Chuta que é macumba! Final
A madrugada começa a ficar gélida, uma névoa cobre o horizonte como um manto, a lua tão cheia e bela quanto se pode imaginar, sem sequer uma nuvem ou estrela para lhe competir a atenção. Parece que o tempo parou, é como olhar para um quadro, no mais absoluto silêncio, que só é interrompido por passos tão largos e frenéticos que mais se assemelham a galopadas de um cavalo, uma presa que está prestes a ser devorada, ofegante, apavorada...
Eles correm, correm tanto que sentem que o coração pode parar a qualquer momento de fadiga, não se atrevem a olhar para trás, só de pensar nisso um calafrio percorre toda a espinha, pois sabem que a própria morte os observa de longe. Um deles finalmente se entrega ao cansaço com a mão no peito e a camisa ensopada de suor.
Matheus --- Não para! Pelo menos continua andando!
Lucas o encara com os olhos arregalados, e diz ainda ofegante:
--- Continuar? Andar? PRA ONDE??
Ele grita.
--- Não posso enxergar porra nenhuma com essa névoa que veio do nada!... Meu Deus! Meu Deus! MEU DEUUUS! ME SAAAAlVAAA!!!
Matheus --- CALA A BOCA!!! Quer que ache a gente de novo? Filho da puta!
Lucas começa a chorar e então Matheus tenta acalma-lo, mas logo entra no choro junto. Eles lamentam enquanto às lagrimas caem, se aproximando cada vez mais, até que se abraçam, como se procurassem um no outro a proteção de um pai ou o carinho de uma mãe. Eles continuam nessa por quase uma hora, até que agarram no sono, com se fossem crianças cansadas e isso ao excesso de álcool que tinham ingerido, lhes rendeu horas do mais profundo sono...
Lucas --- Mas que porra é essa?
Lucas fala ao despertar, percebendo Matheus dormindo por sobre seu peito, e começa a murmurar, até que como num flash back todos aqueles momentos de terror que passou, ele sacode Matheus..
Matheus --- An? Que foi? Que?
Lucas --- Acorda caralho! tive um pesadelo foda, a gente ficava preso na rua das macumba e...
Matheus --- Todo mundo morria?
Matheus pergunta tremulo já totalmente despertado de seu sono.
Lucas --- Não brinca! Não! Não! Não!...
Matheus --- Olha em volta cara...
Lucas vira a cabeça abrindo a visão, vendo que ainda se encontram na rua da Encruzilhada e pior! Ainda era noite!!!
Os dois ficam estáticos com um olhar vazio, não falam nada, emitindo apenas o som de suas pesadas respirações. O silêncio é finalmente quebrado quando Matheus diz:
--- O que é isso no seu pescoço?
Lucas --- O que?
Matheus --- Isso...
Ele aproxima sua mão e agarra o pescoço de Lucas, que ainda tenta se defender, mas sem sucesso.
Matheus --- Seu arrombado! É tudo culpa sua! Ele quer você, não eu!
Você chutou aquela porra, por que?! sempre dando uma de machão! Eu nunca gostei de você!
Matheus termina de dizer isso enquanto asfixia seu amigo, demora um tempo até lucas parar de se debater, Matheus consegue ver a vida saindo de seus olhos, que desfalece em seguida.
Matheus fica imóvel, com as mãos tremulas, então Matheus se pergunta baixinho:
--- Acabou?
Lucas --- Não...
Matheus --- AAAHHH QUE? CARALHO! PORRA! COMO?
lucas se levanta alongando a cabeça, sua pele escure-se, sua estatura muda junto com sua voz...
--- Ha Ha Ha Achas-te mesmo que deixaria um imundo como tu tocar em meu precioso sacrifício?
Matheus responde tremulo:
--- Sacrifício?
Homem do terno --- Sim! ou achou que tudo isso aconteceu por obra do acaso? idiota! Vamos, pense um pouquinho...
Matheus cada vez mais confuso, não sabe quem ou quê está diante dele. Numa hora usa linguagem coloquial e na outra uma linguagem antiga. Um ser que transcende a lógica e o tempo, ele parecia estar diante do próprio Diabo.
Então os pensamentos de Matheus começam a retroceder ao inicio de tudo...
--- Aquilo foi para nós? tinham cinco ovos na cesta, com um diferente, marrom, os ovos eram cada um de nós e o marrom era o sacrifício?... Lucas... o que você fez?
Homem do terno --- Garoto Esperto! Ha ha ha Parece que vocês andaram irritando muitas pessoas por aqui, pra eles terem me invocado assim, e bom, o Lucas, pergunte isso a ele quando vocês se encontrarem, no inferno...
Ele se aproxima e se escutam os berros agonizantes de Matheus...
Mas o que aconteceu com Lucas? você deve estar pensando, pois gostaria de revelar agora que Lucas é esse que vos escreve, tudo relatado aqui é conforme ele me ordenou, e não fique bravo pensando que me safei tranquilamente, porque ser encontrado crucificado sem os pés e com os olhos furados não seria o que eu descreveria como tranquilo, afinal, recebi o mesmo tratamento da galinha que chutei, que é muito mais do que mereço! Agora só me resta aguardar o dia de minha morte, quando irei rever meus amigos... e ele...
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Grande abraço!