ausência de seus pais, usava nomes pejorativos para se referir à sobrinha.

Menos de um mês antes do desaparecimento de Yohanna, a tia foi vista agredindo a garota em publico. Nao chegou a ser repreendida por este ato, mas este e mais outros atos levaram a policia até ela naquela tarde.

Era tarde de primavera. Tia Marília descansava tranquilamente no sofá da sala enquanto seus pais haviam saído, como faziam todas as tardes para ver se alguém sabia do paradeiro da netinha.

Ao ouvir o ruído na porta, Marília ergueu o corpo preguiçosamente,sem preocupação alguma e foi em direção da entrada da casa. Seu coração bateu em sobressalto quando observou o ser fardado diante de si.

- O que deseja? - disse ela ainda com o coração acelerado.

O policial a olhou com certa repulsa e,por instantes, observou da porta mesmo, parte do interior da casa.

- Bela propriedade, senhorita Marília. Sua sobrinha devia se divertir muito no quintal.

Marília respirou pausadamente e abaixou os olhos .

- Quando vao nos dar a noticia do paradeiro da pequena ? - perguntou ela.

- É isso que viemos fazer exatamente, senhorita. Permita - me entrar.

Marília congelou dos pés a cabeça. Como assim eles vieram falar pra ela onde estava Yohanna? 

- Claro, senhor. Me acompanhe. Mas já vá me dizendo....onde viram minha sobrinha ? Ela esta bem? Esta em algum abrigo? Passa necessidades?

O policial sorriu ,mas dessa vez com ironia.

- Senhorita Marília,não sei se você tomou conhecimento, mas de uns tempos pra cá, desde o desaparecimento de sua sobrinha,recebemos inúmeras denuncias de seu comportamento com ela. Ao investigarmos, descobrimos que Yohanna nao foi a escola no dia do sumiço, como você mesma havia dito.... Logo, achei necessário procurarmos por ela no interior de sua residência. Nao se preocupe, seremos breves. Antes que seus pais cheguem já teremos terminado.

Era noite chuvosa e aparentemente tranquila,daquelas que a gente so Ve no finalzinho do mês de julho. O último dia de férias da pequena Yohanna que apesar de todos os maus tratos que sofria da tia havia aproveitado bastante o mês de repouso em casa e estava ansiosa para voltar às aulas no dia seguinte. Marília estava aos pés do fogão preparando a janta e o entra e sai da criança de cinco em cinco minutos da cozinha estava a deixando louca. Ralhou com ela, alegando estar sem paciência.

Quase dez minutos depois, a garotinha adentra a cozinha novamente.  Indignada com a desobediência da criança e lembrando que fora praticamente obrigada a cuidar da menina desde que sua irmã fora embora, a estrangulou de maneira selvagem, soltando a garota apenas quando a sentiu sem vida em seus braços. Uma mistura de alívio e desespero tomou conta de si. Ela precisava desfazer daquilo. So cabia a ela saber esconder aquele corpo e deixar o tempo passar. Era so esperar 48 horas para que pudesse alegar um desaparecimento e ir a policia. Poderiam pensar que algum maníaco tivesse a pegado na saída da escola ou coisa parecida. E a partir dai ela estaria livre da presença insignificante da garota e poderia viver sua vida de forma livre.

Jamais quisera cuidar da sobrinha. Seus pais que eram apaixonados por ela. Ate a voz daquela pirralha a irritava. A vida seguiria muito melhor sem ela.

Pegou o pequeno corpo já sem vida e carregou ate o sofá. Ela sabia que ali existia um vao. Coube Yohanna perfeitamente. Ela manteria a casa sempre cheirosa e arejada ... Jamais ninguém sentaria naquele sofá e nada seria descoberto.

Ao acordar de seus pensamentos ,Marília Ve o policial se aproximar do sofá.

- Não, este sofá e herança de família. Não mexa nele. Meus pais não vao gostar. - Disse ela coçando a cabeça.

Não obteve resposta.

Com movimentos bruscos, o policial mexia no sofá . olhou assustado para o colega como se tivesse descoberto algo.

- Adalberto, chame reforço. Aqui tem alguma coisa estranha....

A noite já estava prestes a cair quando os pais de Marília avistaram ao longe o alto muro da residência.

- Mais um dia de buscas e nada da nossa pequena. - resmungou a senhora segurando a mão do esposo.

Nada o senhor falou.

A noite estava tão tranquila e ele não queria quebrar aquela tranquilidade. Porém, a calma foi substituída por pânico quando viram a casa cercada por policiais, sua filha algemada e o corpo da netinha sendo levado, já fétido, dentro de um saco preto.

Mayara Morenna
Enviado por Mayara Morenna em 29/10/2017
Código do texto: T6156803
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