A vela
- Coloque suas duas mãos sobre a mesa. – Disse a velha vestida de branco e com uma voz carregada. – Tente não pensar em nada.
Luiza não conseguiu pensar em nada. Na verdade ela estava pensando em como se pensa em nada. Mas isso não importava de verdade.
- Ouça o som do relógio. É muito importante que se concentre nele. Quando eu pronunciar as palavras da magia, você estará sozinha.
A velha pronunciou palavras num idioma desconhecido. Luiza segurou-se para não rir. Mas ao invés de graça ela sentiu medo. Abriu os olhos e estava num lugar completamente escuro, exceto por uma vela que brilhava fraca diante dela. Era a sala da velha, era a vela que estava acesa na sala da velha, mas não havia nada ali além da vela. Não podia ser a sala da velha.
Luiza tentou gritar, mas a voz não saiu. Ela sentiu o desespero tomar conta do seu peito, não sabia o que fazer. Tentou se acalmar. Tomou alguns segundos para pensar e decidiu que deveria sair dali e procurar aquilo que a fizera ir até ali.
Tomou a vela nas mãos e seguiu adiante. Percebeu que o chão fazia estalos ao pisar, como se fossem galhos secos. Ela tremia, fazendo a vela se movimentar em sua mão direita.
Chegou no que parecia ser uma escada descendente. O espaço, que antes parecera ser amplo e aberto em meio àquela escuridão, agora se apertara num corredor estreito. Andou por um tempo e o corredor começou, lentamente, a iluminar-se com uma luz vermelha.
O piso já não érea de galhos, mas de pedra. E um longo salão se abria a sua frente. Ladeando-o, encontravam-se estátuas humanas com capuzes. A sala negra, exceto pela figura nua que se encontrava a sua frente. Era a mulher mais branca que Luiza já vira e sua beleza era igualmente ímpar.
Luiza foi tocar a mulher, que parecia de cera. No toque, seu rosto se transformou numa máscara vermelha e chifruda, com um sorriso maléfico e diabólico. Uma risada cortou o silêncio que envolvia a sala. As estátuas encapuzadas começaram a dançar uma melodia satânica. A vela se apagou.
Luiza acordou do transe, sua respiração estava ofegante. Gritava um grito desesperado. Sua feição era de medo e horror.
- Luiza, você tem visita. – A enfermeira empurrava a cadeira de rodas de Luiza. Era dia de visita no manicômio.