Noite de Sangue
Jonny Adams tinha acabado de sair da universidade na qual era professor titular de economia. A noite já mostrava todo seu esplendor com uma lua que brilhava em tons sanguíneos. Jonny estava sozinho e como não tinha carro, porque odiava dirigir, fazia o trajeto da universidade a sua casa e vice-versa sempre a pé. Morava na Usina, um bairro da grande Tijuca, mas a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) era no Maracanã. Era um longo trajeto a pé, mas Jonny gostava de caminhar e como estava “gordinho”, tinha mais um incentivo para realizar essa estirada.
Na rua não se via vivalma. Já era uma hora da manhã, de uma terça-feira, que pelo céu estrelado, prometia ser quente. Muito quente. Jonny andava despreocupado carregando, numa mala 007, as provas finais de seus alunos do curso de introdução a Macroeconomia. De repente, ouve o piado de uma coruja três vezes. ― Nossa! Isso dá azar! ― pensou Jonny enquanto se benzia. Subitamente, Jonny escuta passos rápidos atrás dele. Ele vira-se para trás, pensando tratar-se de um gatuno, mas não vê ninguém. Nem um vulto. Mas os sons continuavam e o medo do professor universitário, estampado pelo suor gélido que lhe escorria da testa, só aumentava. Jonny começa a correr tentando livrar-se do ser que o perseguia. Não adiantou. Os barulhos de passos aumentaram e a intensidade deles era como num jogo de “Space Invaders” da Atari quando os invasores estão prestes a pousar na Terra.
Jonny procura desesperadamente algum lugar aberto para se refugiar. Mas não havia nenhum. Nem farmácia. Nem bar. Nada. Ele, o nada e a entidade que o perseguia sabe-se lá com que finalidade. Este jogo de gato e rato continuou até Jonny chegar à encruzilhada em que ficava seu prédio. A entidade, um ser de forma espectral e de cor mais negra que a asa da graúna, se revelou para Jonny e... o fulminou!
Eram seis da manhã, quando o corpo de Jonny foi encontrado completamente carbonizado. As provas de seus alunos estavam espalhadas ao redor do corpo do professor universitário em um círculo macabro. Uma delas, no entanto, se destacava por estar bem em cima do corpo e escrita toda em sangue. Ela estava assinada por Lucas Mário, ex-aluno de Jonny Adams. Lucas era viciado em jogos de computador, praticante de magia negra e ocultismo, e usava drogas pesadas como morfina e heroína. Lucas Mário foi reprovado por Jonny por excesso de faltas, sem que lhe fosse dada a oportunidade de fazer a prova final, que o impediria, caso ele passasse, de ser jubilado da universidade. Lucas cometeu o suicídio no mesmo dia da realização da prova final. Um suicídio horrendo: Lucas cortou seus pulsos repetidas vezes, sobre uma bacia negra rodeada de velas pretas e vermelhas, até sua vida se esvair de forma bem lenta. No interior da bacia, cheia do sangue do jovem estudante, havia um pedaço de couro, em formato retangular, onde se lia o nome de Jonny Adams. O pedaço de couro estava crivado de alfinetes e de objetos ritualísticos de magia negra. Com certeza um ritual satânico. Um fim triste e sinistro para discente e docente da Uerj. Uma noite de sangue...