A SOMBRA NA PAREDE

Não tenho vícios, no sentido mais pejorativo, vícios de drogas, de bebidas, de cigarros; porém possuo o que posso chamar de vício também, mas com uma dose de eufemismo, simplesmente, denominar mania. Coleciono relógios de madeira centenários e como dizem os paulistas "são da hora!"

Passo meus tempos livres pesquisando artigos em sites de compras, de leilões e quando dá , visito antiquários. Estes hábitos são recentes, comecei comprando um de mesa, há alguns meses e depois não parei mais. Fico imaginando quais seriam as histórias daqueles objetos, a quais famílias pertenceram; provavelmente as casas em que foram abrigados nem existam mais, nem os olhos, contemplativos observando as horas. Quem os conservou tão bem, ao ponto de chegarem às minhas mãos? Por quais relojoeiros passaram? Como atravessaram os oceanos, quais mãos davam cordas, quais mãos os limpavam? Que segredos testemunharam? O mistério atrai. Podemos personificá-los, atribuir a eles, sentimentos, olhá-los de maneira sinestésica.

Todos juntos são lindos, todos de madeira escura e trabalhada, ao mesmo tempo, são sinistros, principalmente quando batem as horas cheias com seus sons peculiares, dá um misto de admiração, prazer e medo. Esta semana, decidi dar um tempo, até para a minha alma descansar, antes que vire TOC ( transtorno obsessivo compulsivo), um distúrbio de ansiedade.

Recentemente, fui tentar saber o porquê de os relógios antigos, a quem chamo carinhosamente de meus bebês, atrasarem um pouco, todos os dias, aí me lembrei da notícia sobre o último asteroide que passou rente à Terra ter alterado seu eixo, a ponto de acelerar o movimento de rotação. E, pasme, descobri com horror, as pesquisas de conceituado cientista alemão, Dr. Schumann, este afirmou que o dia, agora, só tem 16 horas e o planeta não gira mais a 7,8 Hz, mas a 12 Hz e se atingir 13 Hz, vai parar de girar sobre seu eixo. Deus me livre! Seria apocalíptico, desastroso, viriam catástrofes naturais!

Ainda sob efeito do abalo desta descoberta, entrei na cozinha para beber uma água, meio na penumbra, contra a luz da luminária e vi uma sombra horrorosa na parede. Era para estar ali a minha sombra, no entanto, a projetada jazia distorcida com dedos longos e movimentos próprios, parecia a silhueta do Nosferatu, um filme clássico de 1922, de Friedrich Wilhelm Murnau com Max Schreck. De repente, ela, velozmente foi até a sala, onde estão a maioria dos relógios, ficou enorme, engoliu a todos e desapareceu junto com eles. Segundos depois, reapareceu, vomitando de volta um por um na parede, mas não na mesma ordem em que estavam. A sombra ignorava a minha presença, à medida que os expelia, ao mesmo tempo que emitia um misto de grunhidos com rosnados graves, ia ficando mais fraca, até sumir por completo.

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Muito obrigada pela sua leitura! Se tiver curiosidade, escute meus áudios musicais! Beijão

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 23/08/2017
Reeditado em 30/08/2017
Código do texto: T6093181
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