Eternos rivais
Seus olhos começaram a se abrir aos poucos, sua visão estava turva e sua cabeça latejava. Olhou ao redor, não conhecia aquele lugar. Estava em algum tipo de barracão abandonado. Seus punhos estavam presos por grossas correntes em uma cadeira onde estava sentada.
Forçou as correntes, mas elas não cederam. O desespero começou a se instalar. Alguns resquícios de sol entravam por uma janela atrás dela. Seu maxilar se enrijeceu tentando encontrar uma maneira de fugir dali. Não se lembrava de como havia acabado naquele lugar, sua última lembrança era estar caminhando quando sentiu uma pancada forte na parte de trás da cabeça.
Tentou se libertar mais uma vez, urrando, mas as correntes eram rígidas demais. Escutou passos se aproximando e seu corpo inteiro ficou rígido. Um rapaz surgiu, cabelos espetados e a cabeça baixa. Ela o conhecia! “Não, não você. Você não pode estar envolvido”, pensou incrédula. Ele a olhou e um sorriso malicioso se formou em seus lábios.
- Está se perguntando o que eu estou fazendo aqui? – Apoiando as mãos nos braços da cadeira e a olhando nos olhos. – Está se perguntando o porquê de estar presa?
Ela não respondeu.
- É claro que está. – Dando-lhe as costas. – Qualquer um em seu lugar se perguntaria.
- Quem está por trás disso?
- Pergunta errada. – Balançando o dedo indicador de um lado para o outro. – A pergunta certa seria, você está por trás disso?
O rapaz se aproximou e apoiou novamente as mãos nos braços da cadeira.
- Eu estou por trás de tudo. Fui eu quem planejou cada detalhe. Fui eu quem a golpeou na cabeça.
Ela o encarava sem dizer uma palavra. Como ele foi capaz de fazer aquilo com ela? Como ela pôde confiar tanto em alguém capaz de matá-la? A jovem desviou o olhar para a mão do rapaz e seu olhar se entristeceu.
- Está procurando a aliança? Esqueça. – Se afastando. – Eu a joguei fora.
- Por que está fazendo isso comigo?
- Você achou mesmo que eu te amava? – Soltando uma alta gargalhada. – Eu nunca senti nada por você além de ódio. Ódio pelo que aconteceu, ódio pelo o que a sua raça fez com a minha.
- Eu não tive nada a ver com o que aconteceu.
- Não me interessa! Vocês me tiraram tudo, mataram aqueles que eu amava.
- Eu também perdi pessoas que amava.
- Não tente comparar sua perda com a minha. Vocês escolheram por isso, nós fomos arrastados para dentro do olho do furacão.
- Por favor, Michael. Não coloque a culpa pelo o que aconteceu sobre mim. Eu te amo. – Seus olhos se encheram de lágrimas.
- Tarde demais. – Seu semblante se tornou severo. – Alguém vai ter que pagar pelo que aconteceu e eu escolhi você.
- As coisas não precisam acabar assim.
- Você está errada mais uma vez. As coisas têm que acabar assim.
- Podemos ser diferentes.
- Nossas raças nunca ficarão em paz. Vampiros e Lobisomens jamais se unirão!
- Isso não é verdade, nós já fomos unidos um dia.
Michael soltou uma risada ácida.
- Você chama o que tivemos de união? Eu apenas te usei.
- Você é melhor do que isso. Eu te conheço, sei que não é um assassino.
- Você só conheceu quem eu criei para me aproximar de você. Você se quer sabe o meu verdadeiro nome. – Franzindo a testa.
- Seu nome não é Michael? – Com um misto de tristeza e surpresa.
- Não. Meu nome é Adam.
Ele inclinou o corpo em sua direção, com um olhar impiedoso.
- Você não sabe nada sobre mim.
- Por quê? – As lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
- Quer que eu repita o quanto a desprezo? Mas suas lágrimas quase me comoveram.
A jovem abaixou a cabeça. Adam a encarou pensativo e arqueou a sobrancelha. Ela voltou a olhar em sua direção, caninos haviam surgido em sua boca e seus olhos estavam num tom de azul claríssimos. O rapaz sorriu.
- Poupe suas forças, não conseguirá sair daqui. Eu pensei em cada detalhe.
A jovem cerrou os dentes e brandiu. Ele apenas a observava, satisfeito. Um grito furioso escapou de sua baca. As correntes penetravam em sua pele. O som de metal se estilhaçando ecoou e ele a olhou surpreso, ela estava finalmente livre. Porém, antes que pudesse investir qualquer ataque, Adam sacou uma adaga de prata e a lançou em direção ao peito da jovem. Ela grunhiu ao sentir a lâmina perfurando seu coração e seu corpo desabou.
- Eu disse que não sairia daqui. – Sussurrou ao pé de seu ouvido, arrancado a adaga de seu peito.
A jovem soltou um rugido e desferiu uma cabeçada contra seu agressor, fazendo-o cambalear para trás, em seguida se levantou com um pouco de dificuldade.
- Eu posso não sair daqui, mas você também não sairá.
- Poupe-me de suas ameaças. Você não pode fazer nada contra mim.
Ela quebrou a cadeira na coxa e voou em sua direção, derrubando-o de costas no chão. A lâmina da adaga a atingiu de raspão no braço e ela o golpeou com um estrondoso soco no rosto, sangue voou de sua boca e manchou o chão. Em seguida cravou o pedaço de madeira em seu coração.
Adam a olhou perplexo e o corpo da jovem desabou ao seu lado.