A HERANÇA ESQUISITA

A HERANÇA NEFASTA

Puta merda! Meu amado tio era rico, ainda me acordaram às cinco e meia da manhã para eu ficar ciente de que precisava tomar posse da minha herança. É claro, estava muito triste pelo meu tio, porque era mais ou menos a figura mais próxima do que seria um pai para mim, mas depois de saber, no escritório, que deixou tudo para os filhos e eu só recebera, dentro de um vaso de porcelana, suas cinzas... Nunca pedi nada ao meu tio, estou cheio de dívidas, mas nunca pedi e ele nunca me ofereceu ajuda. Gostar assim?! Ele dizia que gostava de mim, mas se gostasse mesmo, tinha feito de tudo para eu andar para frente e, pelo contrário, nunca moveu uma palha ao meu favor. Ele estava presente em quase todos os meus aniversários, tocava muito bem vários instrumentos e fazia a alegria das festas. Mas era assim: eu só o via praticamente uma vez por ano. Bem, já morreu, já cumpriu a passagem pela Terra, a missão que lhe foi concedida e, por isso, devemos deixar os mortos em paz. A morte faz com que tenhamos respeito por eles. Eles já não estão mais aqui!

Peguei minha herança e não podia esconder a cara de decepção. Meus primos me olhavam com uma disfarçada expressão de deboche, com sorriso cínico nas pontas dos lábios. Não gosto de me sentir otário aos olhos dos outros e quase bati neles todos, mas pelo meu tio, apesar de ele não merecer, eu me controlei, despedi-me educadamente e saí do escritório.

"O que farei com as cinzas?" Pensava eu, deitado na cama, olhando para o vaso de porcelana a minha frente, na penteadeira. Foi quando vi um vulto de homem se aproximar, quis correr, mas não conseguia mover nenhum músculo, por medo e por uma força além da minha vontade.

- Sobrinho! Na verdade, você não é meu sobrinho, é meu filho. Desculpa revelar assim de maneira abrupta, é porque não há mais tempo... Sua mãe sempre me pediu para que eu jamais contasse a verdade a você, mas agora que estou morto e ela também, não há sentido em omitir os fatos. Amei muito sua mãe, porém ela nunca aceitou nenhum tipo de auxílio meu, nem que eu o fizesse por você. Contudo, este não é o caso agora. Estas cinzas são muito poderosas. Há outra coisa de que você não tem conhecimento: eu era um grande mago e todo conhecimento está guardado em quase uma centena de pergaminhos, que aloquei em pequenas caixas de metal e postas dentro do tronco de algumas árvores da minha floresta nativa como: Barbatimões, Sibipirunas. Paineiras, Ipês Rosas e Cambuís. Você deve correr para achá-los, pois meus parentes ambiciosos não pouparão as árvores, e há outros magos de índole duvidosa, atrás deste tesouro. A partir de hoje, você será um homem rico de dinheiro, porque rico de coração você já é. E tome cuidado, quando for resgatar os pergaminhos na floresta, porque irá deparar-se com uma legião de pequenos demônios e inimigos de carne e osso. Eles costumam surgir depois da meia noite. Sempre que entrar em apuros, jogue minhas cinzas, pois elas têm poderes mágicos. Cumpra esta missão de maneira exígua! Sua vitória está garantida!

E sumiu no ar, deixando-me livre para pensar se a visão foi alucinação provocada por estresse, ou se tudo era verdade.

Resolvi partir para as terras do meu tio, com meu velho fusca meia nove, antes, quando peguei a mochila, vi que estava cheia e pesada, ao abri-la quase caí para trás com tantos maços de dinheiro.

Numa clareira, já na cidade, lá pelas bandas de Friburgo, achei uma casinha modesta, senti que deveria ficar lá. Ao entrar, uma sopa quentinha e deliciosa me esperava com um bilhete ao lado do fogão antigo: "Parabéns! Primeira etapa cumprida!"

Cogitei ligeiramente a possibilidade de ser uma brincadeira de mau gosto dos meus primos, mas mudei de ideia, duas horas depois, ao ver e experimentar a dolorosa mordida na mão direita, de um demônio pequeno e "brincalhão", surgindo por detrás da primeira árvore achada, e que continha um dos pergaminhos.

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Muito obrigada pela leitura!