O assassinato de Lílian Ligéia
A insônia me fazia virar de um lado para outro na cama e minha conciência pesada como chumbo esmagava minha tranquilidade. Na noite anterior, mais precisamente na sexta feira, assim como de costume, fui até uma taverna, próxima de minha casa, em uma colina de ventos refrescantes de uma região pouco povoada, afogar em álcool, devaneios de minha conduta perturbada.
A música que tocavam, animada e alta, fazia as pessoas presentes, muitas delas, embriagadas, dançar, sorrir, gritar e aplaudir.
Eu apenas observava de longe, com olhar acuado e imaginativo, enquanto esvaziava minha caneca de vinho. Lá pela quarta ou quinta avistei Lílian Ligéia, tomando uma bebida parecida com suco de laranja, talvez com um pouco de rum.
Nós nos conhecíamos, creio que há pelo menos dois anos, e sabia que ela me admirava e tinha amor pela minha pessoa.
Num estado iminente entre loucura, embriaguês e conciência nossos olhares se cruzaram, e me aproximei . Não lembro exatamente o que disse ao seu ouvido, apenas lembro que saímos imediatamente daquele recinto excessivamente barulhento, e fomos até meu carro, estacionado em uma rua sem saída, trezentos metros adiante.
Após adentrar ao veículo e checar que as portas estavam devidamente travadas eu revelei para Lílian que o olhar que seus olhos refletiam me causavam terror e pânico. Ela sem entender nada ficou boquiaberta, e também não deixei que proferisse palavra alguma.
Fechei meu punho e com um golpe certeiro, quebrei lhe o nariz e entre lágrimas e sangue escorrendo, um soluçar de um choro piedoso apenas ouvi o balbuciar indignado das seguintes palavras:
"O que é isso seu monstro?"
Nada disse, e violentamente agarrei-lhe o pescoço apertando com toda minha força, enquanto meus dentes mordian-lhe os decotes exaltados e arrancava-lhe os mamilos. Ela sacudia seu corpo frágil tentado em vão se livrar de minhas garras. Enquantos gemia, eu sentia seus batimentos cardíacos cada vez mais acelerados e sua boca espumando saliva, até que não mais respirava...
Ela já não fazia mais parte do mundo dos vivos e então adormeci agarrado com o corpo da defunta e só acordei quando os primeiros raios de sol varriam as sombras da madrugada.
O que me encheu de tremor no entanto não foi ter assassinado Lílian, fiquei feliz por faze-lo. O que tem me amaldiçoado a alma foi ter acordado sozinho no carro, constatando que misteriosamente o cadáver de Ligéia havia desaparecido.