Um bebê achado numa lata de lixo e uma mulher que não podia ter filhos, e que ainda por cima, trabalhava num orfanato... era pra ser um encontro perfeito.
“É UM MENINO! ”, e devia ter seis ou sete meses de vida e ela o afagou e enrolou seu corpo nu e fétido num pano que guardara na bolsa. O bebê não chorava... e isso era estranho. Tinha apenas um olhar atento e fixo no rosto da mulher bondosa que subia com muito cuidado os degraus de um ônibus lotado.
Chegando no orfanato, foi cercada por suas colegas de trabalho e algumas outras crianças, todos curiosos e chocados. Uma criança posta no lixo como um objeto indesejado, inútil, um móvel desnecessário numa sala de estar qualquer. Foi fortemente acolhido por todo mundo.
O bebê tomou leite que milagrosamente brotou dos seios da mulher que não podia ter filhos... e então dormiu durante toda tarde. E todo mundo observava... todos estavam pasmos e ao mesmo tempo emocionados com a situação.
Até que anoiteceu...
Era meia noite, e todos dormiam em sono profundo. Exceto a mulher que não podia ter filhos, que apenas cochilava, acordando a todo tempo, para ver se a criança estava bem.
O bebê então abriu os olhos devagar e pôs-se a chorar pela primeira vez, deixando a mulher terrivelmente desesperada. Pegou-o no colo e cantou canções que ela ouvira na voz de sua mãe quando criança e que pareciam ter sido apagadas, mas lá estavam. Mas a criança não parou de chorar.
Colocou o bebê no peito e ele se virou furiosamente, passando a chorar com muito mais fúria, acordando todas as outras crianças do orfanato e deixando os plantonistas do dia bem irritados.
As luzes começaram a piscar como num curto circuito e um barulho estranho vinha do telhado da casa. Era como se alguém estivesse no telhado, tentando se comunicar com a parte de dentro da casa. Primeiro ouvia-se duas batidas, depois quatro batidas, seguidas novamente por mais duas batidas. “TUM, TUMP... TUM-TUMP-TUMP-TUMP... TUM, TUMP. ”.
Todos se sentaram juntos e com medo passaram a rezar. Quanto mais eles rezavam mais alto o bebê chorava e as luzes piscavam. O barulho no teto se tornava ainda mais forte e contínuo. O reboco velho das paredes começava a soltar poeira e tremer. As crianças se abraçaram e começaram a chorar baixinho.
A moça que não podia ter filhos já pensava como mãe, mas no fundo sabia que aquele bebê tinha algo de errado, apertou-o contra si, horrorizada, pois todos os funcionários e crianças num plano silencioso resolveram cerca-los, e avançavam lentamente.
Alguns até rezavam, pois, um ato de sacrifício nem sempre é realizado em prol de felicidade e prosperidade. Às vezes os sacrifícios existem para dar basta num mal, numa maldição. Uma das babás mais antigas da casa - uma senhora que já tinha mais de setenta anos e entendia dessas coisas de magia - sem muito pestanejar pegou um punhal que ela guardava na bolsa não se sabe muito bem por quê. Será que ela aguardava - por todos esses anos - a chegada do bebê para que se fizesse o sacrifício necessário? Isso na verdade, não importava. Nada mais importava ali, naquele momento, pois todos concordavam com a sentença de morte.
A mulher que não podia ter filhos gritava, se debatia, esperneava, e atacava todos que tentavam se aproximar. Mas foi em vão, e o seu bebê foi arrancado com fúria pelo único homem que ali se encontrava. Era o vigia da casa, que ao ouvir os barulhos no telhado e o piscar de luzes, que chegara a alcançar todo o quarteirão, correu para dentro preocupado com a segurança de suas crianças.
Arrancou o bebê e rapidamente entregou-o nas mãos da velha mulher pagã. E sem o menor sinal de pena, deu duas punhaladas certeiras no peito da criança maldita, que morreu rapidamente.
De joelhos, a mulher que não podia ter filhos urrava, num grito de desespero que ecoou por toda a cidade. As outras crianças do orfanato aproximaram-se dela e passaram a acariciar os seus cabelos e seus braços. Todos choravam. As luzes se acenderam. E o dia já estava quase raiando. O barulho no telhado sumiu e o orfanato voltou a funcionar como se nada tivesse acontecido, pois o silencio foi combinado em silencio.
blograstejante.blogspot.com.br
“É UM MENINO! ”, e devia ter seis ou sete meses de vida e ela o afagou e enrolou seu corpo nu e fétido num pano que guardara na bolsa. O bebê não chorava... e isso era estranho. Tinha apenas um olhar atento e fixo no rosto da mulher bondosa que subia com muito cuidado os degraus de um ônibus lotado.
Chegando no orfanato, foi cercada por suas colegas de trabalho e algumas outras crianças, todos curiosos e chocados. Uma criança posta no lixo como um objeto indesejado, inútil, um móvel desnecessário numa sala de estar qualquer. Foi fortemente acolhido por todo mundo.
O bebê tomou leite que milagrosamente brotou dos seios da mulher que não podia ter filhos... e então dormiu durante toda tarde. E todo mundo observava... todos estavam pasmos e ao mesmo tempo emocionados com a situação.
Até que anoiteceu...
Era meia noite, e todos dormiam em sono profundo. Exceto a mulher que não podia ter filhos, que apenas cochilava, acordando a todo tempo, para ver se a criança estava bem.
O bebê então abriu os olhos devagar e pôs-se a chorar pela primeira vez, deixando a mulher terrivelmente desesperada. Pegou-o no colo e cantou canções que ela ouvira na voz de sua mãe quando criança e que pareciam ter sido apagadas, mas lá estavam. Mas a criança não parou de chorar.
Colocou o bebê no peito e ele se virou furiosamente, passando a chorar com muito mais fúria, acordando todas as outras crianças do orfanato e deixando os plantonistas do dia bem irritados.
As luzes começaram a piscar como num curto circuito e um barulho estranho vinha do telhado da casa. Era como se alguém estivesse no telhado, tentando se comunicar com a parte de dentro da casa. Primeiro ouvia-se duas batidas, depois quatro batidas, seguidas novamente por mais duas batidas. “TUM, TUMP... TUM-TUMP-TUMP-TUMP... TUM, TUMP. ”.
Todos se sentaram juntos e com medo passaram a rezar. Quanto mais eles rezavam mais alto o bebê chorava e as luzes piscavam. O barulho no teto se tornava ainda mais forte e contínuo. O reboco velho das paredes começava a soltar poeira e tremer. As crianças se abraçaram e começaram a chorar baixinho.
A moça que não podia ter filhos já pensava como mãe, mas no fundo sabia que aquele bebê tinha algo de errado, apertou-o contra si, horrorizada, pois todos os funcionários e crianças num plano silencioso resolveram cerca-los, e avançavam lentamente.
Alguns até rezavam, pois, um ato de sacrifício nem sempre é realizado em prol de felicidade e prosperidade. Às vezes os sacrifícios existem para dar basta num mal, numa maldição. Uma das babás mais antigas da casa - uma senhora que já tinha mais de setenta anos e entendia dessas coisas de magia - sem muito pestanejar pegou um punhal que ela guardava na bolsa não se sabe muito bem por quê. Será que ela aguardava - por todos esses anos - a chegada do bebê para que se fizesse o sacrifício necessário? Isso na verdade, não importava. Nada mais importava ali, naquele momento, pois todos concordavam com a sentença de morte.
A mulher que não podia ter filhos gritava, se debatia, esperneava, e atacava todos que tentavam se aproximar. Mas foi em vão, e o seu bebê foi arrancado com fúria pelo único homem que ali se encontrava. Era o vigia da casa, que ao ouvir os barulhos no telhado e o piscar de luzes, que chegara a alcançar todo o quarteirão, correu para dentro preocupado com a segurança de suas crianças.
Arrancou o bebê e rapidamente entregou-o nas mãos da velha mulher pagã. E sem o menor sinal de pena, deu duas punhaladas certeiras no peito da criança maldita, que morreu rapidamente.
De joelhos, a mulher que não podia ter filhos urrava, num grito de desespero que ecoou por toda a cidade. As outras crianças do orfanato aproximaram-se dela e passaram a acariciar os seus cabelos e seus braços. Todos choravam. As luzes se acenderam. E o dia já estava quase raiando. O barulho no telhado sumiu e o orfanato voltou a funcionar como se nada tivesse acontecido, pois o silencio foi combinado em silencio.
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