VINGANÇA DELICIOSA!
-Sabe, eu sempre quis saber qual era a sensação... tenho que admitir que estou surpreso, estou me sentindo... extasiado.
O homem que falava estava sentado em uma cadeira de madeira cujo qualquer movimento que ele fazia a mesma fazia um barulho insuportável, era como se a qualquer momento ela pudesse desmoronar. Havia também uma mesa de madeira, onde ele repousava seus cotovelos sobre o tampo.
-Sabe quanto tempo eu esperei por isso?
Seu olhar era perturbante, sua voz era como a de um homem de meia-idade típica dos filmes infantis reprisados frequentemente na sessão da tarde. Seus cabelos tinham uma tonalidade acinzentada, e seus olhos eram pretos como a noite, onde dava para ver o reflexo da pequena fogueira numa parte mais afastada daquele galpão.
O lugar todo parecia ter sido tirado dos cantos mais isolados do inferno, não havia iluminação (claro que a pequena fogueira improvisada dava uma pequena claridade, mas iluminação decente, não tinha). O pequeno galpão era todo feito de madeira, se estivesse sido cuidado com o tempo, poderia ser chamado de rústico, no entanto, naquelas condições, ser chamado de lixo era até um elogio.
A mesa em que Louis, o nosso ilustre "questionador" misterioso, estava com os cotovelos recostados, estava tão velha que dava para escutar o barulho dos cupins devorando o que ainda restava dela.
-Você está calado... achei que seria uma companhia melhor.
E com um sorriso que deixavam a amostra o seu sorriso levemente amarelado ele disse.
-Já sei por que está tão calado. Onde estão meus modos? Eu trouxe um vinho especial para nós nesta noite.
-E o que estamos comemorando? Eis que então surge uma voz grave, essa não se parece com as da dublagem da sessão da tarde, lembra muito mais uma voz que você não vai querer escutar estando em um galpão desses.
O nosso segundo homem dentro do galpão se chama David, ou como também é conhecido, Big-D.
Big-D é muito conhecido por seu trabalho, ele é um caça talentos notável que trabalha para uma grande agência de modelos europeia. Ele é careca, razoavelmente acima do peso e tem uma tatuagem tribal na cabeça, bem próximo ao olho esquerdo. Ele estava com as mãos amarradas em uma cadeira de frente para Louis.
-Big-D, você tem filhos?
Perguntou Louis enquanto se levantava para caminhar em uma parte mais afastada do galpão, onde a iluminação da fogueira improvisada não conseguia alcançar.
-Não, eu não tenho. Respondeu Big-D friamente.
-Um dos momentos mais marcantes na vida de um homem, é quando ele descobre que vai ser pai. Lógico que para o homem é um choque, talvez é mais difícil aceitar a ideia de se ter um filho sendo homem do que sendo mulher.
-Que conversa fiada é essa cara?
Louis olhou para Big-D com um sorriso discreto e ao mesmo tempo macabro. Ele sem dizer nada começou a mexer em algo que Big-D não conseguiu identificar. Depois de um tempo voltou com duas taças de vinho em mãos, se sentou na cadeira novamente, e o ruído que ela fez foi tão alto que por um momento parecia realmente que Louis desabaria no chão. Ele colocou uma das taças na frente de Big-D e voltou a dizer:
-Eu tive uma filha Big-D, você a conheceu. Talvez se lembre do nome dela... Penélope. Você a levou para uma oportunidade em uma agência de modelos.
Rapidamente Big-D percebeu do que se tratava e arregalou os olhos.
-Ah... então você sem lembra dela não é?
Big-D por um momento engoliu seco. Ele costumava prometer o mundo para essas garotas que ele "agenciava", no final das contas ele as levava para um fim de mundo qualquer no leste europeu e lá elas eram obrigadas a se prostituir, caso não fizessem eram brutalmente assassinadas para servir de exemplos para as outras. Foi isso o que aconteceu com a filha de Louis, Penélope.
-Escuta cara, eu só fiz o meu trabalho.
O sorriso que Louis manteve o tempo todo em seu rosto se desfez e ele assumiu um semblante sombrio. Então ele se curvou em direção a Big-D e perguntou:
-Então você assassinou minha filha pra fazer o seu trabalho? Então seu trabalho também incluía, enganar a minha família, tirar a vida de uma menina inocente só para poder abusar de outras? Esse é um trabalho muito legal Big-D.
-Cara eu só faço o que mandam fazer.
-Então o que você quer me dizer é que você se arrepende?
-É lógico que sim.
-Se eu deixar você sair vivo daqui, vai matar mais alguma garota?
Big-D estava suando frio, pensando calmamente em cada resposta que estava dando. Mas pensar demais seria sua condenação e não sua salvação.
-Não, eu não vou.
Louis se manteve sério o tempo inteiro, ele observava cada reação de Big-D. Já tinha em sua cabeça que iria matá-lo, mas aquele jogo estava o divertindo. Ele nunca tinha matado ninguém antes, mas aquele homem tirou a vida da sua filha, tudo pra ele era sua garota, sempre viveu uma vida tranquila como pai de família, nunca sequer se envolveu em uma briga, mas o ódio o consumiu por completo.
-Você está mentindo Big-D.
-Não estou, eu juro.
Louis ao ver o desespero de Big-D deu um largo sorriso.
-Big-D seu juramento não vale de nada, você é só um saco de lixo.
Big-D tentou manter a calma, mas Louis não parecia ser o tipo de cara que mataria alguém, talvez só quisesse lhe dar um susto ou algo do tipo. Tudo bem que essa ideia parece idiota, afinal ninguém se daria ao trabalho de sequestrar uma pessoa para dar uma bronca, mas naquele momento Big-D estava tão confuso que qualquer absurdo poderia fazer sentido, pois além das cadeiras podres, da fogueira ao fundo e das taças de vinho, ele não conseguia ver mais nada, nenhuma faca, nenhum revólver, e aquele senhor a sua frente tinha os braços tão finos que se tentasse o enforcar, Big só teria o trabalho de lhe acertar uma cabeçada para desmaiá-lo. Então cansado daquela conversa fiada ele resolveu provocar Louis para ver realmente qual era a intenção dele.
-Então beleza cara, eu sou um saco de lixo, vem cá me matar, vem acaba logo com a minha vida. Encerra isso de uma vez. Quer vingança, eu vou te motivar, eu realmente matei sua filha e mais, eu gostei, e se pudesse mataria de novo, assim como todas as outras garotas que matei. Eu ganhei bem pra isso, ganho bem para manter a ordem entre aquelas patricinhas e depois transformá-las em verdadeiras prostitutas de alta qualidade.
Louis respirou fundo,deu um gole em seu vinho. E com uma expressão fria e um olhar que nem sequer demonstrara nenhum sentimento ele disse:
-Acabar com sua vida rápido não iria me satisfazer, eu quero ver você sofrer.
-Corta essa velho, você não ter culhões pra isso, é um velho magrelo e provavelmente covarde.
-Você acha que não tenho coragem de te matar?
-Eu tenho certeza que não tem.
Louis com um sorriso discreto e com uma respiração densa, olhou para sua taça de vinho de mais um gole e disse:
-A coisa mais difícil nessa noite, vai ser desperdiçar um bom vinho.
E quando Big-D pensou em argumentar ele viu Louis se levantar rapidamente e bater com a taça na madeira, quase que a quebrando por completo, mas para o azar de Big-D, após a pancada ainda sobrou alguns cacos e quando assustou Louis foi pra cima dele e começou a enfiar o caco em seu olho.
-Eu não vou só matar você, eu vou te destruir por completo.
Louis começou a enfiar o caco de vidro pela lateral do olho de Big-D o pressionando para fora, fazendo movimentos bruscos como se estivesse tentando arrancar o olho dele. A dor era tão intensa que Big sentiu não uma simples fincada, mas sentiu seu olho se abrindo, sua visão desapareceu, ele mal conseguia gritar, estava se contorcendo de dor e o fato de estar amarrado, o desespero, fazia com que a dor ficasse ainda mais intensa.
O sangue começou a escorrer pelo olho de Big-D e passava pelas mãos de Louis, até gotejar no chão. Quando sua mão começou a ficar molhada de sangue, os movimentos com o caco ficaram mais difíceis de ser feito, e se não tomasse cuidado o mesmo poderia quebrar ficando alojado dentro do olho e Louis não queria isso, ele queria mutilar Big-D. Não apenas machucá-lo.
Depois de pouco tempo Big-D já nem conseguia se contorcer mais, e o desespero ficou ainda maior quando ele escutou o barulho bem parecido com o de uma bolha estourando. Era seu olho sendo arrancado. E assim que escutou aquele barulho, um grito ensurdecedor escapou de sua boca, e foi ai que mesmo com a visão turva proporcionada pelo olho que ainda lhe restava, conseguiu ver Louis sorrindo.
-Abra a boca.
Começou a dizer Louis, mas Big-D não o obedeceu, e foi que ele começou a levar sequenciados socos na cara, até que Louis conseguiu uma pequena brecha e enfiou o olho em sua boca, o gosto era horrível e a sensação nem sequer poderia ser descrita.
Big-D por um momento pensou estar dormindo, passou alguns segundos desacordado, mas despertou quando Louis tirou o olho arrancado de sua boca e com o mesmo caco, sujo de sangue, começou a cortar a língua lentamente, sem forçar e com a língua sendo puxada para fora ele mal conseguia pensar em gritar. A dor de sentir sua linha ser cortada, tecido por tecido, pedaço por pedaço, era ainda mais intensa que a anterior. "Não acredito que vou morrer assim!", pensou Big-D.
E novamente ele ficou desacordado, pensou que estava mesmo dormindo, mas foi despertado levando tapas em seu rosto. Quando tentou recobrar a visão, preferiu que não tivesse enxergado nada, ele viu o próprio o olho e sua língua em cima da mesa.
-Hora de encerrar isso de uma vez por todas. Disse Louis com uma voz doce, mas sombria.
Big-D mal mal conseguia conversar sem ter sua língua, as palavras simplesmente não saíam da sua boca.
Durante um breve momento, Louis pareceu estar fazendo algo, ele literalmente sumiu das vistas de Big-D, mesmo com a visão turva ele percebeu que Louis na verdade estava aumentando a fogueira para que ele chegasse até as suas costas, escaldando sua pele.
E foi nesse momento que Big-D percebeu que havia algum liquido sendo derramado sobre seu corpo, não soube diferenciar o que era, ou se era real, sua mente estava muito confusa, ele ainda sentia sua língua sendo cortada e seu olho sendo arrancado.
Louis com uma facilidade imensa o arrastou alguns centímetros para trás, e se colocou de frente para ele para dizer:
-Esse é seu fim, isso é pela minha filha.
E assim ele empurrou Big-D contra a fogueira e com seu corpo todo coberto de álcool, Louis o assistiu queimar em meios aos gritos horrendos, e pra sua surpresa a taça de vinho que ele havia colocado de frente para Big-D ainda estava intacta, ele abriu um sorriso discreto e disse a si mesmo:
-Agora sim está perfeito.