O Monstro Miguel

Na sexta a noite ela aceitou sair comigo. Fomos ao parque e depois a uma sorveteria. Era divertido está assim, alegre, com uma menina bonita e feliz, mas aquilo não durou de mais. Ainda na sorveteria a voz começou a sussurrar coisas no meu ouvido. Dizia que eu devia levar ela pra casa logo ou sair imediatamente dali, pois se eu ficasse algo ruim iria acontecer. Pedi licença pra moça e fui ao banheiro. Lá molhei meu rosto e me olhei no espelho. Vi o demónio no reflexo e me molhei de novo, ele desapareceu. “Estou bem, é só mais uma noite normal” pensei “e não posso deixar essa voz me controlar”. Voltei pra mesa e terminei o sorvete.

- Venha comigo dá uma volta no parque. Tenho uma coisa que quero lhe mostrar – ela me disse.

Demos as mãos e saímos pelo gramado baixo. Ela falava sobre suas obrigações de uma forma irônica e eu tentava, realmente tentava, prestar atenção naquilo tudo, mas algo preocupava minha mente.

- Acho que estamos longe de mais do resto das pessoas Ferdinanda – eu disse.

- Mas essa é a intenção Miguel. Pra te mostrar o que quero mostrar temos que esta longe de todo mundo – falou me olhando nos olhos.

Chegou cada vez mais perto e me beijou. Fiquei sem ação e ela fez o trabalho por mim: pegou minha mão e fez com que eu apalmasse nos seios dela, que eram bem grandes por sinal. Me tranquilizei nesse instante e deixei que nossas línguas dançassem e se chupassem despreocupadamente. Fiquei excitado e sabia que ela também estava.

Nós deitamos na grama, ela em cima de mim, e começou o amor realmente. Ela pulava. Eu sabia que ela era uma moça de família, mas também sabia que era uma moça safada e que já tinha transado com vários outros homens. Eu não ligava pra isso, mas tinha quem ligasse, principalmente nós dois ali, no meio no mato, havia quem ligasse. Deixei todos os pensamentos ruins de lado e me concentrei nos peitões dela.

Ficamos ali por um longo tempo, até que de rabo de olho vi uma sombra. Me assustei e parei de repente.

- Tem alguém ali – eu disse olhando pras árvores.

- Acho que não Miguel. Esta tudo bem, ninguém vem aqui a essa hora da noite. Vem, continua.

Continuamos a transar.

Ela estava certa, não havia ninguém ali, ninguém que ela pudesse ver pelo menos. Vi de novo, mas dessa vez não criei alarde. Um velho de terno velho e uma mascara de bode, esse era o meu demônio. Esse era o dono da voz que atormentava o meu juízo, era quem não me deixava dormir a noite, era o ser que eu guardava dentro de mim por tanto tempo. Ele olhava nossa transa com um pedaço de pau na mão e eu tentava ignora-lo. Fechei os olhos, mas ele me disse:

- Não adianta Miguel, eu não vou embora.

Abri meus olhos e vi que ele andava em nossa direção. Ferdinanda estava pulando freneticamente e nem percebia meu olhar de medo, medo de que o passado volte à tona.

- Ai Miguel. Miguel que gostoso - ela falava entre um gemido e outro.

- Você sabe onde isso vai terminar – disse o demônio já do nosso lado. Eu o encarava com ela em cima – O assassino que há em você não pode, nunca pôde, resistir a uma vadia safada. Seus crimes do passado sempre volta nas noites de alegria, pois tu sabes que transar com um cadáver é um ato demoníaco. Tu sabes que matar a família que tanto te ama e que fez tudo por te é algo terrível. Tu sabes que és um demônio. Agora criou essa ilusão, me criou, na tentativa de jogar a culpa em alguém. Você é ridículo. Agora levante-se e cumpra seu destino.

- Não sou um monstro seu demônio maldito.

Joguei Ferdinanda pro lado e pulei em cima do velho. Ele era mais alto e mais forte, mas eu não podia sucumbi as tentações dele, tinha que mata-lo ou ela acabaria morta. Caímos no chão e começamos a nós esmurrar. Eu sabia que aquilo era loucura visto de fora, pois nos olhos da moça eu estava rolando no chão sozinho, mas cada soco do demônio doía e fazia meu sangue escorrer.

Depois de três socos bem dados por ele o inevitável se fez e eu estava no chão, tremendo de dor. O demônio se levantou e me olhou com desprezo. Se agachou pra pela aquele pedaço de pau e disse:

- Como tu podes ser tão fraco e eu tão forte e sermos, nós dois, um só ser?

Eu gemia no chão e ele me deu um ultimo chute, senti que ia desmaiar, mas antes consegui ouvir algumas ultimas palavras do demônio.

- Se tu não faz o que deve fazer eu faço por te.

Olhei para aquela pobre moça indefesa e ela ficou sem entender nada. Pra ela eu estava apenas falando frases sem sentido ao vendo, ela não podia entender, ninguém podia, ninguém além de Miguel e eu, o demônio.

- Miguel? O que foi isso? Você está bem?

- Agora estou. E em breve tu vai estará também, estará em paz pra todo o sempre.

- O que você vai fazer?

Pulei em cima dela e ela nem teve tempo de dar um passo se quer. Dei-lhe socos e aquele rosto, antes angelical, se transformou numa massa de carne esfolada e sem forma definida. Ela gritava: “Socorro! Socorro!”, e eu sabia que ninguém iria aparecer para ajuda-la naquele lugar e aquela hora da noite. Aquilo me fez sorrir. Peguei o pau com as duas mãos e comecei a bater nela com tudo. No terceiro golpe ela já não gritava mais.

Acordei e vi aquela cena brutal. O demônio batia sem pena na pobre coitada. Me levantei, mas me senti tonto de mais para fazer qualquer coisa. O demônio olhou para mim. Tirou a mascara de bode e me revelou um sorriso alegre que ia de orelha a orelha.

- O que você fez? - perguntei mesmo vendo a resposta na minha frente.

- O seu trabalho, como sempre - respondeu ainda com o sorriso.

- Como podes sorrir? Desgraçado.

- Desgraçados. A culpa disso tudo é tanto minha quanto sua. Não venha querer ser vitima aqui.

Ele veio até mim de braços abertos. Me abraçou.

- Eu sei que tudo isso é muito difícil para você, mas eu estou aqui. Eu protejo você – ele sussurrou em meu ouvido.

Fiquei com nojo e vontade de mata-lo por um instante, mas a cena daquela linda moça morta cruelmente e a sensação de que eu era o culpado, mesmo sem me lembrar de nada, me acalmaram. Chorei diante de toda aquela loucura.

- Agora vamos pra casa limpar sua roupa.

Ele segurou minha mão e com a outra fui enxugando minhas lagrimas. Deixamos o corpo já sem vida de Ferdinanda ali e saímos de mãos dadas pra casa.

Já em casa tomei um banho e queimei as roupas. Sentei no sofá e o demônio me chamou para um jogo de cartas que eu aceitei. Tomamos um vinho e ele passou a noite falando de como era bom sair de minha mente e ver o mundo daqui de fora.

- Às vezes eu queria ter a tua sorte e poder me prender em um canto bem longe daqui – eu disse e dei um trago no vinho.

JMichel
Enviado por JMichel em 23/05/2017
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