Visita ao Farol
Podia ver pela janela do seu quarto a luz piscante do farol ao longe. “Por que pisca se não há mais uso nenhum?” se perguntava o garoto deitado em sua cama. Passado um tempo, o piscar da lâmpada cessou. O garoto então ficou curioso.
Sem se levantar, abriu a gaveta do criado mudo ao lado da cama e retirou uma lanterna. Era sempre bom ter uma dessas guardada ao lado da cama. Apertou uma vez o botão para acende-la e outra vez para apaga-la, sempre apontando-a para o farol. Nada aconteceu. Esperançoso o menino repetiu mais uma vez. E então o farol respondeu. Uma piscadinha rápida.
E nessa brincadeira o menino passou a noite. Só adormeceu quando o dia já amanhecia e não podia mais ver a luz do farol.
Na noite seguinte, mal o sol se pôs e o menino já estava em sua cama, com a lanterna em mãos. Mais uma vez o farol respondera para si. E mais uma noite em claro passara brincando de conversar com o farol.
Na terceira noite, o processo se repetiu. Tão logo o sol se pôs e o menino já estava a subir correndo as escadas de sua casa em direção a sua cama. Mas naquela noite, o farol não acendeu. O menino então, numa mescla de decepção com raiva, passou a acender e apagar furiosamente sua lanterna até que então a lâmpada queimou. Frustrado, já ia virando-se para dormir quando ouviu duas batidinhas leves em sua janela.
Correu até ela, abriu-a, mas não viu ninguém do lado de fora. Porém, no parapeito da janela havia uma pedrinha perfeitamente esférica. Enrolada a ela, havia uma fita de cetim vermelha, com os seguintes dizeres bordados em branco: “Por que não vem me visitar?”. E então o farol piscou uma vez, a primeira naquela noite.
Excitado, o garoto pegou seu roupão, vestiu seus chinelos e cautelosamente pulou para fora da janela. Agora, o farol piscava incessantemente.
Corria pelo descampado, com o orvalho da noite presente na grama molhando seus pezinhos infantis e logo depois com areia de praia grudada aos mesmos.
Foi então que o menino viu atado ao cais, um barquinho de pequeno porte cheio de balões de festa vermelho. Balançava suavemente sob as ondas calmas do mar. Correu até ele e tão logo pode, entrou e desatou a corda. O barquinho então imediatamente começou a deslocar-se em direção ao farol que agora piscava de forma quase frenética.
O barquinho obedientemente encostou-se a beira do farol e o menino então pulou para fora. A porta estava aberta. Entrou correndo e sem perder o ritmo subiu as escadas em espiral que levavam a ponta do farol. Era uma escada longa e íngreme, mas mesmo assim o garoto não perdera se quer uma vez o fôlego nem parara para respirar.
Por fim, chegou ao fim da escada. Havia um burburinho de vozes e risos infantis, mas antes que pudesse identificar qualquer uma das crianças uma delas entrou a sua frente e disse sorrindo:
- Bem vindo ao seu novo lar!
Foi então que percebeu que todas as crianças ali eram iguais a si. Todas com o mesmo cabelo, o mesmo roupão, o mesmo chinelo. Algumas brincavam, outras dormiam, outras folheavam gibis, mas todas idênticas a si.
Então uma delas mais a frente se aproximou do menino e puxou-o pela mão, conduzindo-o a um interruptor.
- Sua vez de acender o farol. – disse ela.
Ao longe o menino via o barquinho voltando… E uma lanterna piscando na janela de seu quarto.