Tragédia anunciada

- O que está acontecendo? Por que está tão distante? - Perguntou o marido, ao pé da porta.

Sua esposa estava sentada sobre a cama de costas para ele e a cabeça baixa.

- Não é nada.

- Isso não é verdade. Conte para mim, quero ajudá-la. - Sentando-se ao seu lado.

"Só se pudesse mudar o passado", pensou ela.

- Sou seu marido, pode confiar em mim. - Colocando a mão sobre seu ombro.

Sandra encarou a parede a sua frente, seus lábios tremeram tentando conter as lágrimas.

- Não sou mais quem você conheceu. - Olhando-o com profunda tristeza.

- Todos mudam, não há motivos para ficar assim.

- Você não entendeu... Não sou mais digna de sua confiança e de mais ninguém. Me tornei uma coisa que não entendo e não consigo controlar.

- Você está me assustando.

- Fuja para bem longe e nunca mais me procure. Faça isso, é para o seu próprio bem.

- Não, não vou te deixar. - Levantando-se inconformado. - Eu te amo.

- Eu também te amo, mas você tem que ir embora. É o melhor para nós dois.

- O melhor para mim é viver ao seu lado.

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Sandra e ele a abraçou, aconchegando-a em seu peito.

- Jamais ouvi palavras tão bonitas.

- São as mais verdadeiras.

- Fuja e não olhe para trás.

Ele a olhou assustado.

- Mas acabei...

- Ainda sim fuja. Se livre de mim.

- Não quero me livrar de você.

- Mas é preciso... Quem sabe algum dia eu não o encontre novamente? - Abrindo um meio sorriso.

- Você está me condenando a infelicidade.

Sandra virou o rosto, não querendo ver seu grande amor partir, mas ele não se moveu.

- Por favor, vá. - Olhando-o.

- Seus olhos. - Levantando-se apavorado. - Eles estão vermelhos!

- Vá embora agora! - Gritou.

Ele deu alguns passos cambaleantes para trás, tropeçou em uma mesa de canto e desabou, levando consigo um vaso de rosas vermelhas. Sangue começou a escorrer de sua mão. A vampira, sentindo aquela aroma inebriante, soltou um grunhido prazeroso. Ele se levantou com um salto, segurando a mão ferida. Sangue gotejou sobre o piso e a vampira se colocou em pé.

Ela soltou um berro agonizante. Seu marido ficou estático, observando-a agarrar e puxar os cabelos. Suas presas cresceram em sua boca e dois pequenos cortes se abriram em seu lábio inferior. Ela tentava controlar a fera dentro de si, não queria machucá-lo, mas sentia que estava perdendo a guerra contra seu mais novo e cruel eu.

- Suma daqui! - Sua voz soou como um rugido.

Mas ele não se moveu, seus braços tombaram ao lado de seu corpo. O horror era palpável em seu olhar. A vampira soltou um grunhido animalesco distorcido e o encarou como um predador. Voou sobre ele e seus corpos se chocaram contra o chão com um baque surdo. Rasgou seu pescoço e ele soltou um berro. Gritou por socorro, mas ninguém o ouviu.

A vampira se fartou com o seu sangue e soltou um gemido satisfeito, aquela sensação era incomparável. Se levantou com um salto, se sentia revigorada, mais jovem. E desapareceu pela porta, deixando o corpo de seu marido estirado no chão, mergulhado em uma grande poça de sangue. A besta havia se apoderado de seu corpo.

Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 03/04/2017
Reeditado em 25/11/2017
Código do texto: T5960437
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.