Desejo mortal
Roberta voltava sozinha da faculdade. Já passava das nove da noite e a mochila batia contra seu quadril no ritmo de seus passos apressados. Poucas pessoas caminhavam em seu entorno e alguns carros estavam estacionados na principal rua da cidade.
O som em seus fones de ouvido era alto, encobrindo qualquer ruído ao seu redor. Aquele estava sendo um dia esquisito, daqueles onde tudo é passível de erro. O silêncio entre uma música e outra imperou por alguns instantes e ela olhou ao redor. Atrás dela uma caminhonete prata 4x4 de modelo antigo seguia em baixa velocidade. Voltou o olhar para frente e se concentrou na música que martelava em sua cabeça.
A caminhonete passou por ela e Roberta a encarou por alguns instantes. Fitou a fachada de algumas lojas ao seu redor, sem parar para apreciar nada. Ajeitou as alças da mochila sobre os ombros e voltou o olhar para o chão, pensativa.
Voltou o olhar para a rua a sua frente e visualizou a mesma caminhonete parada do outro lado da rua. Franziu o cenho e passou pelo veículo. Um homem de um pouco mais de trinta anos estava ao volante. A caminhonete voltou a acelerar e em poucos instantes a ultrapassou, parando em um semáforo.
O rapaz ao volante da caminhonete olhou ao redor, enquanto aguardava o sinal ficar verde. Não via mais qualquer sinal da jovem que seguia. Bateu as mãos contra o volante, desgostoso, e voltou a encarar o semáforo.
- Está a fim de me dar uma carona?
O rapaz deu um ligeiro salto do banco, pego de surpresa. A jovem que seguia estava parada próxima a sua janela. Seus óculos a deixavam com uma aparência de professora sexy e o sorriso confiante que trazia nos lábios completava o figurino.
- Você me assustou. – Disse ele, com um pequeno sorriso.
- Desculpe, não foi minha intenção. – Inclinando-se sobre a janela. – E então rola uma carona?
- É claro, entra aí.
Ela ajeitou os óculos e deu a volta no veículo por trás. O rapaz olhou rapidamente para o retrovisor e deu uma piscadela para o seu próprio reflexo.
- Meu nome é Roberta. – Jogando a mochila sobre as pernas.
- Sou o Carlos, é um prazer conhecê-la. – Olhando para os seus seios com um sorriso malicioso. – Onde você mora?
- Descendo essa rua. Eu te guio. – Olhando-o rapidamente.
O rapaz seguiu em direção a casa da jovem, no entanto, no meio do caminho, entrou em uma rua mal iluminada, que ela não conhecia.
- Eu moro por ali. – Apontando para trás.
- Eu sei, mas nós não vamos para a sua casa. – Olhando-a, a face da perversão estampada em seu rosto. – Ninguém nunca te falou para não pegar carona com estranhos?
- É claro que já me falaram.
- Você deveria escutá-los.
Carlos estacionou a caminhonete próxima a uma árvore com o tronco largo e soltou o cinto de segurança.
- Tire a roupa.
- Só porque você quer. – Olhando-o, como se quisesse dizer “me obrigue”.
- Tira logo a roupa. – Impaciente.
Carlos deu um puxão em sua blusa e um rasgo se abriu no ombro esquerdo.
- Isso é o que eu vou fazer com você se não me obedecer. – Com um olhar ameaçador.
- Não vou tirar minha roupa para você, seu pervertido imbecil. – Franzindo o cenho.
Carlos a esbofeteou no rosto.
- Então comece a rezar. – Avançando em sua direção.
Ele estava prestes a rasgar sua blusa quando algo o fez interromper o movimento e se afastar da jovem.
- É melhor você começar a rezar. – Apontando uma 9mm para seu peito.
Carlos ergueu as mãos para o alto e se encolheu contra a porta da caminhonete.
- Você acha que eu não percebi que estava me seguindo? Você foi tão previsível. – Abrindo um sorriso torpe.
- Eu te deixo em paz, só não faça nada comigo. – Temeroso.
- Para onde você vai nunca mais terá paz. – Inclinando-se em sua direção.
Engatilhou a arma e fez um disparou fatal na testa do sujeito. Jogou o corpo de Carlos pela janela e assumiu a direção do veículo.
- Sem sujeira dessa vez. – Olhando para o seu reflexo, satisfeita.
Girou a chave da caminhonete e deu meia volta, seguindo até sua casa. Olhou para o seu relógio de pulso. Teria um dia cheio amanhã.