TERRA DOS MORTOS
Brad acordou atordoado no meio de uma floresta, mesmo tonto ele sabia onde estava, a névoa que assolava o lugar era típica e conhecida em toda a Escócia, ele estava bem no centro da Floresta de Rothiemurchus, um dos lugares mais assustadores do país.
Ele rapidamente se levantou, olhou para cima e viu que já era noite então se assustou, não se lembrava do que tinha acontecido e nem como tinha ido parar dentro da Rothiemurchus.
_Meu Deus, o que aconteceu comigo?! Ele ficava se perguntando.
Ele então começou a passar as mãos por todo o seu corpo, para ver se estava inteiro e também olhou suas roupas, que para o seu espanto estavam incrivelmente limpas.
_Tem algo errado.
Ele estava vestido com uma blusa bege de pano fino, sua calça era marrom e estava apoiada com um suspensório amarelo. Ele passou a mão por sua extensa barba que assim como o cabelo era ruiva.
Depois de se recuperar do susto de acordar no meio de uma floresta e estando aparentemente com uma amnésia, decidiu pegar seu telefone que tinha um aplicativo de bússola para sair da floresta.
_Aquele curso de escoteiro, vai servir de algo agora. Pensou enquanto enfiava as mãos no bolso para pegar o celular.
Mas para o seu desespero, o seu celular não estava no seu bolso, nem sua carteira, nem nenhum dos seus documentos. E assim que percebeu que a situação era pior do que estava imaginando um sentimento de pânico tomou conta dos seus pensamentos, então começou a olhar em volta e não nada além de árvores e mais árvores.
O vento frio que alcançava a Escócia todas as noites era torturante para Brad, ainda mais levando em conta que a sua blusa era de pano fino. Depois de passar alguns segundos se perguntando o que fazer, ele decidiu começar a andar, as histórias acerca da floresta de Rothiemurchus eram assustadoras, ele estava se sentindo extremamente ridículo, pois ele era um verdadeiro brigão de bar, passava a imagem de "machão" no bairro onde morava, mas estava se sentindo uma "donzela" indefesa no meio da floresta.
Ele caminhou durante duas horas e já estava se sentindo desconfortável e pensando que estava andando em círculos até que ele começou a escutar algumas vozes, de um lugar não muito distante de onde ele estava e nesse momento ele sentiu um leve frio na barriga e não era devido a baixa temperatura da floresta, era o medo. "Meu Deus o que será isso?!". Ele então se escondeu atrás de uma árvore e tentou observar de quem eram aquelas vozes e foi ai que ele viu um homem vestindo uma roupa parecida com a dele e uma mulher de vestido verde caminhando em direção oposta a que ele estava escondido. "O que esses dois estão fazendo aqui no meio da floresta?!".
Para acabar com a curiosidade ele resolveu seguir o homem e a mulher de longe, tomando cuidado para que eles não percebessem que estavam sendo seguidos. Depois de passar alguns minutos os seguindo de longe ele viu que os dois estavam indo em direção a uma enorme cabana de madeira, e era possível escutar de longe o som de uma música e de garrafas quebrando vindo de dentro da cabana. Então Brad abriu um sorriso e pensou "Um bar, agora estou em casa".
Brad era um verdadeiro brigão de bar, sua maior diversão era procurar uma encrenca nos bares do seu bairro, ele não tinha mulher e não tinha filhos a única família que tinha era sua mãe e seus dois tios que assim como ele adoravam uma briga.
Ao redor da cabana não tinha árvores, era como se fosse uma parte paralela da floresta, no meio do pavor de estar perdido dentro de uma floresta Brad nem mesmo se deu conta de que um bar no meio de uma floresta não era uma "coisa" muito normal e pôs se a caminhar em direção a entrada do mesmo.
A cabana tinha uma aparência abandonada as madeiras em alguns pontos já tinha sido devorada por cupins e a porta estava caindo aos pedaços, mas aquilo não fazia diferença nenhuma pra ele, só queria um lugar para relaxar, nem mesmo iria beber, pois estava sem dinheiro.
Ao entrar na cabana ele deu de cara com uma espécie de "universo paralelo", enquanto do lado de fora tudo era escuro e assustador, dentro da cabana era tudo colorido. Várias mesas de madeira com homens que vestiam roupas iguais a de Brad, alguns com chapéu, outros com a barba feita, mas todos não negavam que eram típicos escoceses, bebendo, gritando uns com os outros e a todo momento tendo uma briga prestes a eclodir.
Assim que entrou Brad deu um leve sorriso demonstrando alívio de ter encontrado um refúgio da floresta e foi se sentando em uma mesa mais afastada. A música tocada ao fundo tinha um ritmo acelerado e acústico, as garçonetes eram mulheres já mais velhas e não tinham um corpo escultural e os garçons também já eram mais velhos.
Depois de passar alguns minutos apenas observando o movimento do bar, um dos garçons se aproximou com um copo de cerveja e o repousou sobre a mesa que Brad estava e disse:
_Faça bom proveito senhor.
Brad assustado disse:
_Eu não pedi isso, eu nem tenho dinheiro, só entrei aqui por que estava perdido na floresta.
O garçom deu um sorriso como se já esperasse essa reação de Brad e disse:
_Essa é por conta do dono do bar senhor.
Brad se assustou e perguntou:
_E quem é o dono do bar?!
O garçom com um simpático sorriso apontou para um homem velho de cabelo bem penteado vestindo uma blusa social preta com suspensório e calça branca. Para a surpresa de Brad o homem estava olhando para a mesa e acenando. Brad então tentou puxar na memória se já tinha conhecido aquele homem, mas não se lembrou, ele até pensou em recusar a cerveja com medo de ser cobrado depois, mas na situação que ele se encontrava pouco importava se seria cobrado ou não, cerveja de graça um escocês que se preze não recusa, então ele apenas levantou seu copo para corresponder o aceno do dono do bar.
Assim que ele deu o primeiro gole ele viu o que seria o inicio de uma confusão, um homem jogou cerveja na cara de outro e assim ambos levantaram e começaram a se empurrar. Brad então deu um leve sorriso e quando os dois homens começaram a trocar socos e pontapés os músicos do bar aceleraram o ritmo da música. Não demorou muito para que mais pessoas entrassem na briga, e todos os que não estavam participando começaram a sorrir.
Brad estava se sentindo em casa, tudo normal até então. Só que ele se assustou ao ver que um dos homens que começaram a briga correu para dentro do balcão do bar, e o dono nem pareceu se importar, e lá ele pegou um machado e cortou a cabeça do outro com quem estava brigando. Brad se levantou assustado de sua mesa e a música do bar parou. Todos ficaram inertes aquela situação. O dono do bar se virou para o homem com o machado e disse:
_Muito bom! Temos um vencedor.
E todos começaram a bater com seus copos nas mesas e sorrirem e a música voltou a tocar. Brad ficou claramente assustado com aquela cena e ficou ainda mais espantado quando ele viu que o homem que teve a cabeça cortada ainda estava conversando:
_Seu desgraçado da próxima vez você não vai ter essa sorte. Dizia a cabeça cortada.
O dono do bar ao ver que o corpo do homem estava se agachando para por a cabeça no lugar se levantou da sua cadeira as pressas pegou a cabeça levantou na altura dos seus olhos e disse:
_Você sabe qual é a punição por perder uma briga, não sabe?!
_Eu perdi injustamente, ele usou um machado! Respondeu a cabeça cortada.
_Não existe injustiça na terra dos mortos! Respondeu o dono do bar colocando a cabeça do homem dentro de um baú de madeira.
Brad estava chocado com aquela cena, "terra dos mortos?! Isso só pode ser um pesadelo!" assim pensava ele. Assustado com o que acabara de ver, Brad largou o copo de cerveja para trás e correu em direção a saída do bar e quando abriu a porta ele deu dois passos para trás. Ao invés de sair de volta na floresta, era como se ele estivesse entrando novamente no bar, se ele olhasse para trás veria o bar e se olhasse em direção a "saída" veria o bar novamente. Aquilo deu um nó na sua cabeça.
O dono do bar percebendo que Brad parecia estar muito confuso se aproximou dele apoiou a mão direita em seu ombro e disse:
_Por que você não se senta, para que eu possa lhe explicar tudo?
Brad assustado respondeu:
_Se você encostar a mão em mim de novo eu juro que quebro todos os dedos.
O dono do bar se divertiu com a reação de Brad e respondeu:
_Não faz mal, eu não sinto dor!
Brad então assustado e vendo que não tinha como sair do bar resolveu aceitar o convite do dono do bar e se sentou na mesa em que estava.
_Então, você deve ser Brad, não estou certo?
Brad apenas assentiu com a cabeça.
_Brad, eu tenho uma má noticia para te dar... Você está morto!
Brad arregalou os olhos, e respondeu:
_Se eu estou morto, por que me sinto tão vivo?!
_Por que você está presente na terra dos mortos, e aqui todos vagam pela eternidade, você escolhe o seu destino, você podia ter ficado na floresta e caminhado mais um pouco e encontrado outro lugar, mas o primeiro lugar que você encontrou foi o meu bar e então agora você vai passar toda a eternidade com essas pessoas que estão aqui.
Brad então sentiu um leve desespero tomar conta de seus pensamentos e levianamente disse:
_Isso só pode ser um pesadelo.
Então o dono do bar se levantou da mesa sorrindo e disse:
_Se eu fosse você me acostumaria com a ideia de estar morto, mas não fique tão chateado, aqui você vai poder beber cerveja de graça para sempre.
"Para sempre", essa ideia de eternidade deixava Brad apavorado.
_E minha mãe? Meus tios? Eu não vou vê-los nunca mais?!
O dono do bar deu várias gargalhadas e respondeu:
_Isso daqui é a terra dos mortos e não uma colônia de férias, garoto!
Ao perceber a decepção de Brad ele disse:
_Se eu fosse você começaria a beber e a caçar uma briga, por que essa é a sua nova casa.
E assim que o homem terminou de falar, um grupo de pessoas pegou uma mulher a força e gritando eles diziam:
_Você vai pagar sua vadiazinha!
E a colocaram sobre uma mesa e com o machado começaram a picotar todo o corpo dela, mas a mulher não esboçava nem uma reação. Depois de terem cortado o corpo em várias partes, um dos homens do grupo disse:
_Agora você vai passar um bom tempo pra juntar seu corpo todo de novo. E fica o aviso, se mexer com a gente de novo, vamos fazer pior.
A cabeça da mulher estava cortada em três partes diferentes, enquanto a parte que estava com os olhos piscava, a parte da boca gritava:
_Seus desgraçados imundos!
Brad levou a mão na boca ao ver aquela cena e perguntou ao dono do bar que sorria ao assistir a mulher a ser picotada:
_Tem algum jeito de alguém sair daqui?
O dono do bar franziu a testa e passou a mão pelo queixo e respondeu:
_Não! Uma vez aqui dentro, nunca mais você sai!
Brad então não esboçou reação nenhuma, e o dono do bar sorrindo chamou um de seus garçons e disse:
_Serve uma bebida pra ele, e toda vez que ele acabar sirva outra e vá fazendo isso até ele se acostumar com a morte!