TRABALHO DE AMARRAÇÃO

Vruuuummm

Era uma jovem inteligente, de muitos talentos, sempre amável e com um sorriso permanente estampado nos lábios. Seu apelido: bonita! Tinha uma amiga confidente no trabalho, mais velha vinte e cinco anos. Era uma mulher muito bonita, atraente, beirando os cinquenta anos. Só os mais íntimos, vamos dizer assim, os que frequentavam a casa da mulher mais velha, algumas pessoas que iam fazer pequenos serviços de eletricidade, encanamento, sabiam, como o também bonito marido, desempregado, a tratava muitíssimo mal. E ela era apaixonada por ele. Tudo isso gerava frustração, recalque.

A jovem, alheia aos detalhes da intimidade da outra, pois nem transparecia tanto, continuava contando de seus projetos quanto aos estudos, profissão e vida, das felicidades e feitos já vividos.

Depois de um tempo, a jovem, já em outro trabalho, do nada, começou a sentir muita tristeza, a pele e os cabelos começaram a ressecar, um cansaço extremo, mas não se abateu. Era jovem. Até que, por intermédio de parentes, foi avisada de que uma vidente a precisava ver, com urgência. Ela não acreditava nestas coisas, contudo, depois de relutar consigo mesma e com os familiares, resolveu ceder.

Foi à casa dela, que ficava no Largo do Machado. Era uma casa modesta, decorada com muito bom gosto. Chegando, foi logo dizendo que fizeram um trabalho violento de amarração. A outra, descrente, ouvia tudo com o desdém peculiar dos céticos. A senhora dizia que tinha sido feito por uma amiga com quem conversava muito e nada dela se lembrar da outra, pois já fazia alguns anos sem contato. Foi aí que a vidente a descreveu, como se estivesse ali com elas. Impressionante: peso, altura, idade, cabelos, cor da pele e detalhes, como manchas no rosto. Aí é que a pessoa veio à memória da outra.

- Mas como? Por quê? - Com decepção

- Por que você contava dos seus projetos para ela!

E foi um trabalho violento no cemitério, antes deste, um para enfraquecer o anjo da guarda, para tudo funcionar. A jovem ganhou da vidente um amuleto, que era para ser posto no ponto mais alto da casa, durante três dias e depois, pendurado numa árvore frondosa. No último dia, começaram a explodir lâmpadas na casa, a geladeira, a puxarem o rabo da gata.

Dali, tudo só piorou. A depressão aumentou, pediu demissão de um dos trabalhos, brigas frequentes, amores conturbados, ordem de despejo, processos na justiça. Tudo piorou depois da consulta.

Então, ela resolveu recorrer a um outro vidente, que disse que a tal vidente mexeu com seu Odu ( "Odu é uma espécie de signo que rege o nascimento de cada pessoa. A tradição iorubá aponta a existência de 16 Odus principais, cujas combinações perfazem 256 odus. Cada um de nós é regido por um desses Odus ou omó Odu. Cada odu é composto de uma infinidade de poemas, relatando a história da criação e o papel que os orixás e uma série de outras espiritualidades exerceram nessa história primordial. O conjunto dos odus forma, então, o texto canônico sobre o qual se sustenta a tradição de Ifá." Candomblé). E fez uma série de rezas e trabalhos, e continua fazendo, algumas coisas se abriram sim, porém outras exigem "limpeza" permanente.

A mandinga foi terrível demais. Maldade! Um trabalho de ódio mesmo, não merecido pela jovem, que sempre foi altruísta, sempre teve um coração bom e generoso, sempre teve muita sorte. E olha que já se passaram quinze anos e a jovem já não é mais jovem, conquanto, continua bonita.

Inveja mata a quem não se trata!

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 18/07/2017
Reeditado em 18/07/2017
Código do texto: T6057892
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