O altar
- Monsieur Antoine, é chegada a hora!
Antoine vestiu a túnica negra sobre as alvas roupas bem passadas. Desceu os lances de escada que levavam a antessala do templo. Entrou. O pórtico era ricamente ornado. A porta assemelhava-se a carvalho velho e a fechadura, de ferro, tinha como puxador uma grande argola. Bateu três vezes de uma maneira peculiar e foi respondido, de igual, pelo guardador interno.
Dois homens o escoltaram. Trajavam túnicas de igual negro, mas sobre a cabeça levavam capuzes que ocultavam suas identidades. Vinte e cinco passos foram dados até o altar, separado do restante do templo em pequena elevação acessível por um degrau.
No altar, uma mesa coberta por seda negra e uma mulher encontrava-se despida e com as pernas abertas. Três velas faziam uma meia lua três centímetros acima de sua cabeça.
O templo era mal iluminado, por velas espalhadas em castiçais ao longo da sala. Uma cruz estava pintada no ventre nu da mulher. Monsieur Antoine deu início ao ritual balbuciando um bizarro cântico em latim, seguido pelos demais encapuzados que se encontravam ali. O som e as palavras que eram cantadas cortaram o silêncio sepulcral que o antecedera. A atmosfera, propiciada pelo cheiro e a luz bruxuleante das velas, lembrava uma masmorra medieval.
Desenrolou, Monsieur Antoine, de um tecido branco o que parecera ser uma hóstia. Levando a ao alto, tal qual um sacerdote católico, a depositou ao centro da sala. Os demais encapuzados se dirigiram ao centro. A cuspir sobre ela e pronunciar infâmias, o líder daquele ritual bizarro pronunciava, em latim, uma espécie de chamado.
Dirigiu-se a mulher e, com uma adaga de prata, tirou-lhe a vida.
Materializou-se, a esquerda do altar, um ser com patas de carneiro, corpo feminino e cabeça de bode. Sua barriga era protuberante, como se estivesse grávido.
Em coro, o ser demoníaco que acabara de se apresentar era saudado por todos. Dirigiu-se ao centro do altar, agachou-se com as pernas abertas e deu à luz a uma criança de cabelos negros, olhos azuis e pele alva. Ele trazia no peito um sinal tal qual uma cruz invertida.
Era o anticristo.