CALAFRIO NA NOITE
Eu morava em Carazinho/RS aos oito anos, mas meu pai decidiu mudar-se para a cidade de Passo Fundo/RS e em consequência levou toda a família. Lá moramos na Rua Uruguai e nesta mesma rua meu pai estabeleceu-se com um armazém – Super Mercado, ainda não tinham inventado. Nossa residência ficava duas quadras do Instituto Educacional um colégio com uma frente majestosa e que tomava toda a quadra. Ele tinha um tom um pouco sinistro pelo seu alto muro que inviabilizava ver seu interior através da Rua – tinha uma pequena abertura na parte mais alta do muro, onde poderia passar um menino, e era onde eu e outros meninos escalávamos para explorar com olhares o seu interior.
Mas uma vez... escutando conversas de adultos ouvi uma senhora se queixando com um ar de pavor por ter passado por um calafrio durante a noite, ao passar rente ao alto muro que circundava o Colégio e isso impedia dela decorrer e sentiu o calafrio durante todo o trajeto do muro e quando o frio terminou ela começou a chorar de pavor e correr para a sua casa. Ela contou a sua história e desaconselhava as amigas a passar muito próximo ao muro durante a noite. Aquilo fez com que a minha mente de criança aceitasse como verdadeira, pois foi um relato de um adulto e essas coisas assombrosas alcançaram outros vizinhos.
A partir do relato, eu só passava na calçada oposta e nunca tive o desprazer de sentir o Calafrio da Noite. Outras pessoas me imitavam, e outras só passavam ali, durante o dia e as que teriam que passar durante a noite e sozinhas ou até queriam desafiar o Calafrio da Noite se arriscavam e passavam junto ao muro e muitas diziam que mesmo no calor do verão sentiam o frio assombrado que começava na coluna e passava pelo abdômen. Mas jamais voltariam a passar rente ao muro. São historias acontecidas, como histórias, ou como verdade. Você decide.