O BONECO

1

– Daniele joga fora isso.

– Não mãe...

– Eu já disse pra você jogar essa coisa no lixo.

Luana encostou o ouvido nos lábios do boneco, como se ele falasse com ela.

– Mãe, o senhor Kevin disse que não gosta de você.

Daniele puxou o boneco de seus braços. Ela não gostava daquilo.

– Mãe, por favor não, ele é meu amigo.

– Esse boneco está fedendo e todo destruído. Aonde você achou ele.

– Ele me disse pra não falar.

– Ah é! Então ele vai ficar calado dentro do lixo.

A garota que não tinha mais que sete anos de idade, se abaixou e começou a chorar.

Daniele passou a cozinha e foi direto para o quintal, aonde enfiou o boneco no primeiro cesto de lixo que encontrou.

2

Daniele acordava geralmente as cinco da madrugada para aprontar sua marmita, se arrumar, tomar um banho e sair de casa as sete para o serviço no centro. Porém, naquela noite quando acordou, o boneco estava ao seu lado, com o rosto a sua frente. Ela se assustou a princípio, jogando-o para longe. Dani nunca quis admitir, mas nunca gostou de bonecos, desde sua infância, eles sempre lhe apavoravam.

Luana acordou ao ouvir o barulho da cabeça do boneco batendo conta a parede.

– Kevin... não...

Luana abriu o quarto de sua mãe e a encontrou em pé, com uma expressão que ia de apavorada para nervosa, boneco estava do outro lado do cômodo. A força do impacto rachou sua cabeça no meio.

– Não Kevin...

– Que merda essa menina. Eu tinha jogado ele fora. Está me ouvindo.

– Não fui eu.

– Não minta pra sua mãe Luana.

Daniele pegou o chinelo.

– Agora você vai aprender a me obedecer.

Dani saltou da cama furiosa e caminhou na direção do boneco. Através dos olhos dele, era possível ver o reflexo dela agredindo a filha com diversas palmadas. O boneco que antes tinha uma expressão vazia, alternou-se para um rosto com um sorriso largo.

3

– Luana, desce! O almoço já está pronto.

Dani não teve resposta.

– Luana. – Repetiu, novamente sem retorno.

– Filha você está ai em cima.

Daniele chamava Luana acreditando que a mesma estava n quarto já que de onde ela estava era possível ouvir uma serie passos em seu quarto. No segundo que Daniele subiu pós o pé na escada para subir para o quarto de Luana, um barulho alto e forte ocorreu, era quase como se tivesse estourado uma bomba. Chegando no segundo andar, a porta do quarto de Luana estava fechada.

– Luana, você fechou a porta.

– O que eu disse sobre fechar a porta.

– Abre a porta agora Luana, se não quando a mãe entrar vai levar uma surra.

Dani encostou o ouvido na porta.

– Há... há... – Sussurrou uma voz fina e grave.

Daniele tentou arrombar a porta, contudo neste momento...

– Mamãe o que está fazendo? – Falou Luana, surgindo atrás dela.

Neste momento a porta abriu.

– Luana, filha. Aonde você estava.

– Eu avisei mãe. Eu estava brincando com a Erica no quintal, a vizinha.

Dani abriu a porta de seu quarto e logo quando entrou encontrou um pedaço de pano no chão. Passaram-se dias e ela havia ficado curiosa sobre aquilo. Logo ela descobriu com um colega de uma firma de costura que aquele tecido não era fabricado no Brasil.

4

– O Kevin só quer brincar, ele é legal, mas não conta pros seus pais.

– Aonde ele está esse Kevin que você tanto fala? – Perguntou Erica.

Luana se levantou e apontou para a janela de seu quarto.

– Olha ele ali.

Erica olhou para a janela de seu quarto e viu uma figura deformada, um tipo de criatura, de olhos vermelhos, que não parava de encara-la. Logo em seguida ela saiu correndo.

– O que foi. Você não gostou dele.

5

Uma semana depois, Luana brincava na calçada quando viu diversas viaturas de polícia paradas na casa de Erica. Dias depois sua mãe lhe contou que toda a família que morava ao lado havia sumido, se deixar rastros.

– Kevin só queria brincar.

Daniele entreolhou Luana, pois começara a notar diversas coisas estranhas ocorrendo. Tudo começou desde o dia que jogou o boneco na parede. Naquele dia Daniele voltou a seu quarto para joga-lo fora, mas ele havia sumido.

– Mamãe... eu estou com medo...

– Porque filha!

– Kevin não gosta de você.

– Filha. Kevin não existe, ele é apenas uma fantasia, uma criação.

– Ele não gosta quando falam isso.

Após Luana falar aqui, Daniele sentiu algo empurrar sua cadeira, foi um empurrão tão forte que a derrubou, e por não mais que um segundo, quando ela virou o rosto para o final do corredor, havia uma sombra pequena subindo as escadas.

6

Naquela mesma noite, Daniele se preparava para dormir, quando a luz da casa acabou, e em seguida Luana começou a gritar do seu quarto.

– Não Kevin. Não, não, não...

Luana se levantou e colocou os pés no chão. Neste momento ouviu uma voz.

– Ela é minha!

Então algo começou a puxar seus pés para debaixo da cama. Ela começou a gritar, pois suas pernas estavam sendo dilaceradas pelo que pareciam ser pequenas navalhas, era uma dor excruciante, ela sentia sua carne sendo rasgadas e também mordida, como se estivessem arrancando-lhe pedaços. Momentos depois uma poça de sangue emergiu de debaixo da cama.

Inesperadamente ela conseguiu se soltar. Dani estava com pijama branco totalmente sujo de sangue.

Quando conseguiu se levantar, ela olhou para a perna direita que era a que mais doía e notou que sua panturrilha encontrava-se estraçalhada, era possível ver até o osso da perna.

Enquanto ela tentava andar cambaleando, uma sombra se voltou sobre suas costas.

– Não vai escapar.

Daniele chegou no corredor, porém acabou tropeçando nos próprios pés e caiu de bruços no chão. Ela se arrastou até a porta do quarto de Luana, gritando.

– Luana...

– Alguém... socorro...

– Socorro...

Mas ninguém ouviu seus gritos.

Após conseguir se aproximar o suficiente para abrir a porta do quarto de Luana, algo subiu em suas costas.

Luana gritava de seu quarto.

– Não, minha mãe não. Kevin... por favor...

Daniele esticou a mão na direção da porta do quarto, mas naquele exato momento, algo penetrou em sua coluna. Ela sentiu a lamina da faca perfura-la, em seguida uma chuva de facadas... até que uma mão penetrou no buraco que havia feito nas suas costas e arrancou seu coração. A última imagem que Daniele teve foi a sombra unilateral do boneco, segurando no coração.

Em seguida só houve silencio, um silencio total e enfim as luzes voltaram, entretanto, nem o corpo de Dani, nem Luana estavam mais na casa.

Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 04/05/2017
Reeditado em 04/05/2017
Código do texto: T5989697
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