"Sympathy for the Devil" (Simpatia pelo Diabo)
“Sympathy for the Devil” é uma música muito famosa dos Rolling Stones, uma popular banda de rock inglesa contemporânea dos não menos famosos The Beatles. Diz a lenda que “Sympathy for the Devil”, é a música escohida pelo Diabo para dar início ao Apocalipse.
E era exatamente esta música que tocava na boate Vem que Tem, onde Allan Dim enchia a cara de bebida como se não houvesse dia seguinte. Ele passava por graves problemas financeiros e já não sabia mais a quem recorrer.
Foi à boate Vem que Tem para tentar espairecer. Na carteira, tinha apenas seu cartão de crédito (bloqueado!) e trezentos reais. Sua conta bancária estava no vermelho há muito tempo. Nenhum amigo ou parente se dispôs a ajudá-lo e ele já devia dinheiro até a agiotas. Escutando a música ele teve uma ideia. Não era um homem de fé, mas decidiu fazer um pacto religioso. Não com Deus, mas com seu maior inimigo: o Diabo!
Allan foi até o banheiro da boate e disse em voz alta: — Diabo, desejo fazer um pacto com você. Se me ajudar a ficar rico e famoso eu farei o que você quiser. Se concorda, mande-me um sinal. Neste exato instante, a luz do banheiro se apagou e se acendeu 3 vezes. O pacto com o Diabo estava selado.
Allan Dim pagou ao barman da boate o que devia e foi para casa. Morava na Tijuca, em um apartamento de quarto e sala alugado. Allan era escritor e estava tendo um bloqueio criativo. Não conseguia escrever nenhuma boa história e isto se refletia em sua conta bancária. Foi dormir com a música “Sympathy for the Devil” reverberando em sua cabeça.
Acordou cedo, às 6 da manhã, e, depois de tomar “o café da manhã”, foi direto para o computador. Tivera um sonho inspirador. Uma ótima ideia para um livro. Escreveria um romance que teria como pano de fundo o Terceiro Segredo de Fátima. Ele não seria o atentado a um Papa, como foi divulgado pela imprensa, mas sim a vinda do Anticristo à Terra. Era um assunto muito polêmico e um ótimo mote para um romance.
Allan escreveu durante 24 horas seguidas. Só se levantou uma vez para ir ao banheiro e para atender sua mãe ao telefone. As palavras, frases e parágrafos vinham em profusão tamanha a inspiração.
As 24 horas de trabalho árduo foram profícuas. Allan terminou o livro e ligou para seu agente literário para lhe mostrar seu trabalho.
— Marcos?
— Sim, Allan. O que você manda?
— Eu gostaria de lhe mostrar meu novo romance. Podemos nos encontrar hoje?
— Sim, claro, Allan. Onde?
— Pode ser no restaurante Come Bem. — Disse Allan, faminto.
— Que horas? — Perguntou Marcos Smith, um dos mais famosos agentes literários do Rio de Janeiro.
— Onze horas. — Respondeu Allan.
— Ok. Está marcado, Allan. Nos vemos lá. — Respondeu Marcos Smith bocejando e desligando em seguida.
Allan Dim tinha tempo de sobra para se encontrar com o homem que poderia fazê-lo voltar ao topo dos livros best sellers (mais vendidos). Tomou um banho e foi tirar um cochilo. O despertador tocou, tocou e nada de Allan acordar. Quando acordou faltavam apenas cerca de dez minutos para o horário marcado no restaurante. Allan se vestiu rapidamente, pegou seu trabalho e foi correndo para o restaurante. Felizmente o restaurante era perto e Allan se atrasou apenas quinze minutos.
Marcos Smith já esperava Allan numa mesa, no fundo do restaurante, de frente para rua. Allan Dim comeu como um rei. Pediu tudo que tinha direito e mais um pouco. Parecia até que estava condenado à morte e que aquela era sua última refeição. Marcos Smith não se importou nem um pouco em pagar a vultosa conta. Ficou de estudar os originais do livro e de dar uma resposta para Allan em 24 horas.
Allan estava com a geladeira vazia. Nela só tinha água e meio litro de coca-cola já sem gás. Na carteira, tinha apenas 50 reais. Gastara o restante em bebida na boate onde fizera o pacto com o Diabo.
No dia seguinte, Marcos Smith ligou para Allan elogiando seu trabalho. Marcos acenou com um adiantamento de 15.000 reais e a promessa de um contrato vantajoso para Allan. Não era muito, mas dava para pagar o aluguel, comprar comida e pagar o que devia aos agiotas. Allan aceitou. No dia subsequente, uma quarta-feira, Allan assinou o contrato com uma editora muito famosa arranjada por Marcos Smith: a Seven. Já tinha uma simpatia pelo número sete, agora então, nem se fala. Allan receberia trinta por cento sobre o valor de capa de cada livro vendido. A tiragem inicial seria de 10.000 livros.
E o preço de capa seria de vinte e cinco reais. O livro tinha 144 páginas. E Marcos acreditava que ele seria um best seller. Allan Dim torcia para isso.
Passados 9 anos, 6 meses e 2 dias, o livro de Allan Dim era um sucesso. Ele já tivera várias edições nacionais e até internacionais! Allan Dim estava no topo dos livros “best sellers” de jornais renomados como o The New York Times, o The Sun e o Bild . Ele estava rico e famoso. Tinha se casado e era pai de gêmeas; possuía até uma Ferrari vermelha. Um luxo só!
Passou-se então uma semana e Allan Dim recebeu, em sua casa, um enigmático bilhete num envelope todo preto: “Meus parabéns, Allan Dim! Você está rico e famoso! Não era o que você queria? Agora chegou a hora do nosso acerto de contas. Me encontre amanhã, no local onde você selou o acordo comigo, às 13 horas. Lu.” Allan Dim não tinha a míníma ideia de que acerto de contas e de que acordo o tal de Lu estava falando. — Será que ele é um agiota pra quem eu fiquei devendo dinheiro? — Pensou Allan Dim fazendo um esforço de memória para se lembrar. Parou para pensar e se lembrou do pacto que fizera com o pior agiota de todos: o Diabo. “Lu”, nada mais era que a abreviatura de Lúcifer. Naquele dia, Allan Dim não conseguiu dormir. Não disse nada a ninguém sobre o bilhete que recebera ou sobre o pacto que fizera na boate.
A manhã chegou com um sol lindo. Allan Dim não queria perder sua alma. Resolveu ir à igreja e falar com um padre. Padre Alexandre Calco escutou toda a história de Allan, desde a crise financeira até o infeliz acordo que ele fez com o demônio. Padre Alexandre o orientou a enfrentar o Diabo por maior que fosse seu medo. Allan agradeceu ao padre e foi ao encontro de seu destino. Exatamente às 13 horas, no banheiro da boate Vem que Tem, surgiu um homem assustador vestido de preto da cabeça aos pés.
— Você é Lúcifer? — Perguntou assustado Allan Dim.
— Eu? Não. — Disse o homem sinistro com uma risada demoníaca.
— Eu sou apenas um emissário dele. Na verdade, estou olhando para ele agora! Allan Dim olhou ao seu redor e viu que não havia mais nenhuma vivalma no banheiro. Só ele e o funesto homem de preto. A música “Sympathy for the Devil” ecoava em sua mente e em seus ouvidos:
“Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long years
Stole many a man's soul and faith
And I was 'round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate
Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game (...)”
(Por gentileza me permita que eu me apresente
Sou um homem de fortuna e requinte
Estou por aí já faz alguns anos
Roubei as almas e a fé de muitos homens
E eu estava por perto quando Jesus Cristo
Teve seu momento de duvida e dor
Fiz a maldita questão de garantir que Pilatos
Lavasse suas mãos e selasse seu destino
Prazer em lhe conhecer
Espero que adivinhe o meu nome
Mas o que lhes intrigam
É a natureza do meu jogo (…) ) [Letra e tradução extraídas do site Vagalume]
Seu livro e seu sonho inspirador para escrevê-lo nada mais eram que a memória do seu verdadeiro eu, que ficara reprimida no seu inconsciente para lhe fazer esquecer um destino pior que a morte, que o aguardava muito em breve...