Círculo vicioso
Karina abriu a porta do quarto com um movimento brusco e enfurecido.
- Você é um canalha!
Seu marido adentrou o quarto logo atrás, assustado. Karina ficou de costas para a porta e cruzou os braços sobre o peito.
- Me escute, por favor.
- Eu já te escutei muito.
- Meu amor, não faz isso comigo.
- Amor? - Virando-se para olhá-lo, incrédula. - Você que não podia ter feito isso comigo mais uma vez.
Ele desviou o olhar para o lado e soltou um suspiro.
- Eu te amo, Karina. Aquilo não significou nada para mim.
- Mais uma vez não significou nada? Então por que você continua me machucando?
- Eu não queria te machucar, acredite em mim. Eu bebi demais e não sabia o que estava fazendo.
- Desculpas, desculpas, desculpas. Você não se cansa de inventar sempre uma história nova? Não coloque a culpa na bebida. - Pausa. - Você não vale nada. Não sei porque aceitei me casar com você.
- Não me trate assim. Eu cometi um erro e me arrependo por isso. - Desviando o olhar para o chão.
- Será que se arrepende mesmo?
- Claro que sim. - Seu olhar parecia sincero.
- Você não se arrendende. Só está dizendo isso para que eu o perdoe.
- Não Karina.
- Eu já te perdoei muitas vezes, mas dessa vez já chega. Estou cansada das suas aventuras.
Os olhos dele se arregalaram em um misto de surpresa e temor.
- Você não pode me deixar. Não pode fazer isso comigo.
Ele avançou em sua direção, mas ela se esquivou.
- Karina, por favor, me dê outra chance. Prometo que nunca mais irei te trair.
- Tarde demais. Você disperdiçou sua última chance. - Irredutível.
- Não Karina, as coisas vão ser diferentes agora, prometo.
- Não acredito mais nas suas promessas vazias.
- Eu não consigo viver sem você, não quero viver sem você. Você é a única pessoa que amei na vida.
- Quem ama não trai. - Sua voz soou ríspida. - Não sei que tipo de amor você sente por mim, mas estou cansada. Não suporto mais olhar para sua cara.
- É só uma fase, tudo vai passar.
- Está na hora de quebrar esse círculo vicioso que o nosso casamento se tornou.
- Você não pode estar falando sério? - Abrindo um sorriso nervoso.
- Estou. Nosso casamento acabou. Você jogou nossa história no lixo.
- Por favor, não me deixe. - Ajoelhando-se aos seus pés.
- Não faça isso. Aceite.
- Nunca! - Levantando-se num sobressalto. - Se você passar por aquela porta eu me mato.
- Pare de falar besteira. - Abrindo um ligeiro sorriso e meneando a cabeça.
- Não é besteira, estou falando sério. Se você me abandonar eu me mato.
- Hugo pare com isso. Você não vai se matar. - Sua expressão ficou séria.
- Eu estou avisando. Passe por aquela porta e estará assinando minha sentença de morte.
- Não tente fazer chantagem emocional.
- Se essa for a única saída para você não me abandonar, pois que seja.
- Você é patético.
- Você não vai se separar de mim, não vou permitir.
- E vai fazer o quê? Me acorrentar na cama para sempre?
- Se for preciso. Estou te oferecendo a opção de ficar comigo por vontade própria, mas se não aceitar terei que ser mais radical. - Um olhar doentio surgiu em seu rosto.
- Você está me assustando. - Dando alguns passos para trás.
- Não tente fugir, vai ser pior para você. - Avançando em sua direção.
- Você não quer fazer isso.
- Eu realmente não quero, mas você não me dá outra opção. - Acariciando o rosto da esposa.
Seu olhar era triste, mas ao mesmo tempo psicótico. Ela o atingiu com um tapa no rosto, suas unhas abriram pequenos rasgos em sua pele, e disparou pela casa. Hugo urrou e a perseguiu, encurralado-a na cozinha.
- Hugo pare com isso. Você não é assim. - Sentia as lágrimas queimarem seus olhos, enquanto o via se aproximar como um animal feroz.
- Está enganada. Esse é realmente quem sou.
- Não. - Pausa. - Eu te perdôo.
- Agora você me perdoa? Você brincou comigo e agora vai pagar por isso.
- Eu não brinquei com você.
- Brincou! - Berrou estridente.
Karina tateou o balcão do armário, buscando algo em que pudesse se apoiar.
- Você será minha para sempre. - Sua respiração era forte sobre a pele de sua esposa.
- Eu serei, eu serei. - Desesperada.
- É claro que será.
Ele aproximou o rosto do pescoço da esposa e cheirou seu perfume.
- Só nos seus sonhos.
Fechou a mão no cabo de uma faca sobre a bancada e o golpeou no abdômen. A lâmina rasgou sua pele profundamente e ele grunhiu espantado.
- Você... Você... - Engasgando-se no próprio sangue.
Seu corpo desabou no chão e seus olhos se fixaram em sua esposa assassina.
- Como você...
Soltou um último suspiro e sua cabeça tombou. Karina deixou a faca cair no chão e levou as mãos no rosto.
- O que você me obrigou a fazer? Seu idiota! - Chutando suas pernas. - Olhe o que você fez comigo!
Se prostrou ao lado do corpo de seu marido e as lágrimas riscaram suas bochechas.