O ESTRANHO CASO DO CAIXEIRO VIAJANTE
Seu Honório era um velho senhor que andava pelas cidades do interior vendendo suas mercadorias. Todo mundo o conhecia. Carregando uma enorme mala surrada, ele ia batendo de porta em porta, oferecendo seus produtos às pessoas. Dentro de sua velha mala havia de tudo. Vidros de cola, passagens de ônibus, lâminas de barbear, escovas, tesouras, livros, lanternas, lixas de unha, artigos de toucador, guardas-chuva, etc. Muita gente comprava seus produtos mais por enfado do que por necessidade. Geralmente o faziam só para se livrarem dele, pois o velho mascate era realmente um sujeito muito insistente. Se percebia algum interesse por alguma das suas mercadorias, não largava o cliente enquanto ele não comprava.
As donas de casa se divertiam com as fábulas e promessas que ele contava e fazia. Ás solteiras e viúvas prometia maridos que logo seriam encontrados se comprassem determinado produto seu, ás vezes um perfume, uma langerie, um batom etc.Ás casada prometia a eterna fidelidade de seus maridos se usassem determinada água de colônia, se fizessem determinada comida com tal tempero etc. E à noite também era visto pelos bares noturnos, incomodando os bêbados e os boêmios com suas estórias e promessas malucas.
Uma dessas promessas era a de que qualquer pessoa poderia encontrar na sua mala justamente o produto que ela estava precisando. E melhor, que ele sabia exatamente o que cada cliente precisava para resolver suas vidas.
Claro que todo mundo levava isso na conta de pilhérias e esquisitices de um velho mascate. E que ele falava todas essas coisas para despertar a curiosidade das pessoas e levá-las a comprar alguma bugiganga dele.
Não obstante, às vezes, aconteciam coisas interessantes com as pessoas que compravam seus produtos. Uma delas foi o Valdir, um sujeito que ele encontrou num bar. Valdir estava desempregado há muito tempo. Despedido do ultimo emprego há mais de dois anos, em virtude da crise econômica pela qual o país passava, ele até desistira de procurar trabalho. Vivia de pequenos “bicos” feitos aqui e ali, e na maior parte do tempo se limitava a andar pelos bares, bebendo. Estava cansado de mandar currículos para todas as empresas do país e nunca recebera resposta.
Numa dessas noites, em que entrou em um bar para tomar a sua cerveja, ele encontrou lá o seu Honório. Ele já o conhecia. Achava divertidas as estórias que o velho mascate contava e achou ainda mais engraçado quando ele lhe ofereceu uma passagem de ônibus para uma determinada cidade, da qual nunca ouvira falar. Custava quase nada. E tanto insistiu para que ele ficasse com ela, que o seu Valdir acabou comprando-a. Mais não fosse só para se livrar do velho, um passeio para um lugar desconhecido lhe faria bem, pensou.
Quando chegou em casa, e abriu o computador para ver os e-mails, ele viu que estava sendo chamado para uma entrevista em uma empresa que havia gostado muito do seu currículo. . E era uma excelente oferta de trabalho. Sentou-se na cama e chorou, tal era sua alegria, pois já havia perdido a esperança de voltar ao mercado de trabalho. E foi então que ele lembrou-se da passagem de ônibus que o velho mascate lhe vendera. Quando viu para onde era, quase enfartou com a surpresa! Pois era exatamente para a cidade onde ficava a empresa que lhe fizera a oferta!
Helena, uma moça de trinta e cinco anos, vários noivados desfeitos e outros casos de amos mal resolvidos também resolveu comprar um dos produtos milagrosos do seu Honório. Milagre ou coincidência, ela casou-se dois meses depois disso e confessava a todos que, afinal, tinha encontrado o homem da vida dela.
Outro caso estranho foi o de um homem conhecido pelo nome de Carlão. Esse era um sujeito difícil. Brigão, mal humorado, desagradável, um péssimo caráter. Vivia agredindo as pessoas, zombando de todos, se aproveitando da sua força física e do medo que inspirava nos mais fracos para auferir vantagens sobre elas. Estava sempre tirando algo de alguém.
Uma noite, quando o velho mascate ofereceu-lhe uma tesoura, dizendo que esse era exatamente o produto que ele iria precisar naquela noite, o valentão só faltou agredi-lo. Só não o fez por causa da idade do velho Honório.
“Para que vou querer essa porcaria, seu velho idiota?”, respondeu ele, com desprezo e mal disfarçada impaciência. Empurrando com violência o ancião, saiu do bar cambaleando, pois já estava praticamente bêbado.
Carlão morava sozinho num antigo prédio quase em ruínas. Há muito tempo que ninguém fazia manutenção nos elevadores. E o seu apartamento ficava no último andar. Cambaleante, entrou no elevador desengonçado e apertou o botão do seu andar. Tão bêbado estava, que não notou que a sua gravata ficara presa num vão da porta.
Quando o elevador começou a subir, ele sentiu que o seu pescoço estava sendo violentamente puxado para baixo. Tentou desesperadamente desenroscar a gravata, mas bêbado como estava, seus esforços foram em vão. Com os pulmões em fogo, o pomo de Adão quebrado pelo aperto do nó que cada vez mais se estreitava, a língua que teimosamente saltava da garganta, os olhos injetados de sangue, ele foi, aos poucos perdendo a consciência. A última imagem que se formou em sua mente, antes de morrer enforcado pela própria gravata, foi o rosto do velho mascate lhe oferecendo uma tesoura.
Karina, uma prostituta que morava no mesmo prédio, encontrou o corpo pela manhã, no elevador. Antes de chamar a polícia ela olhou para os rosto do morto e não pode conter um arrepio de horror que lhe percorreu toda a espinha dorsal.
“Credo”, disse ela para si mesma, ao olhar para o rosto do Carlão, onde uma máscara de horror e espanto estava estampada. “Parece que o próprio demônio lhe arrancou a alma pelos olhos”.
Seu Honório era um velho senhor que andava pelas cidades do interior vendendo suas mercadorias. Todo mundo o conhecia. Carregando uma enorme mala surrada, ele ia batendo de porta em porta, oferecendo seus produtos às pessoas. Dentro de sua velha mala havia de tudo. Vidros de cola, passagens de ônibus, lâminas de barbear, escovas, tesouras, livros, lanternas, lixas de unha, artigos de toucador, guardas-chuva, etc. Muita gente comprava seus produtos mais por enfado do que por necessidade. Geralmente o faziam só para se livrarem dele, pois o velho mascate era realmente um sujeito muito insistente. Se percebia algum interesse por alguma das suas mercadorias, não largava o cliente enquanto ele não comprava.
As donas de casa se divertiam com as fábulas e promessas que ele contava e fazia. Ás solteiras e viúvas prometia maridos que logo seriam encontrados se comprassem determinado produto seu, ás vezes um perfume, uma langerie, um batom etc.Ás casada prometia a eterna fidelidade de seus maridos se usassem determinada água de colônia, se fizessem determinada comida com tal tempero etc. E à noite também era visto pelos bares noturnos, incomodando os bêbados e os boêmios com suas estórias e promessas malucas.
Uma dessas promessas era a de que qualquer pessoa poderia encontrar na sua mala justamente o produto que ela estava precisando. E melhor, que ele sabia exatamente o que cada cliente precisava para resolver suas vidas.
Claro que todo mundo levava isso na conta de pilhérias e esquisitices de um velho mascate. E que ele falava todas essas coisas para despertar a curiosidade das pessoas e levá-las a comprar alguma bugiganga dele.
Não obstante, às vezes, aconteciam coisas interessantes com as pessoas que compravam seus produtos. Uma delas foi o Valdir, um sujeito que ele encontrou num bar. Valdir estava desempregado há muito tempo. Despedido do ultimo emprego há mais de dois anos, em virtude da crise econômica pela qual o país passava, ele até desistira de procurar trabalho. Vivia de pequenos “bicos” feitos aqui e ali, e na maior parte do tempo se limitava a andar pelos bares, bebendo. Estava cansado de mandar currículos para todas as empresas do país e nunca recebera resposta.
Numa dessas noites, em que entrou em um bar para tomar a sua cerveja, ele encontrou lá o seu Honório. Ele já o conhecia. Achava divertidas as estórias que o velho mascate contava e achou ainda mais engraçado quando ele lhe ofereceu uma passagem de ônibus para uma determinada cidade, da qual nunca ouvira falar. Custava quase nada. E tanto insistiu para que ele ficasse com ela, que o seu Valdir acabou comprando-a. Mais não fosse só para se livrar do velho, um passeio para um lugar desconhecido lhe faria bem, pensou.
Quando chegou em casa, e abriu o computador para ver os e-mails, ele viu que estava sendo chamado para uma entrevista em uma empresa que havia gostado muito do seu currículo. . E era uma excelente oferta de trabalho. Sentou-se na cama e chorou, tal era sua alegria, pois já havia perdido a esperança de voltar ao mercado de trabalho. E foi então que ele lembrou-se da passagem de ônibus que o velho mascate lhe vendera. Quando viu para onde era, quase enfartou com a surpresa! Pois era exatamente para a cidade onde ficava a empresa que lhe fizera a oferta!
Helena, uma moça de trinta e cinco anos, vários noivados desfeitos e outros casos de amos mal resolvidos também resolveu comprar um dos produtos milagrosos do seu Honório. Milagre ou coincidência, ela casou-se dois meses depois disso e confessava a todos que, afinal, tinha encontrado o homem da vida dela.
Outro caso estranho foi o de um homem conhecido pelo nome de Carlão. Esse era um sujeito difícil. Brigão, mal humorado, desagradável, um péssimo caráter. Vivia agredindo as pessoas, zombando de todos, se aproveitando da sua força física e do medo que inspirava nos mais fracos para auferir vantagens sobre elas. Estava sempre tirando algo de alguém.
Uma noite, quando o velho mascate ofereceu-lhe uma tesoura, dizendo que esse era exatamente o produto que ele iria precisar naquela noite, o valentão só faltou agredi-lo. Só não o fez por causa da idade do velho Honório.
“Para que vou querer essa porcaria, seu velho idiota?”, respondeu ele, com desprezo e mal disfarçada impaciência. Empurrando com violência o ancião, saiu do bar cambaleando, pois já estava praticamente bêbado.
Carlão morava sozinho num antigo prédio quase em ruínas. Há muito tempo que ninguém fazia manutenção nos elevadores. E o seu apartamento ficava no último andar. Cambaleante, entrou no elevador desengonçado e apertou o botão do seu andar. Tão bêbado estava, que não notou que a sua gravata ficara presa num vão da porta.
Quando o elevador começou a subir, ele sentiu que o seu pescoço estava sendo violentamente puxado para baixo. Tentou desesperadamente desenroscar a gravata, mas bêbado como estava, seus esforços foram em vão. Com os pulmões em fogo, o pomo de Adão quebrado pelo aperto do nó que cada vez mais se estreitava, a língua que teimosamente saltava da garganta, os olhos injetados de sangue, ele foi, aos poucos perdendo a consciência. A última imagem que se formou em sua mente, antes de morrer enforcado pela própria gravata, foi o rosto do velho mascate lhe oferecendo uma tesoura.
Karina, uma prostituta que morava no mesmo prédio, encontrou o corpo pela manhã, no elevador. Antes de chamar a polícia ela olhou para os rosto do morto e não pode conter um arrepio de horror que lhe percorreu toda a espinha dorsal.
“Credo”, disse ela para si mesma, ao olhar para o rosto do Carlão, onde uma máscara de horror e espanto estava estampada. “Parece que o próprio demônio lhe arrancou a alma pelos olhos”.