Feitiço do Coração Ensanguentado
Fui para a casa da minha avó visitá-la. Como de costume, todo sábado a tarde passava em sua humilde residência, para conversar com ela. Era viúva do meu velho avô que trabalhava na roça, em troca de um mísero salário mínimo, mas chegou um dia que o pobre coitado embarcou para uma terra distante e desconhecida.
Bom... Naquele dia, era apenas mais uma visita rotineira na casa da velha e admito que secretamente sempre aproveitava a oportunidade de saborear algum doce, pudim, bolo, quindim ou qualquer saboroso quitute que suas habilidosas mãos de cozinheira preparavam. Curiosamente, neste dia ela sorridente me recebeu trazendo em suas frágeis mãos um coração humano, escorrendo sangue e ainda fazendo movimentos repetidos. Imagino que o recém defunto dono do orgão ainda vertia sangue e deveria ter a temperatura exata de uns vinte graus celsius a mais que a temperatura ambiente, e um termometro indicaria naquela ocasião de tarde de outono, uns 20° C. Eu boquiaberto, me impressionei, mas não com a chocante cena, e sim com as seguintes palavras que aquela boca proferiu:
- Sua mãe não quis mais viver e pediu que eu te oferecesse seu próprio coração e te desse de beber o sangue... Venha meu netinho, colhi o sangue dela em uma jarra e aproveite que está quente ainda. Venha saborear... Verás que não deves fazer uma desfeita a quem tem pariu!
Uma risada diabólica ecoou pelas montanhas...
Fixei meus olhos no obscuro olhar maligno da velha e sem mencionar palavra alguma, ela me convidou a entrar na cozinha. Vi sobre a mesa, o cadáver. Morta minha mãe já estava, e com os olhos ainda abertos. Na parede ao lado li a seguinte escritura, redigida com sangue:
"É com as ordens do grande demônio que ofereço a você, meu filho querido, meu coração e meu sangue. Entre no circulo mágico e aceite o que vovó te oferece. Adeus meu querido."
E mais uma vez, obediente como sempre, segui essas instruções. O referido círculo, de fato estava desenhado no chão e ao entrar nele, minha avó me entregou o coração, tão logo como um vicking, o devorei, tal como faria com um lanche do gordão em um momento de fome. Era delicioso. Após comer, recebi uma jarra de vidro com sangue e em cada gole sentia-me como um perdido no deserto sem agua por muitos dias, entretanto o sabor do sangue trazia uma sensibilidade alcólica semelhante a encontrada no verde conteúdo do absinto. Me entorpeci com sangue materno dentro do circulo mágico e em seguida recebi um pergaminho de um bezerro virgem que uma jovem vaca levara em seu ventre, escrito as seguintes palavras:
"Juro perante ao grande demônio que o remunerarei durante o prazo de treze anos por todos os bens que me concederá."
É... fui obrigado a ler, caso contrário minha vovózina arrancaria minha cabeça com um machado que ela segurava e o texto prosseguia:
"Lúcifer, dirigente de todos os anjos rebeldes, suplico que conceda vossa aprovação ao convite que me proponho a fazer a vosso grande ministro, pois é meu desejo fazer com ele um grande pacto."
Eu recitei essas palavras meus amigos, e diante de mim surgiu o demônio invocado.
Naquele momento enquanto eu tremia e sentia ardor em meus olhos, devido a imaculada névoa de íons trazida das trevas, surgiu diante de mim o tal ser demoníaco. Não tinha chifres nem rabo, e também não trazia com si o cheiro de enxofre que tanto se fala. Era uma mulher de cabelos castanho escuro, baixa e magra, exalando o suave aroma do raro perfume Cabana Night Clube.
Então, dispensando apresentações e cumprimentos, apenas me disse:
“Pronto querido. Você está livre agora para realizar todos os seus desejos e ser feliz!”
Após dizer essas palavras a criatura desapareceu. Minha avó caiu morta no chão, e foi imediatamente absorvida pelo piso, da mesma forma que uma esponja absorve líquidos. O cadáver da minha mãe se transformou em pó e eu assoprei pela cozinha. Todo sangue que estava espalhado pelo chão e incrustado nas paredes curiosamente se limpou. Minha cabeça começou a doer e eu desmaiei, e quando acordei, estava fugindo da policia em um 4X4 pelas estradas do Texas, acompanhado de uma linda garota. Seu nome, eu não posso falar, já que sua mãe protetora não pode nem imaginar que eu existo. Um dia eu conto que ela é...