O carro
Passava das duas da manhã. Juliana detestava dirigir a noite, mas precisava dormir em casa naquele dia. Despediu-se de Amanda e saiu. A estrada era conhecida pelos riscos de assaltos e ela não parava de imaginar cenas em que fosse roubada no caminho.
Alguns minutos após iniciar o trajeto, já em uma área rural, foi surpreendida por faróis que vinham logo atrás de seu carro. Diminuiu a velocidade, a fim de dar passagem, mas o carro, que mantinha os faróis altos, não ultrapassava.
Juliana estranhou a situação, mas não decidiu não pensar e acelerou. O carro de trás acelerou também e se manteve na sua cola. Ela começou a sentir medo, imaginando as intenções do motorista.
Seguiu viagem, acelerando ainda mais. O carro de trás mantinha-se a segui-la. De repente ela ouve um soar incessante da buzina, seguido de um piscar de faróis. Chegando numa reta, Juliana, mesmo assustada com a situação, para no acostamento. O carro de trás faz o mesmo, com os faróis desligados.
Por alguns instantes ela sente um terror invadir a sua mente e permanece inerte. Sua respiração está ofegante e sente todo o seu corpo tremer no frio daquela noite de julho. Nada acontece e o carro que a seguia permanece parado logo atrás.
Ela decide ir embora. A ideia de que o motorista do veículo que a seguia precisava de ajuda é deixada de lado, já que ele não teve nenhuma reação a sua parada.
Ele permanece seguindo-a, com os faróis apagados. Ela acelera e ele acelera junto. Já em alta velocidade, um cachorro atravessa despreocupado o caminho. Juliana desvia e seu carro desce um pequeno barranco, indo chocar-se em uma árvore.
Tudo acontece em grande rapidez. Ela toca a testa e percebe que sangra. O silêncio é quebrado pelo barulho de alguém se aproximando. Um homem alto e de aspecto bondoso sorri para ela. É o seu pai, que morrera quando ela ainda era criança.