Doce vingança
"Meu nome? Bom não faz diferença agora qual é meu nome. Eu tenho uma história, mas ela está prestes a terminar e não quero deixar essa mancha em meu legado.
Minha derrocada começou há poucos meses, quando perdi Elene, minha doce e frágil Elene. Eles a tiraram de mim cruelmente, a arracaram de meus braços sem que pudesse fazer nada para evitar. Não consegui impedi-los, não consegui salvá-la e ela se foi e tudo o que me restou foi a saudade, um vazio em meu peito que jamais será preenchido.
Mas eles vão me pagar. Claro que vão. Jamais permitiria que a morte de minha amada ficasse sem uma punição".
Atravessou a rua deserta. A lua brilhava intensa no céu salpicado por pouquíssimas estrelas. Nenhum ruído ecoava. Uma brisa refrescante esvoaçou o casaco escuro que vestia e o cabo metálico de uma adaga reluziu, preso em suas costas.
Olhou ao redor rapidamente antes de abrir uma decadente porta de madeira embolorada. A porta soltou um chiado e o rapaz adentrou. O lugar estava completamente escuro e o ar úmido.
Puxou uma cordinha às cegas e a luz florescente de uma lâmpada se acendeu. Ele caminhou pelo cômodo, as paredes mofadas tinham um tom quase negro, até um armário metálico de duas portas encostado a parede. Abriu o cadeado com um puxão e o jogou no chão.
Escancarou as portas do armário e observou o seu interior. Livros e caixas metálicas de diversos tamanhos e formatos estavam guardados ali dentro. Puxou uma caixa com as bordas douradas e a colocou sobre uma pequena mesa quadrada. A abriu e pegou o revólver prateado em mãos.
Abriu o tambor e carregou a arma com as balas prateadas guardadas dentro da caixa. Girou o tambor e o fechou com um manejo de punho. Guardou a arma atrás das costas, resvalando a mão no cabo da adaga e guardou a caixa no lugar.
Uma fria brisa o atingiu ao atravessar a porta. Um cachorro cruzou a sua frente e ele seguiu na direção oposta. Seu maxilar estava rígido e seus punhos cerrados enquanto caminhava rumo ao seu destino. Saltou um pequeno muro e se esgueirou silenciosamente pela casa. Sua audição estava aguçada, captando o mais ínfimo ruído do interior da residência. Sorriu ao escutar a voz de seu alvo.
Mergulhou para dentro da janela de um dos quartos. Havia estudado a planta da casa tantas vezes, que poderia se mover de olhos fechados. Se escondeu atrás da porta e aguardou. Passos ecoou pelo corredor e escutou a porta sendo aberta. Um sujeito surgiu um sua frente, ele tinha os cabelos até o meio das costas negros como a noite. O rapaz deu um ligeiro passo para o lado e sua vítima saltou para trás ao vê-lo.
- Está na hora de acertar nossas contas. - Sua voz era ríspida.
Sacou a arma com um movimento ligeiro e fez um único e mortal disparo. O corpo de sua vítima se prostrou no chão, soltando um chiado. Levou a mão ao ferimento e sentiu o sangue escorrer pelo vão de seus dedos. O atirador sorriu e se virou na direção da porta. O estampido do disparo havia alertado os outros.
A porta foi colocada abaixo e ele fez mais um disparo, atingindo um homem musculoso na testa, antes de desaparecer pela janela.
Ouviu um uivo ao longe, mas não desviou o olhar. Jogou o revólver no chão e se ajoelhou em frente à lápide de quem tanto amou. "Elene Ferradoza. Filha querida e esposa amada". Lágrimas brotaram de seus olhos e seus lábios começaram a tremular.
Levou a mão sobre a boca e fechou os olhos com força. Deslizou as costas da mão pela lápide da esposa e sacou a adaga com um movimento ligeiro. A lâmina reluzia mortal sob a luz do luar. Sua mão a segurava com firmeza.
- Espero que nos encontremos onde quer que esteja, meu amor.
Acariciou o nome da esposa com os dedos ensanguentados e soltou um chiado pesaroso. Seu corpo se debruçou aos pés da lápide e seu último pensamento foi a imagem de sua esposa ao seu lado.