A ÚLTIMA CRUZADA!!!
-Vossa santidade, os homens do rei de Ferro estão vindo.
Os olhos cansados e o cabelo grisalho davam vida a figura santificada do papa Bento XI. Ele estava sentado no trono santo dentro da cúpula central do castelo papal no interior da França. O Papa sabia que os homens de Felipe IV, o rei da França, estavam indo em sua direção apenas com um objetivo, o de tirarem a sua vida. As decisões do seu antecessor e mantidas durante o seu comando da religião cristã, despertou a ira do rei de Ferro, em uma bula emitida pela igreja, era dado poder santo para o papa e ao clero em momentos de crise, que os tornavam maiores que os Monarcas. Mas Felipe IV recebeu a fama de implacável, não se curvando as decisões da igreja, ele tinha um confronto aberto com os papas.
Felipe IV era impiedoso e temido por seus inimigos. Um bispo chegou a dizer "Ele não se parece e sim com uma estátua", forte, belo e feroz, formavam o que era preciso para definir o jovem monarca. Em busca de fomentar sua ambição ele estava disposto a mostrar ao mundo que nunca antes houve um rei tão poderoso quanto ele.
Da cúpula papal era possível escutar os ruídos das armaduras da brigada real se aproximando. "O ruído da morte" era como o papa encarava.
-Deixem que eles venham bispo.
O bispo Visconde Ferraz era um dos homens da mais alta confiança do papa Bento XI. Ele não conseguia acreditar que o seu líder iria se entregar sem ao menos nem tentar fugir, para depois lutar. Ele até pensou em argumentar, mas sabia que nada adiantaria, então se calou.
Em questão de segundos a brigada real foi entrando na cúpula papal, todos vestindo armaduras pesadas e capacetes que escondiam o seu rosto.
Depois dos 30 primeiros soldados terem entrado na cúpula papal, vieram dois homens sem capacete. Um deles era careca e tinha o rosto liso que por muitas vezes escondia sua crueldade em um sorriso simpático. Alfrasco Giantonelli, um mercenário italiano que fora promovido a coronel pelo rei de ferro. O outro tinha os cabelos longos e um cavanhaque que lhe davam um estilo único, esse era o braço direito de Felipe IV, ninguém sabia teu nome, era apenas conhecido como "A Cimitarra".
Depois que os soldados reais pararam emparelhados uns com os outros os dois foram caminhando em direção a poltrona do papa, e assim um silêncio perturbador tomou conta da cúpula, até que Cimitarra disse:
-Papa, eu preciso que o senhor se levante e nos acompanhe.
O papa que até então estava de cabeça baixa, ergueu seus olhos em direção a Cimitarra e disse:
-Eu não vou me levantar.
Cimitarra fez um sinal com a sobrancelha para que Giantonelli fosse em direção ao papa, mas o mesmo parou quando ele começou a dizer:
-Aqui está o meu manto, e a minha coroa papal, estou sentado no trono que me foi concedido pela graça divina e aqui permanecerei até o dia da minha morte. Então senhores se quiserem me matar, terá que ser aqui, por que eu morrerei como papa.
Giantonelli se afastou, por um segundo ele passou a repensar o fato de atacar um papa que sempre fora visto com bons olhos por todo o continente.
Cimitarra ao perceber a hesitação de Giantolli, revirou os olhos, subiu até o trono papal e deu um tapa tão forte no rosto do papa que o mesmo caiu ao chão.
Papa Bento XI, demorou alguns segundos para recobrar os sentidos depois do tapa, ergueu seus olhos em direção a Cimitarra e disse:
-Esse rei que você serve é mesmo muito honroso, envia-me um homem sem nome, para fazer o serviço sujo por ele.
Cimitarra sorriu e disse:
-As pessoas me conhecerem como Cimitarra, não significa que eu não tenha nome. Eu me chamo François De Laserre. E o meu rei, não me enviou para fazer o seu serviço sujo, ele apenas me enviou na frente para não chamar a atenção indesejada.
-Do que está falando garoto? Perguntou o papa enquanto ainda estava caído ao chão.
Enquanto Cimitarra manteve seu sorriso de deboche estampado em seu rosto, um dos soldados reais emparelhados deu dois passos a frente e se virou para o papa. Sua postura não era como a de um militar, havia uma elegância natural em cada um de seus passos. Então com um leve movimento com os braços o soldado retirou seu capacete e um belíssimo rosto se mostrou para o papa. Sua pele era branca e seus cabelos eram curtos, o rosto jovem e um olhar sombrio, que demonstrava arrogância e prepotência. O rei Felipe IV se camuflou como um soldado para que ninguém o visse entrando no castelo papal na noite em que o papa seria executado.
-Vossa Santidade. A voz do rei era muito grave.
-O rei Belo. Respondeu o Papa XI se esforçando para se por de pé.
-Noite agradável essa, não achas?
-Não para todos nós. Mas para você talvez, a melhor que já teve até hoje.
Felipe entregou seu capacete para um de seus soldados e passos lentos com um sorriso irônico foi se aproximando do papa. Ele tinha o cabelo preto e o rosto liso, era alto e forte, e como diziam, extremamente belo.
-O senhor está certo papa. Essa é a melhor noite que já tive.
-Então, pare de enrolar e termine logo o que veio fazer aqui hoje, pois como eu já disse, se for pra morrer, eu morrerei como papa.
Felipe arrancou sua espada da cintura ergueu sua espada em direção ao papa o fitando nos olhos e disse:
-Isso não faz diferença pra mim.
-Você realmente se acha melhor do que o mundo não é Felipe?
-Não papa, eu não me acho melhor que o mundo. Eu me construí pra ser o melhor do mundo.
E antes que o papa pudesse dizer qualquer coisa, o rei Belo cravou sua espada no peito do papa que agora jazia morto na cúpula papal. Felipe assistiu com gosto a morte do papa pela sua espada, ele literalmente se deliciou assistindo aquela cena. E depois de alguns segundos, apenas retirou sua espada, e com as mãos limpou o sangue que a sujou. Antes de sair do castelo papal deu uma última olhada no corpo do papa e logo em seguida para o bispo Visconde, e com o braço apontado para Giantonelli, disse:
-Mate o bispo.
O mercenário italiano não pensou duas vezes em seguir aquela ordem, foi até o bispo que implorava por misericórdia e com um movimento sagaz cortou o corpo de Visconde ao meio, deixando que todos os seus órgãos vazassem pela sua barriga. E assim a brigada real deixou o palácio papal.
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Após a morte do antigo Papa Bento XI, o rei Belo, se certificou de colocar no cargo máximo da igreja um homem que ele pudesse influenciar sempre que necessário. O novo papa Clemente V concordou em levar o papado para o castelo de Avinhão, onde seria a nova morada papal, no sul da França.
Os atos de Felipe IV fizeram com que ele recebesse má fama em toda a Europa. Ao mesmo tempo em que era temido, era tratado com certa represália por outros monarcas. Mas aquilo não fazia diferença alguma pra ele, afinal já tinha se tornado um dos homens mais poderosos e temidos do mundo, e o maior de toda a Europa. Obviamente o rei da Inglaterra, Eduardo I, era assim como ele, respeitado em todo o continente, mas para evitar maiores atritos, manteve-se neutro perante as repulsivas atitudes recentes do monarca Francês.
Havia poucas pessoas que Felipe IV temia ou respeitava, e nesse seleto grupo estava o Khan Mongol e imperador da China, Kublai Khan. Felipe os temia, por quem em cem anos eles já tinham conquistado um território quase que dez vezes maior que o território francês, era sem dúvida alguma o exército mais feroz e temido do mundo. E o outro representante deste seleto grupo que despertavam o respeito do rei francês, estava Jacques DeMolay, grão mestre dos cavaleiros templários, o braço armado do Cristianismo. Desde o inicio das cruzadas e a busca desenfreada pela retomada da terra santa pela igreja, os templários existem. Durante quase 200 anos eles se tornaram um exército de primeira categoria, realizando diversas missões sagradas no médio oriente.
O cargo de Grão-mestre dos templários, tornava Jacques DeMolay um dos homens mais poderosos do mundo. O exército templário não recebia dinheiro dos governos, eles trabalhavam em nome de Deus, mas depois de tantas conquistas e devido ao carisma de seus integrantes eles adquiriram grandes propriedades e fizeram uma fortuna provenientes de doações. O poder deles era tão grande que com o tempo eles passaram a não responder a nenhum rei ou monarca europeu, muitas vezes nem mesmo a igreja, eram independentes e não tinham jurisdição.
Durante uma tarde no Palais Royal, na França, Felipe IV resolveu reunir os homens mais importantes do continente europeu para um almoço amigável de confraternização, lá estavam Jaime II, o rei de Aragão, Eduardo I, rei da Inglaterra, o próprio Jacques DeMolay em uma de suas raras aparições na Europa, estava presente.
Felipe estava se sentindo uma celebridade, havia servido um bom banquete, bom vinho e por mais que soubesse que muitos ali não gostavam de sua presença, ele gostava de se sentir superior aos outros imperadores. Quando estava anoitecendo, ele pediu para que Cimitarra pedisse a Jacques DeMolay que o encontrasse no escritório Real, nos aposentos do rei. O Grão-Mestre templário não se sentiu muito a vontade naquela situação, mas era muito educado para dizer aquilo, ainda mais sabendo da personalidade do anfitrião.
Quando a maioria dos convidados já haviam deixado o Palais Royal, Felipe IV foi até seus aposentos se encontrar com Jacques DeMolay.
-Grão-Mestre, Jacques Demolay. É uma honra finalmente conhecê-lo.
Felipe entrou nos aposentos reais esticando o braço para cumprimentar Jacques com um largo sorriso estampado em seu rosto.
-Vossa majestade. O prazer é todo meu. Respondeu Jacques com um sorriso plástico.
DeMolay, não era um dos maiores admiradores do rei francês, mas devido ao seu treinamento com os cavaleiros templários, aprendeu que todos os homens são cheios de defeitos e por isso não devem ser julgados pelo homem e sim por Deus.
-Afinal, ah que devo a honra de seu convite Rei?
Felipe deu de ombros e adotou uma postura relaxada dizendo:
-Por favor Grão-Mestre, sente-se.
Jacques queria passar a menor quantidade de tempo ali. Detestava conversar com monarcas.
-Então Jacques, você gosta de vinhos?
-Não. Eu dispenso, obrigado.
-Bom, eu gosto - e muito - de vinhos. Respondeu Felipe enquanto pegava um jarra de barro para lhe servir vinho.
-Majestade, se não for muito incomodo, eu gostaria de apressar nossa conversa, eu tenho que voltar o quanto antes para o Médio Oriente.
Felipe não gostou da pressa de Jacques, aquele velho deveria se sentir honrado em estar na sua presença e não incomodado, afinal, não era todos que ele tratava com tamanha educação. Mas invés de fazer uma cena, o rei forçou um sorriso plástico e respondeu:
-É claro. Sei que o Grão-Mestre dos nobres cavaleiros templários é um homem muito ocupado e não pretendo tomar seu tempo, mais que o necessário.
-Agradeço.
-Indo direto ao assunto como você sugeriu, eu estou apostando em expansão do meu reino. Hoje a França e eu temos poder o suficiente para uma expansão massiva e estudando bastante o mapa mundial eu percebi que há muitos territórios no médio oriente onde eu possa estar colocando em prática essa expansão.
Felipe esperava alguma reação de Jacques, mas o velho não esboçou sequer uma reação, então o rei deu um gole em seu vinho e continuou dizendo:
-Entenda grão-mestre, você e os cavaleiros templários tem mais poder do que qualquer um no médio oriente, tem mais poder que os mongóis, que nós franceses, que a igreja, que a própria Inglaterra. Então o que eu quero é que vocês me ajudem a tomar esses territórios para que eu possa expandir o meu império e tornar o reino da França o mais forte e próspero do mundo. O que me diz?
-Você quer usar os templários, que são o braço militar de Deus, para alcançar objetivos pessoais, que nem sequer estão alinhados com os interesses da igreja?
Felipe retirou o sorriso plástico do rosto ao perceber a indiferença de DeMolay perante sua empolgação.
-Desculpe majestade, mas eu não posso fazer isso. Nós templários chegamos ha ter o poder que temos hoje devido a um trabalho árduo de quase 200 anos defendendo os interesses de Deus e não dos homens. E pretendo manter a integridade do nosso legado. Agora se me der licença eu vou indo.
Felipe ferveu de raiva dentro de si, se controlou enquanto pôde, mas a insolência de DeMolay superou o seu limite de paciência e em um surto de fúria ele atirou seu copo de vinho contra DeMolay e foi pra cima dele como um touro apontando o dedo em sua cara:
-Não vire as costas pra mim DeMolay, eu ainda sou o rei da França e não um de seus subalternos, você me deve respeito e submissão.
Jacques deu um sorriso irônico fazendo com que Felipe se sentisse claramente diminuído e disse o olhando nos olhos:
-Eu não devo nada a você Felipe. Nada. Devo lhe respeitar como respeito a todo homem nesse mundo, mas submissão? Nós templários, respondemos somente a igreja, não respondemos a nenhum rei ou rainha, lorde o bispo, apenas a Igreja e a Deus.
E sem dizer nenhuma palavra DeMolay saiu dos aposentas deixando Felipe tendo um surto psicótico e gritando:
-Eu vou acabar com você DeMolay, com você e com seu bando heresies que sujam o nome de Deus.
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Os soldados reais carregavam por entre as masmorras fria de um castelo que há muito não era usado por nenhum rei, um homem encapuzado. O homem estava sendo literalmente arrastado pelo braço, pelos soldados reais, provavelmente estava desacordado.
Eles o arrastaram por metros, passando pelos apertados corredores das masmorras até que chegaram em uma rotunda, quase que sem iluminação. Com brutalidade jogaram o corpo no chão frio, aos pés do rei Felipe, que mantinha sua postura, olhando com desdém para o corpo.
O rei fez um suave movimento com os dedos e os homens levantaram o homem e retiraram seu capuz. Ele parecia estar morto, e o rei para acordá-lo lhe deu dois tapas no rosto. O homem rapidamente abriu os olhos, e se assustou ao ver quem estava a sua frente.
-Você é Pierre Letoux?
O homem parecia não entender o que o rei havia perguntado. Estava assustado demais. Então Felipe lhe deu outro tapa no rosto e perguntou:
-Você é Pierre Letoux?
-Sim. Respondeu o homem.
-Você realmente foi expulso da ordem dos templários?
-Sim.
-Por que?
-Eu matei um de meus irmãos durante uma briga.
-Você matou um dos seus?
-Eu não me orgulho disso.
Felipe sorriu e fez um sinal para que seus homens soltassem Pierre.
-Você sabe onde fica os aposentos de Jacques DeMolay?
Pierre franziu a testa.
-Não entendi a pergunta majestade.
Felipe revirou os olhos e perguntou:
-Os templários tem castelos, acampamentos, casas, todas espalhadas no médio oriente. Mas Jacques DeMolay não está em todas, eu preciso saber se você sabe onde fica os aposentos dele?
-Sei sim Majestade.
-Ótimo. Então vou lhe explicar a situação. Amanhã de manhã o Papa Clemente V vai publicar uma bula que vai tirar a proteção da igreja para com os templários e acusá-los de Heresia, todos serão caçados e mortos, inclusive o Grão-Mestre, Jacques DeMolay. Mas para isso você vai guiar meus homens pelos portões da fortaleza templária onde ele mora. Está entendido?
Pierre engoliu seco, ele sabia que não podia fazer isso. Mas como contrariar um rei? Ele não fazia a minima ideia, mas resolveu arriscar.
-Desculpe, eu não posso majestade.
Felipe deu um sorriso plástico, passou a mão no rosto de Pierre e logo em seguida lhe deu um tapa e disse:
-Isso não é um pedido. Todos os templários serão enviados para a forca, mas você pode se salvar. Você hoje não é templário mais, mas será condenado do mesmo jeito.
-Senhor, eu fiz um juramento, eu dou a minha vida pela ordem, mesmo tendo sido expulso.
-Fez um juramento?! Sua vida?! Mas com certeza você tem família, se não me ajudar, darei um jeito de acusar todos de conspirarem contra a coroa. Então vai me ajudar? E salvar a si e a todas as pessoas que ama?
Pierre não se atreveu a dizer nenhuma palavra e o rei tomou aquilo como um sim.
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Depois de semanas marchando com o exército francês em direção ao médio oriente, Pierre finalmente chegou a cidade de Damasco que ficava no meio do deserto. O exército francês foi em peso para o médio oriente sem fazer nenhuma pausa. Se eles fossem rápidos poderiam chegar a fortaleza templária antes mesmo das noticias se espalharem. E foi o que aconteceu, os templários mal sabiam o que estavas prestes a acontecer naquela noite.
Pierre sentiu nojo de si mesmo em fazer aquilo com a ordem que o acolheu, mas para proteger sua família ele tinha de fazer o que era preciso.
Quando chegou aos portões da fortaleza ele bateu três vezes e rapidamente o guarda abriu um pequeno no portão para ver quem era e ao identificar Pierre bravejou:
-Você está proibido de vir aqui. Foi-lhe avisado que se voltasse seria condenado a morte e agora é isso que vai acontecer.
Então o guarda fechou o vão e o portão começou a se abrir. Pierre deu dois passos para trás e então assim que o portão se abriu por completo o exército francês entrou em peso, com cavaleiros e soldados de infantaria. Um verdadeiro banho de sangue havia acontecido em poucos minutos. Pierre encheu os olhos de lágrimas ao ver seus irmãos sendo assassinados a sangue frio pelos soldados franceses.
Cimitarra que também estava junto ao exército ao ver Pierre parado imóvel se lembrou de que o objetivo daquela noite era capturar Jacques DeMolay. Então o puxou pelo braço e disse:
-Me leve aos aposentos do Grão-Mestre.
-Você vai precisar de pelo menos mais cinco soldados para chegar até lá vivo.
-Eu preciso de mais um somente.
Então Cimitarra percorrendo os olhos em meio a sangrenta batalha entre o exército francês e os templários até encontrar Giantonelli e com um sinal com o braço o chamou para lhe acompanhar.
A fortaleza templária era toda feita de pedra e com paredes grossas, os corredores eram muito bem guardados, cada um tinha cerca de 4 a 5 cavalheiros templários. Mas Cimitarra e Giantonelli eram muito habilidosos e passaram por todos sem muitas dificuldades. Pierre apenas se esquivava de golpes, ele era um hábil guerreiro, mas não iria matar mais nenhum de seus irmãos. Perdeu a cabeça uma só vez. Não que fizesse muita diferença, o que ele tinha acabado de fazer era o mesmo que pegar uma espada e matar todos seus irmãos.
No alto da fortaleza estava os aposentos de Jacques DeMolay, e ali havia os dois melhores espadachins entre os templários. Cimitarra e Giantonelli os conheciam e sabiam que seriam um confronto duro.
-Assim que o combate começar entre nos aposentos de Jacques e não o deixe fugir.
Pierre não estava em condições de argumentar aquela ordem, apenas assentiu com a cabeça e o fez assim que Cimitarra e Giantonelli entraram no confronto com os dois espadachins.
Ao entrar nos aposentos Pierre sentiu um frio na barriga, nunca havia entrado ali. Mas para sua surpresa, aparentemente DeMolay não estava ali, mas um barulho o assustou, era a porta se fechando e as luzes de vela se apagando devido a força do vento que a porta emitiu ao se fechar.
Pierre não enxergava naquele momento, apenas escutava os ruídos das espadas debatendo do lado de fora. E foi então que ele escutou:
-Você não deveria ter voltado aqui.
Era a voz de Jacques, ele estava ali. Mas Pierre não sabia onde nem sequer tinha ideia de onde estava vindo a voz.
-Eu lhe avisei que isso custaria sua vida.
-Eu não queria Grão-Mestre, eles ameaçaram minha família.
-Como sempre pensando só em você.
-Se não fosse eu, seria outro. Disse Pierre quase que suplicando pela sua vida.
Então um silêncio tomou conta do lugar e segundos depois ele sentiu um braço forte lhe puxar para trás e um ferro frio e cortando encostar em seu pescoço. Jacques o encurralou com a espada em seu pescoço.
-Você tem razão se não fosse você seria outro. Eu preferiria que fosse outro. Pois eu vou lhe pedir uma coisa, mas seu comportamento duvidoso, não me garante que você será capaz de cumprir.
-Grão-Mestre, mesmo tendo sido expulso, eu farei tudo para poder vingar os templários.
Jacques ameaçou dizer algo, mas rapidamente a porta se abriu. Era Cimitarra com o rosto cheio de sangue e a espada apontada em direção a DeMolay. Com a porta aberta foi possível ver os dois espadachins mortos com seus corpos abertos por um corte no peito e assim como eles Giantonelli com a cabeça cortada.
-Acabou DeMolay. Entregue-se.
DeMolay abaixou sua espada e Cimitarra o agarrou pelo braço com um sorriso que demonstrava clara satisfação. Pierre ficou parado imóvel, imaginando o que poderia ser o pedido de DeMolay, quando ele escutou o Grão-Mestre gritando repetidas vezes:
-Prohibe Infandos. Prohibe Infandos. Prohibe Infandos.
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Durante os próximos sete anos o Rei Felipe IV, caçou todos os Cavalheiros Templários espalhados pela Europa, pelo Reino de Aragão, Portugal, França, Prússia, Inglaterra, entre outros. E quando capturados eles eram submetidos as piores torturas que se pode imaginar, as vezes os soldados reais esquentavam ferro quente e queimava os olhos dos cavalheiros para cegá-los em busca de algum confessasse que eram hereges e assim pudesse serem condenados a forca de acordo com as leis papais. Mas depois de tantos anos sem sucesso, o Rei Felipe e o seu maior Lacaio, o papa Clemente V, mudaram a lei, e alguns templários seriam condenados a serem queimado vivos em praça pública, a maior parte foi liberta, mas dentre os poucos condenados estava Jacques DeMolay, que muitos diziam ter ficado louco depois de tanto tempo em cativeiro.
No dia 18 de Março de 1314, fora marcado para ser a data em que Jacques DeMolay, juntamente com outros Templários de alto escalão, seriam queimados vivos em Paris diante de todo o Reino da França.
Ele fora pendurado em uma estaca de madeira, a noite estava sombria e a população com um olhar de desdém para ele. De longe ele viu sentado em um altar improvisado o Rei Felipe e ao seu lado o Papa Clemente. Durante toda a sua vida ele foi um homem ponderado e sábio, que acreditava que seus anos de servidão poderiam significar algo, mas agora que estava ali prestes a ser queimado vivo um sentimento de ódio dominou seus pensamentos.
Havia um silêncio perturbador, ninguém falava nada, a população não cochichava, nem mesmo os soldados reais sequer o encarava nos olhos. Até que a fogueira foi ascendida e em poucos segundos ele sentiu o calor do fogo fazer sua pele derreter. A dor da queimadura era terrível, insuportável, ele tentou conter os gritos, mas não conseguiu e em meio aos gritos ele amaldiçoou:
-Rei Felipe, Papa Clemente, eu vos amaldiçoou, eu vos amaldiçoou, vocês não sabem o que fazem. Vocês pagaram por estes crimes antes que complete um ano e até a sua décima terceira geração também pagará por teus atos. EU VOS AMALDIÇOOU.
Depois que disse aquelas palavras, ele não encontrou forças para dizer mais nada. Rei Felipe assistia com gosto aquela cena, agora não havia ninguém, nenhum lorde, rei ou cavalheiro templário que estava acima dele.
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29 de novembro de 1314:
Felipe era carregado as pressas por seus serviçais por entre os corredores de Fontainebleau um dos palácios reais da França. Há pouco tempo ele havia sofrido um pequeno derrame cerebral enquanto caçava cervos, mas conseguiu se recuperar. E agora novamente estava tendo outro ataque como aquele. Seu corpo estava se contorcendo, e sua boca espumando. Era incrível acreditar que ele ainda estava consciente.
Os serviçais os colocaram sobre a cama real e um deles bravejou:
-Appelez le médecin. (Chamem o médico).
E rapidamente os demais foram e em poucos minutos eis que surge uma figura no minimo assustadora. Um homem vestindo uma capa preta e usando uma máscara que tinha um formato de bico de corvo da cor prata.
-Est le roi, il est en train de mourir. (É o rei, ele está morrendo).
-Oui, oui. Se acalme. Disse o médico enquanto observava Felipe se contorcendo sobre sua cama.
-Ssupprimer tous ici. (Tire todos daqui).
E assim o serviçal o fez. Felipe encarava o médico enquanto se contorcia. O médico ao invés de ajudá-lo, se sentou ao seu lado na cama, passou a mão sobre seus cabelos e lhe deu um tapa no rosto que fez com que os olhos de Felipe se revirassem por todos os lados. Era como se ele não tivesse mais controle sobre seus olhos.
-Demorou pegar você majestade.
Felipe apenas resmungava enquanto sua boca espumava.
O médico então retirou sua máscara e assim que Felipe viu de quem se tratava, arregalou os olhos e começou a se contorcer com mais força. Era Pierre Letoux.
-Você fez bem em me escolher para entregar meus irmãos. Eu tinha um dívida com eles. E agora estou a pagando.
Ele enfiou uma de suas mãos por dentro da capa preta e retirou um pequeno frasco de vidro. Retirou sua tampa olhou para Felipe sorrindo e disse:
-Sabe o que é isso? Eles chamam de Belladona, um veneno extremamente poderoso e capaz de confundir até os médicos mais experientes.
Felipe se contorcia, sua visão estava turva e tudo ficava cada vez mais confuso. Pierre o segurou pelo rosto e entornou o restante do liquido dentro da boca de Felipe.
-Quando o Papa Clemente morreu, logo um mês depois de vocês terem queimado o Grão-Mestre DeMolay vivo, todos acharam que foi um acidente. Mas não foi, eu dei um jeito dele pegar aquele cavalo e envenenei o cavalo para que quanto mais ele fosse forçado, mais rápido o veneno agiria, até que numa incrível velocidade o cavalo caiu e junto com ele o papa. Você eu já venho tentando pegar faz um tempo, mas você é difícil, é esperto. Mas agora chegou ao fim.
Pierre fez uma pequena pausa para fechar o frasco e colocá-lo de volta dentro do manto preto.
-Prohibe Infandos. Essas foram as palavras que Jacques me disse a quase oito anos atrás. Eu não entendi bem na época. Ele dizia, "cumpra a maldição", ele repetiu isso várias vezes, até que quando ele foi queimado vivo, eu entendi.
Felipe começou a ficar com a pele com um tom meio azulado, os olhos arregalados. Pierre sabia que ele tinha pouco tempo de vida, então se levantou, recolocou a máscara e disse:
-Você pode ter tentado acabar com os templários majestade, mas a única coisa que conseguiu foi acabar consigo mesmo e com a sua família. As suas próximas 13 gerações terão grandes problemas, pois eu eternizarei a maldição de Jacques DeMolay, recriarei os templários e nós só vamos parar até que a monarquia na França tenha se acabado por completo.
Ao ver que Felipe tinha só mais alguns segundos de vida, ele se pôs em direção a porta dos aposentos reais, mas antes de sair disse:
-Aproveite seus últimos segundos de vida Rei, pois logo logo irá encontrar o inferno.