A VINGANÇA DO PRETO VELHO
Que não se pense outra coisa do que vou contar porque não há nada de psicológico nesta história, a não ser o fato de que existem muitas coisas no mundo que a nossa mente não consegue entender. E isso, creio, é muito natural, pois não conseguimos ainda descobrir noventa e nove e nove por cento dos segredos que a natureza oculta. E por ter descoberto um por cento do que ela esconde, nós pensamos que somos criaturas de muita sabedoria.
Mas já houve quem dissesse que o fantástico é apenas uma manifestação das leis naturais, manifestação essa que não pode ser entendida pela nossa mente, pois ela ainda não domina os códigos necessários para que possamos desvendá-las. E por não termos essa capacidade de entendimento, classificamo-las como sobrenaturais, assombrosas, extraordinárias. Mas no fundo, como dizia Einsten, se noventa e nove por cento do universo ainda é desconhecido para nós, talvez aquilo que chamamos de sobrenatural seja, de fato, apenas a parte de uma verdade que ignoramos.
Não tenho muito respeito pela chamada ciência da psicologia. Se tivesse, se eu acreditasse nas descobertas de Freud, por exemplo, talvez eu chegasse á conclusão que eu odiava o meu pai porque ele dormia com a minha mãe e depois, que eu passei a odiar minha mãe porque tinha ciúme dela com aquele maldito preto velho que ela insistia em manter em cima de uma mesinha na sala da nossa casa.
Sim, o preto velho era apenas uma estátua. Uma pequena estátua de cerca de cinqüenta centímetros, que representava um velho negro, com cara de sertanejo, ou escravo, sentado em um banquinho, fumando um cachimbo. Era uma dessas estátuas que a gente compra em qualquer loja de artigos de umbanda, e que representa um desses arquétipos do folclore umbandista, designativo da sabedoria afro que se deposita em pessoas velhas e com sofridas experiências de vida. Toda cultura tem isso. No oriente, a sabedoria sempre é iconizada em velhos manchús com suas longas barbas brancas, assim como no ocidente a velhice, com seus cabelos brancos, é pintada como depositária da mais lídima sapiência, que um jovem deve respeitar e um homem deve perseguir.
Já nos cultos de origem afro, o preto velho assumiu a característica de um gênio tutelar. Representa o corpo fluídico dos velhos escravos que sofreram muito em suas vidas, e por conta disso sabem como minorar os sofrimentos dos seres vivos que pedem a sua ajuda. Dizem que ele pode entrar no corpo das pessoas e guiá-las com a luz de suas sabedorias.
Minha mãe certamente acreditava nisso. Por isso mantinha aquele Pai João, como ela o chamava, na mesinha da sala, cercado por velas, que ela acendia toda sexta-feira, defumadores, incensos, ramos de arruda e o indispensável copo com água que ela colocava aos pés do negro velho, para que, segundo ela, ele a benzesse.
Eu odiava tudo aquilo. Primeiro porque a minha mãe parecia dar mais importância ao danado do negro velho do que a mim. Meu pai morrera quando eu tinha dez anos de idade e meu irmão mais velho já estava casado e morava em outra cidade. Assim, éramos só eu e ela. Só tínhamos um ao outro nessa vida, e eu, então um rapaz de vinte anos, supunha que o maior interesse dela fosse eu. É claro que sempre suspeitei que ela andasse “costurando para fora” como se dizia na gíria da época, mas se o fez, foi com muita discrição, porque nunca tive a certeza disso. Mas ela era uma mulher ainda jovem quando enviuvou, e se não se casou de novo, nem assumiu nenhum relacionamento aberto, de alguma forma ela deve ter se virado, por que freira ela não se tornou, disso até hoje eu tenho certeza.
Aliás, foi um tal de Orestes, um pai de santo macumbeiro e vigarista que meteu na cabeça dela essas crenças umbandistas. E ele, ao que eu soube era um baita galinha, que não perdoava nem perna de mesa. E foi ele também que deu para a minha mãe aquela estátua do preto velho e disse para ela acender, toda sexta-feira, uma vela em frente ao negrinho e botar um copo de água para ele benzer. E toda quarta-feira ela ia visitá-lo na tenda que ele mantinha na casa dele.
Não sei se era o meu inconsciente edipiano, que associava a estátua daquele preto velho com o curandeiro Orestes, e a desconfiança de que ele andava pegando a minha mãe, mas o fato é que eu, desde o primeiro dia em que aquela estátua entrou em casa, adquiri por ela um ódio visceral. O cheiro nauseabundo do sebo daquelas velas queimando, junto com odor forte do incenso e dos defumadores, e a visão daquele negro velho fumando aquele cachimbo infecto, tudo isso me levava ao paroxismo do ódio contra aquele iconizinho medonho que, a meu ver, além de representar o atraso intelectual que nos chumbava áquela vida miserável, também empesteava o nosso miserável barraco, não só com uma visão constrangedora de cemitério, com aquelas velas, incensos e flores murchas, como também impregnava todo o ambiente com aquele cheiro insuportável, como se a nossa sala fosse uma tenda de umbanda.
Um dia, depois de uma briga feia com a minha mãe, eu disse tudo o que pensava a respeito daquelas crenças e principalmente do culto que ela prestava aquele horroroso ídolo que fazia a nossa casa parecer um terreiro de macumba. Disse-lhe que ela não se livrasse daquele maldito preto velho, e daquelas miçangas nojentas, eu iria embora para sempre e ela não me veria nunca mais. E eu não estava falando em vão. Ir embora de casa era um pensamento que eu acalentava já há algum tempo.
Em face de uma postura tão radical, minha mãe não teve outra escolha. Afinal, nós só tínhamos um ao outro neste mundo. E era eu quem sustentava a nossa casa. Sei quanto o coração dela deve ter sangrado por ter que se livrar do preto velho, que eu não consenti nem que ficasse no quintal, em um pequeno altar que ela preparara para ele. E da dor e da tristeza que ela deve ter experimentado quando eu peguei um martelo, quebrei o maldito ídolo em vários cacos e joguei tudo no lixo.
A paz voltou á nossa casa. Durante pelo menos uns dois anos, minha mãe e eu convivemos em uma absoluta relação de amor e carinho, que uma mãe amorosa e um filho respeitoso devem manter. Nesse ínterim, ela havia mudado muito. Esquecera aquelas crenças que eu taxava de atrasadas e supersticiosas e havia se tornado evangélica. Menos mal, pois ler a Bíblia todos os dias e acreditar que ela contém as palavras de Deus não é nenhum incômodo quando isso não faz da pessoa um fanático que acha que quem não acredita no que ele acredita vai direto para o inferno. Minha mãe não era fanática. Pelo menos nunca forçou a barra em cima de mim para que eu a acompanhasse ao culto, nem ficava repetindo as lições que ouvia do seu pastor, como se elas contivessem a única verdade do mundo. Limitava-se a dizer que Deus sabe de tudo e a gente não sabe o que diz nem o que faz.
Quanto a mim, nada mudou a não ser os sonhos esquisitos que passei a ter desde então. Eram sonhos recorrentes. Sempre iguais no conteúdo, embora ás vezes, as nuances mudassem. Era um sonho no qual eu sempre estava lutando contra alguma coisa que eu não conseguia distinguir bem o que era. No sonho eu era uma espécie de cavaleiro medieval, tipo São Jorge, que lutava contra alguma coisa parecida com um dragão. Ás vezes eu cortava a cabeça daquela coisa com minha espada, outras vezes era uma perna, um braço, uma orelha, uma mão. E cada vez que eu olhava para o membro, ou para a parte decepada, eram os meus próprios braços, pernas, orelhas e mãos que eu via, ali no chão, ensangüentadas, rijas e mortas como corpos mutilados numa batalha infernal.
Foi logo depois que comecei a ter esses sonhos que minha mãe adoeceu. Tuberculose, disseram os médicos que tentaram curá-la, sem êxito. Ela morreu três meses depois de diagnosticada a doença. Na noite em que ela morreu eu tive novamente um daqueles horríveis sonhos. Aconteceu tudo igualzinho aos anteriores. Eu lutei contra aquela coisa, e desta vez arranquei, com a minha espada, o coração do maldito.
“Agora” pensei “esse monstro está liquidado”. E foi então que corri para pegar o coração, que estava ali, no chão, ensangüentado, pulsando como uma bomba relógio prestes a explodir. Pretendia cortá-lo em mil pedaços e depois enterrá-lo o mais fundo possível. Mas antes que eu o pegasse, eis que surge ele, o preto velho, e o arrebata na minha frente, como se fosse um troféu que nós estivéssemos disputando há muito tempo.
“Vim buscar o que é meu”, disse ele, com um sorriso demoníaco, de dentes puídos e hálito pestilento, que tinha um odor de velas de sebo e covas abertas, onde membros decepados de cadáveres insepultos se amontoavam numa infernal e nauseabunda pilha de carne e ossos deteriorados.
Suando, com o coração aos saltos, e uma angústia mortal a oprimir-me a mente, corri ao quarto da minha mãe. Ela estava morta. E em cima da cômoda, cercada por defumadores, incensos, ramos de arruda e diversas velas novas, recentemente acesas, a iluminar-lhe o rosto satânico lá estava ela, a maldita estatueta do preto velho.
Eu nunca descobri quem acendera aquelas velas, pois minha mãe já estava morta há mais de seis horas. Nem como aquela estatua viera parar ali, pois na noite anterior, quando fui ao quarto da mãe, para ver como esta estava, não havia nada ali. Não foi a minha mãe que a colocou ali, pois já ha mais de semana ela não conseguia se levantar da cama.
Porém, o que eu nunca esqueci, e que ainda hoje preenche os meus sonhos com um horror sem medida foi o sorriso satírico e perverso que havia nos lábios dele. Era um maldito sorriso de quem havia sido vingado.
Que não se pense outra coisa do que vou contar porque não há nada de psicológico nesta história, a não ser o fato de que existem muitas coisas no mundo que a nossa mente não consegue entender. E isso, creio, é muito natural, pois não conseguimos ainda descobrir noventa e nove e nove por cento dos segredos que a natureza oculta. E por ter descoberto um por cento do que ela esconde, nós pensamos que somos criaturas de muita sabedoria.
Mas já houve quem dissesse que o fantástico é apenas uma manifestação das leis naturais, manifestação essa que não pode ser entendida pela nossa mente, pois ela ainda não domina os códigos necessários para que possamos desvendá-las. E por não termos essa capacidade de entendimento, classificamo-las como sobrenaturais, assombrosas, extraordinárias. Mas no fundo, como dizia Einsten, se noventa e nove por cento do universo ainda é desconhecido para nós, talvez aquilo que chamamos de sobrenatural seja, de fato, apenas a parte de uma verdade que ignoramos.
Não tenho muito respeito pela chamada ciência da psicologia. Se tivesse, se eu acreditasse nas descobertas de Freud, por exemplo, talvez eu chegasse á conclusão que eu odiava o meu pai porque ele dormia com a minha mãe e depois, que eu passei a odiar minha mãe porque tinha ciúme dela com aquele maldito preto velho que ela insistia em manter em cima de uma mesinha na sala da nossa casa.
Sim, o preto velho era apenas uma estátua. Uma pequena estátua de cerca de cinqüenta centímetros, que representava um velho negro, com cara de sertanejo, ou escravo, sentado em um banquinho, fumando um cachimbo. Era uma dessas estátuas que a gente compra em qualquer loja de artigos de umbanda, e que representa um desses arquétipos do folclore umbandista, designativo da sabedoria afro que se deposita em pessoas velhas e com sofridas experiências de vida. Toda cultura tem isso. No oriente, a sabedoria sempre é iconizada em velhos manchús com suas longas barbas brancas, assim como no ocidente a velhice, com seus cabelos brancos, é pintada como depositária da mais lídima sapiência, que um jovem deve respeitar e um homem deve perseguir.
Já nos cultos de origem afro, o preto velho assumiu a característica de um gênio tutelar. Representa o corpo fluídico dos velhos escravos que sofreram muito em suas vidas, e por conta disso sabem como minorar os sofrimentos dos seres vivos que pedem a sua ajuda. Dizem que ele pode entrar no corpo das pessoas e guiá-las com a luz de suas sabedorias.
Minha mãe certamente acreditava nisso. Por isso mantinha aquele Pai João, como ela o chamava, na mesinha da sala, cercado por velas, que ela acendia toda sexta-feira, defumadores, incensos, ramos de arruda e o indispensável copo com água que ela colocava aos pés do negro velho, para que, segundo ela, ele a benzesse.
Eu odiava tudo aquilo. Primeiro porque a minha mãe parecia dar mais importância ao danado do negro velho do que a mim. Meu pai morrera quando eu tinha dez anos de idade e meu irmão mais velho já estava casado e morava em outra cidade. Assim, éramos só eu e ela. Só tínhamos um ao outro nessa vida, e eu, então um rapaz de vinte anos, supunha que o maior interesse dela fosse eu. É claro que sempre suspeitei que ela andasse “costurando para fora” como se dizia na gíria da época, mas se o fez, foi com muita discrição, porque nunca tive a certeza disso. Mas ela era uma mulher ainda jovem quando enviuvou, e se não se casou de novo, nem assumiu nenhum relacionamento aberto, de alguma forma ela deve ter se virado, por que freira ela não se tornou, disso até hoje eu tenho certeza.
Aliás, foi um tal de Orestes, um pai de santo macumbeiro e vigarista que meteu na cabeça dela essas crenças umbandistas. E ele, ao que eu soube era um baita galinha, que não perdoava nem perna de mesa. E foi ele também que deu para a minha mãe aquela estátua do preto velho e disse para ela acender, toda sexta-feira, uma vela em frente ao negrinho e botar um copo de água para ele benzer. E toda quarta-feira ela ia visitá-lo na tenda que ele mantinha na casa dele.
Não sei se era o meu inconsciente edipiano, que associava a estátua daquele preto velho com o curandeiro Orestes, e a desconfiança de que ele andava pegando a minha mãe, mas o fato é que eu, desde o primeiro dia em que aquela estátua entrou em casa, adquiri por ela um ódio visceral. O cheiro nauseabundo do sebo daquelas velas queimando, junto com odor forte do incenso e dos defumadores, e a visão daquele negro velho fumando aquele cachimbo infecto, tudo isso me levava ao paroxismo do ódio contra aquele iconizinho medonho que, a meu ver, além de representar o atraso intelectual que nos chumbava áquela vida miserável, também empesteava o nosso miserável barraco, não só com uma visão constrangedora de cemitério, com aquelas velas, incensos e flores murchas, como também impregnava todo o ambiente com aquele cheiro insuportável, como se a nossa sala fosse uma tenda de umbanda.
Um dia, depois de uma briga feia com a minha mãe, eu disse tudo o que pensava a respeito daquelas crenças e principalmente do culto que ela prestava aquele horroroso ídolo que fazia a nossa casa parecer um terreiro de macumba. Disse-lhe que ela não se livrasse daquele maldito preto velho, e daquelas miçangas nojentas, eu iria embora para sempre e ela não me veria nunca mais. E eu não estava falando em vão. Ir embora de casa era um pensamento que eu acalentava já há algum tempo.
Em face de uma postura tão radical, minha mãe não teve outra escolha. Afinal, nós só tínhamos um ao outro neste mundo. E era eu quem sustentava a nossa casa. Sei quanto o coração dela deve ter sangrado por ter que se livrar do preto velho, que eu não consenti nem que ficasse no quintal, em um pequeno altar que ela preparara para ele. E da dor e da tristeza que ela deve ter experimentado quando eu peguei um martelo, quebrei o maldito ídolo em vários cacos e joguei tudo no lixo.
A paz voltou á nossa casa. Durante pelo menos uns dois anos, minha mãe e eu convivemos em uma absoluta relação de amor e carinho, que uma mãe amorosa e um filho respeitoso devem manter. Nesse ínterim, ela havia mudado muito. Esquecera aquelas crenças que eu taxava de atrasadas e supersticiosas e havia se tornado evangélica. Menos mal, pois ler a Bíblia todos os dias e acreditar que ela contém as palavras de Deus não é nenhum incômodo quando isso não faz da pessoa um fanático que acha que quem não acredita no que ele acredita vai direto para o inferno. Minha mãe não era fanática. Pelo menos nunca forçou a barra em cima de mim para que eu a acompanhasse ao culto, nem ficava repetindo as lições que ouvia do seu pastor, como se elas contivessem a única verdade do mundo. Limitava-se a dizer que Deus sabe de tudo e a gente não sabe o que diz nem o que faz.
Quanto a mim, nada mudou a não ser os sonhos esquisitos que passei a ter desde então. Eram sonhos recorrentes. Sempre iguais no conteúdo, embora ás vezes, as nuances mudassem. Era um sonho no qual eu sempre estava lutando contra alguma coisa que eu não conseguia distinguir bem o que era. No sonho eu era uma espécie de cavaleiro medieval, tipo São Jorge, que lutava contra alguma coisa parecida com um dragão. Ás vezes eu cortava a cabeça daquela coisa com minha espada, outras vezes era uma perna, um braço, uma orelha, uma mão. E cada vez que eu olhava para o membro, ou para a parte decepada, eram os meus próprios braços, pernas, orelhas e mãos que eu via, ali no chão, ensangüentadas, rijas e mortas como corpos mutilados numa batalha infernal.
Foi logo depois que comecei a ter esses sonhos que minha mãe adoeceu. Tuberculose, disseram os médicos que tentaram curá-la, sem êxito. Ela morreu três meses depois de diagnosticada a doença. Na noite em que ela morreu eu tive novamente um daqueles horríveis sonhos. Aconteceu tudo igualzinho aos anteriores. Eu lutei contra aquela coisa, e desta vez arranquei, com a minha espada, o coração do maldito.
“Agora” pensei “esse monstro está liquidado”. E foi então que corri para pegar o coração, que estava ali, no chão, ensangüentado, pulsando como uma bomba relógio prestes a explodir. Pretendia cortá-lo em mil pedaços e depois enterrá-lo o mais fundo possível. Mas antes que eu o pegasse, eis que surge ele, o preto velho, e o arrebata na minha frente, como se fosse um troféu que nós estivéssemos disputando há muito tempo.
“Vim buscar o que é meu”, disse ele, com um sorriso demoníaco, de dentes puídos e hálito pestilento, que tinha um odor de velas de sebo e covas abertas, onde membros decepados de cadáveres insepultos se amontoavam numa infernal e nauseabunda pilha de carne e ossos deteriorados.
Suando, com o coração aos saltos, e uma angústia mortal a oprimir-me a mente, corri ao quarto da minha mãe. Ela estava morta. E em cima da cômoda, cercada por defumadores, incensos, ramos de arruda e diversas velas novas, recentemente acesas, a iluminar-lhe o rosto satânico lá estava ela, a maldita estatueta do preto velho.
Eu nunca descobri quem acendera aquelas velas, pois minha mãe já estava morta há mais de seis horas. Nem como aquela estatua viera parar ali, pois na noite anterior, quando fui ao quarto da mãe, para ver como esta estava, não havia nada ali. Não foi a minha mãe que a colocou ali, pois já ha mais de semana ela não conseguia se levantar da cama.
Porém, o que eu nunca esqueci, e que ainda hoje preenche os meus sonhos com um horror sem medida foi o sorriso satírico e perverso que havia nos lábios dele. Era um maldito sorriso de quem havia sido vingado.