Casa 59
Jack é um garoto tímido e solitário. Sem amigos com quem pudesse conversar, vivia trancado em seu quarto cercado por amigos imaginários, criados para suprir sua necessidade de socializar.
Ele caminhava com a cabeça baixa e os passos ligeiros em direção a sua casa, a mochila em suas costas estava rasgada. Olhou na direção de um grupo de adolescentes; quatro meninos e duas meninas. O mais alto do grupo tinha as laterais da cabeça raspadas. Jack voltou o olhar para o chão, entristecido. O garoto com as laterais da cabeça raspadas cutucou o garoto ao lado e apontou para Jack.
- Jack. - Chamou ele.
- Eu?
- Tem outro Jack aqui? - Disse com um largo sorriso.
Todos os outros gargalharam.
- Você quer entrar para o nosso grupo?
- Entrar para o seu grupo? - Surpreso.
- É.
O garoto deu alguns passos em sua direção.
- Sei que você não tem amigos. Mas primeiro teria que nos dar uma prova de sua coragem. - Olhando rapidamente para os seus amigos.
- Que prova? - Abrindo um largo sorriso.
- Você vai ter que entrar na casa 59 com uma filmadora.
- Essa é a casa dos barulhos estranhos. - Temeroso.
- Está com medinho? - Caçoou um garoto de olhos verdes.
- Não. - Fechando a cara. - E para provar vou agora mesmo.
Jack se encheu de coragem e seguiu até a casa 59, poucos metros à frente. Uma menina loira tirou uma filmadora de dentro da mochila rosa que carregava e a entregou a ele assim que chegaram em frente a casa. Jack deu uma olhada na parte externa da residência e jogou a mochila no chão.
Respirou fundo e girou a maçaneta, fazendo ecoar um chiado agudo. Não havia nada de anormal. A sala era extensa e os móveis antigos estavam cobertos por lençóis brancos. Ligou a filmadora e gravou o cômodo por alguns instantes.
- Não tem nada de anormal aqui. Não sei porque tive medo desse lugar por tanto tempo.
O chão de madeira rangia sob seus pés. Um calafrio percorreu sua espinha e seu corpo todo tremeu.
- Que sensação horrível. - Sussurrou.
Um som perturbador ecoou, algo parecido com um gemido engasgado. Jack girou sobre os tornozelos, apavorado. Não havia nada.
- Vocês ouviram isso? - Filmando seu rosto.
Seus olhos percorreram a casa freneticamente, suor deixava suas mãos escorregadias. Voltou a lente da filmadora para frente e seguiu por um corredor com várias portas, dispostas em ambos os lados. Sentiu um vento frio soprar sobre sua pele. Suor molhava sua testa e a gola da camiseta.
Um sussurro lamuriento ecoou em seus ouvidos, os pelos de seus braços se eriçaram, e girou a maçaneta de uma das portas a sua direita. Era um quarto de casal. Respingos de sangue manchavam o lençol branco sobre a cama. Jack aproximou a filmadora da mancha de sangue.
- Esse sangue está fresco! - Cutucando o lençol com a ponta do dedo. - Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas já chega.
Deu alguns passos em direção a porta, mas algo o fez parar. Sentiu como se uma mão tivesse agarrado seu braço, no entanto não havia nada. Um vulto passou atrás do garoto e ele se virou. Estava sozinho. A filmadora desligou por um instante. "Você não está sozinho", a frase surgiu na tela da filmadora. Jack sentiu um nó se formar em sua garganta.
Uma risada maldosa se dissipou pelo quarto e diversos vultos escuros começaramna dançar ao seu redor. Jack queria gritar, pedir por socorro, mas algo impedia que sua voz saísse. Alguns rostos distorcidos surgiram em sua frente, flutuantes. Jack deu alguns passos cambaleantes para trás e desabou.
O peito do garoto subia e descia num ritmo frenético. Sua respiração era forçada e ofegante. A filmadora havia parado de gravar. Os vultos serpentearam sobre ele e Jack começou a desferir socos, tentando afastá-los. Se levantou com um salto e arremessou a filmadora contra um dos vultos, fazendo-a se chocar contra a parede.
Disparou em direção à porta e a abriu com um movimento ligeiro. Uma criatura desfigurada, de pele negra e enrugada, cicatrizes de diversos tamanhos e espessuras no rosto e alguns poucos dentes apodrecidos, surgiu em sua frente encarando-o com os olhos vermelhos como sangue.
Jack deu vários passos para trás, olhando para a criatura, boquiaberto e com os olhos arregalados.
- Ele está demorando. Será que aconteceu alguma coisa com ele? - Disse a garota loira, apreensiva.
- É melhor irmos embora, antes que sobre para nós. - Disse o garoto com as laterais da cabeça raspadas.
A porta da casa se abriu abruptamente e um corpo foi lançado.
- Ô meu Deus! - Exclamou a menina loira, levando as mãos à boca.
Eles se aproximaram do corpo e o giraram. Jack estava com os olhos arregalados e a boca como se fosse gritar. O garoto com as laterais da cabeça raspadas olhou para a casa.
- O que foi que eu fiz. - Disse em um tom muito baixo.
- O que vamos fazer agora? - Perguntou o menino de olhos verdes, assustado.
- Vamos deixar ele aí e dar o fora daqui.
- E a filmadora? - Perguntou a garota loira.
- Deve estar na casa. Ninguém vai saber que fomos nós que o mandamos lá dentro.
- Ele tem razão. Vamos embora daqui. - Concordou o garoto de olhos verdes.
Os adolescentes correram para longe e o corpo de Jack ficou estirado em frente a casa 59.