O Homem sem Face surgiu, altivo, na chamada Rua da Baderna.
Eram bares, uns colados nos outros, mas basicamente vendiam às mesmas coisas. Petiscos, mascarando drogas do mais baixo teor.
Eram dez da noite, e um violeiro tocava músicas de Luís Gonzaga. Mas de uma maneira triste que não permitia aos casais, unir seus ventres e dançar no meio da rua.
A música parou, subitamente.
As pessoas se viraram, algumas desmaiaram, algumas riram confusas, crianças gargalharam. Outras levaram as duas mãos tapando as faces boquiabertas, num grito mudo de susto. Não havia nada, era uma cabeça careca e lisa, sem rosto, num corpo magro e bem vestido. Havia apenas uma pequenina profundidade, onde estariam os seus olhos.
Seria um extraterrestre? Um monstro? Um filme de Stephen King, estaria sendo rodado em câmeras escondidas, afim de filmar e reproduzir... o verdadeiro horror?
Ele andava devagar e acenava para as pessoas, tirando repetidas vezes sua cartola da cabeça, numa reverencia amistosa e antiquada. Estava todo de preto e de terno e gravata, mas os seus pés estavam descalços. Sua pele era extremamente albina... e ele usava uma bengala, que mexia caprichosamente, assim como Chaplin.
A multidão estava muda, travada. Todos os pés, fincados no chão.
As crianças tinham seus olhos tapados pelas mães, mas queriam muito vê-lo e pareciam não se incomodar muito com ele. Como se o assombro diante do Homem sem Face, fosse algo de gerações passadas e de gente velha e careta.
Uma menina de vestidinho amarelo soltou-se dos braços da mãe e correu até ele e o abraçou...
"Seja bem-vindo!", ela disse, meiga e doce e com muita sinceridade, pois não via problema - ora bolas -, num homem sem face.
Foi então que o primeiro homem se indignou...
Foi até o homem sem rosto e o pegou pelo colarinho dando-lhe um forte sopapo no que seriam, suas bochechas.
Outros chegaram, vieram com pressa, e a surra começou. O Homem sem Face ajoelhou-se diante de um soco no estômago, seguido de um murro forte, onde seria o nariz.
Seus gestos com as mãos e tremores desesperados, pediam, imploravam perdão.
Mais de seis homens passaram a chutar seu estômago, braços, peitos, pernas, alma, coração. E muitos juram de pé junto ter visto rios de lágrimas caindo e deslizando pela tábua rasa, fazendo uma leve pausa no queixo, pra depois ganhar o chão.
O Homem sem Face era único. E, portanto, Homens sem Face, jamais serão vistos de novo. Fora extinto ali, agonizando.
Dizem que lá pelas tantas da madrugada, a chuva arrastou seu sangue até a balaustrada. E que era um sangue azul brilhante, quase fluorescente. Talvez sangue de deuses.
Mas ninguém mais se importava
Eram bares, uns colados nos outros, mas basicamente vendiam às mesmas coisas. Petiscos, mascarando drogas do mais baixo teor.
Eram dez da noite, e um violeiro tocava músicas de Luís Gonzaga. Mas de uma maneira triste que não permitia aos casais, unir seus ventres e dançar no meio da rua.
A música parou, subitamente.
As pessoas se viraram, algumas desmaiaram, algumas riram confusas, crianças gargalharam. Outras levaram as duas mãos tapando as faces boquiabertas, num grito mudo de susto. Não havia nada, era uma cabeça careca e lisa, sem rosto, num corpo magro e bem vestido. Havia apenas uma pequenina profundidade, onde estariam os seus olhos.
Seria um extraterrestre? Um monstro? Um filme de Stephen King, estaria sendo rodado em câmeras escondidas, afim de filmar e reproduzir... o verdadeiro horror?
Ele andava devagar e acenava para as pessoas, tirando repetidas vezes sua cartola da cabeça, numa reverencia amistosa e antiquada. Estava todo de preto e de terno e gravata, mas os seus pés estavam descalços. Sua pele era extremamente albina... e ele usava uma bengala, que mexia caprichosamente, assim como Chaplin.
A multidão estava muda, travada. Todos os pés, fincados no chão.
As crianças tinham seus olhos tapados pelas mães, mas queriam muito vê-lo e pareciam não se incomodar muito com ele. Como se o assombro diante do Homem sem Face, fosse algo de gerações passadas e de gente velha e careta.
Uma menina de vestidinho amarelo soltou-se dos braços da mãe e correu até ele e o abraçou...
"Seja bem-vindo!", ela disse, meiga e doce e com muita sinceridade, pois não via problema - ora bolas -, num homem sem face.
Foi então que o primeiro homem se indignou...
Foi até o homem sem rosto e o pegou pelo colarinho dando-lhe um forte sopapo no que seriam, suas bochechas.
Outros chegaram, vieram com pressa, e a surra começou. O Homem sem Face ajoelhou-se diante de um soco no estômago, seguido de um murro forte, onde seria o nariz.
Seus gestos com as mãos e tremores desesperados, pediam, imploravam perdão.
Mais de seis homens passaram a chutar seu estômago, braços, peitos, pernas, alma, coração. E muitos juram de pé junto ter visto rios de lágrimas caindo e deslizando pela tábua rasa, fazendo uma leve pausa no queixo, pra depois ganhar o chão.
O Homem sem Face era único. E, portanto, Homens sem Face, jamais serão vistos de novo. Fora extinto ali, agonizando.
Dizem que lá pelas tantas da madrugada, a chuva arrastou seu sangue até a balaustrada. E que era um sangue azul brilhante, quase fluorescente. Talvez sangue de deuses.
Mas ninguém mais se importava