A ajuda
(Inspírado em uma história real)
 
Ao descer os degraus do vagão do trem, Joel Lages recebeu as geladas boas vindas do inverno milanês. Dormira profundamente nas ultimas horas a bordo de uma das confortáveis poltronas e agora, acordado, na gélida plataforma procurava com o olhar uma cafeteria que o ajudasse a passar os 15 minutos antes da continuidade da viagem até Roma. Enquanto caminhava ao encontro da porta abaixo do neon que anunciava o desejado café pedia aos deuses que não houvesse metade daquele frio no ar das terras do coliseu. Deliciou-se lentamente no aconchegante ambiente sorvendo seu delicioso café enquanto folheava o mapa que melhor o conduziria pela antiga sede do império. Nem percebeu o tempo passar, a não ser quando olhou através dos vidros da janela suada e viu os últimos vagões do trem passando irreverentes sem o avisar. A cidade não estava na programação do roteiro do seu trabalho, logo, sequer conhecia alguma referência na qual se baseasse para, a contragosto, decidir o que fazer, caso tivesse que pernoitar na bela e fria Milão. Arrastava as rodinhas da sua mala pela calçada da estação desorientado e chateado, quando um senhor de aparência distinta trajando um destacado sobretudo escuro o abordou parecendo adivinhar o que lhe estava acontecendo.
– Perdeu o trem, senhor?  
- Perdi sim. Respondeu meio confuso e um pouco surpreso com a abordagem enquanto notava uma pequena identificação de orientador turístico na lapela do italiano de meia idade.
-  O senhor sabe o horário do próximo trem para Roma?
- Amanhã às 08:00h.  Respondeu-lhe o outro sugerindo em seguida que sua melhor opção seria pernoitar na cidade e que indicaria o hotel mais próximo do outro lado da rua como a melhor alternativa no caso. Ao receber sinal de concordância, tomou-lhe a mala e os dois atravessaram a avenida que separava a estação do hotel.
Era um prédio antigo e Joel Lages notou que não havia recepcionista no térreo daquele hall acanhado e sombrio. Seguiram até o elevador em silêncio, principalmente pela dificuldade de comunicar-se por qualquer idioma. Nesse rápido e silencioso intervalo vários pensamentos saltitavam na mente de Joel: desde a preocupação com essa inesperada situação até o desejo ardente de estar naquele momento em sua terra com seus amigos. Lembrou de relance de sua querida e falecida irmã que há tão pouco tempo se fora. A porta do elevador abriu e mais à frente um sonolento e leitoso rapaz surgia sob a luz fraca da recepção estranhamente situada no terceiro andar.
Antes de qualquer iniciativa sua o senhor italiano pegou a chave de um dos quartos das mãos do jovem e rapidamente seguiu com a mala puxada ao lado em direção do fim do velho corredor. Abriu a porta, puxou a mala para dentro acompanhado pelo apreensivo Joel.
- Passe a carteira! Cartões! Cheques de viagem! Vamos, vamos! Tomado de um susto estonteante e do pavor de ver um cano de revolver apontado em direção ao seu peito, numa fração de segundo, Joel lembrou de sua irmã Marilda e pediu-lhe desesperadamente ajuda em pensamento: Minha irmã! Onde você estiver! Me ajude!
Ao fixar o olhar no homem que lhe intimidava incisivamente notou uma estranha mudança no seu semblante. Seus olhos se esbugalharam, sua face esbranquiçara e o homem saiu às pressas quase voando pelo corredor esquecendo a razão de sua malfazeja empreitada.
Joel virou-se, trancou a porta e deitou-se tentando pensar que não havia entendido o que acontecera, mas ele sabia muito bem.